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Hora de destravar Campos

Cidade está parada e lideranças afirmam que chegou o momento de sair do ponto morto e acelerar

Política
Por Marcos Curvello
5 de junho de 2017 - 0h01

acquire lioresal comercio-fechado-silvana-rust-26Uma breve volta pelas ruas de Campos mostra uma cidade ainda afetada pela crise iniciada no fim de 2014 e agravada pela queda do preço do petróleo, no mercado internacional, no ano seguinte. São lojas fechadas em pleno centro comercial, placas de aluga-se e obras paradas, que surgem como sintomas de uma economia degradada, que vitima mais obviamente os setores do comércio, da construção civil e do turismo. Apesar do sopro de esperança trazido aumento da arrecadação de royalties, com alta de 37% até abril, o crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre de 2017 e a redução da taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual, o setor privado ainda vai mal na região.

“Um bom indicador do ânimo empresarial são as estatísticas de contratação de mão de obra do CAGED-MT. Abril teve saldo positivo de 770 vagas pelo início da colheita da safra agrícola. Maio e junho também vão sofrer influência dessa conjuntura. Entretanto, quando se observa os três setores mais empregadores na cidade observa-se uma estagnação, tanto no comércio, quanto nos serviços e uma forte recessão na construção civil. Os juros em queda podem reanimar estes setores, ao longo do segundo semestre, mas sem grande euforia, pois a crise política que se arrasta trava a decisão empresarial”, explica o economista Ranulfo Vidigal.

OBRAS PÚBLICAS PARADAS

Quando consultados, representantes destes setores demonstram preocupação. A avaliação geral é de que há estagnação da economia e demora do poder público municipal em reagir ao quadro de degradação deixado pela gestão passada. A retomada de investimentos públicos seria a senha, segundo parte deles, para a retomada do crescimento.

“Temos tentado obter informações junto às prefeitura de Campos, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana sobre a retomada das obras públicas, mas, até agora, não obtivemos respostas. Tivemos um encontro com a superintendência de Trabalho e Renda daqui do município desmarcado três vezes. O mercado está estagnado. Não vejo avanço algum. Nem emprego das verbas que vêm sendo recebidas no setor”, afirma José Eulálio, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Civil.

Já Francisco Roberto de Siqueira, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Norte Fluminense, afirma que o setor está “em compasso de espera” e empresas que executam obras públicas passam por situação de “desconforto” diante dos pedidos de prazo para que a prefeitura retome o investimento.

“O setor, hoje, está em compasso de espera. Quando o prefeito Rafael Diniz assumiu a prefeitura, pediu tempo para analisar os contratos para ver se havia irregularidades. Mas, passaram-se seis meses e ele pede para aguardar um pouco mais. Isso traz desconforto para as empresas, que têm de manter vigias nas obras e vê-las se degradando. Estamos aguardando posição para saber elas continuam ou se os contratos serão rescindidos. Espera-se que o setor volte a rodar. Que obras desimpedidas sejam retomadas. Agora, o prefeito está com problemas em todos os setores. Tem que elencar prioridades, mas não pode esquecer da construção civil nunca”, crava.

buy Antabuse online Lasix reviews construcao-de-predios-silvana-rust-20SETOR PRIVADO TAMBÉM SOFRE

Esvaziado pelas demissões dos demais setores e pela falta de confiança do consumidor, o comércio luta como pode para sobreviver. Esta semana, um conhecido restaurante do Centro de Campos fechou as portas após 15 anos de atividades. Em um comunicado que circulou pela internet, os proprietários alegaram “fatores alheios à nossa vontade, que nos impediram de continuar a comercializar com o mesmo padrão de qualidade e atendimento” e agradeceram os clientes.

Parte dos que resistem abandonam ruas mais movimentadas, lojas mais amplas e pontos privilegiados em busca de aluguéis mais baratos. Cartazes apontando novos endereços não são incomuns e os locais escolhidos invariavelmente são menores e mais escondidos.

De acordo com o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos, Joilson Barcelos, o diálogo com a prefeitura tem sido“produtivo” na resolução de questões pontuais, mas que “isso só não basta”.

“Em todas as demandas relativas ao setor produtivo, principalmente ao comércio, o prefeito tem se mostrado sensível, indo pessoalmente à CDL e sempre escalando secretários quando o assunto é pontual, relativo a cada pasta. Porém, isso só não basta. O momento é de apresentar soluções práticas. Em que pese o fato de que, no momento, tente corrigir erros anteriores e conte com recursos escassos, ele sabia que enfrentaria este desafio. Chegou a hora de mostrar que os problemas vão ser superados. Alguns já deveriam ter sido”, pondera.

Com o turismo de negócios fortemente abalado pela crise da indústria do petróleo, em torno da qual que girava na cidade, o setor de hotelaria foi outro a sofrer perdas. Não só a taxa de ocupação caiu, como diversas obras foram paralisadas ou tiveram o ritmo prejudicado. O hotel construído pela rede Ramada em Campos foi inaugurado e funciona. A unidade da Golden Tulip, na Avenida Pelinca, porém, embora tenha sido tido as obras concluídas, ainda não começou a operar.

Obras de empreendimentos com as bandeiras All Inn; Atlântica Hotels; Bristol; Quality; Sleep Inn; Transamérica Executive e Tulip Inn ainda não viram a luz do dia. Parte delas foi oficialmente paralisada e não tem previsão de retorno.

Diante da expectativa do mercado, o economista Ranulfo Vidigal afirma que “o poder público é, hoje, uma família cuja renda caiu pela metade e terá que fazer um ajuste cirúrgico, rápido e desgastante”. Mas, alerta ele, é necessário cuidado.

“O recuo do papel do poder público precisa ser debatido com a sociedade civil organizada e adequadamente planeado para não aumentar o efeito multiplicador negativo na atividade produtiva da cidade. Em paralelo, a lei de diretrizes orçamentárias para 2018 prevê aumentos nominais e reais de arrecadação municipal com pouca probabilidade de concretização. Resumo da ópera: o poder público local dá sinais desencontrados para o empresariado da cidade tomar decisões. Isso precisa mudar urgentemente”, finaliza.

A equipe de reportagem de O Jornal Terceira Via entrou em contato com a prefeitura para que se posicionasse a respeito das questões levantadas. Em nota, o município afirmou que: “após o término do decreto de paralisação, as obras serão retomadas gradativamente durante o mês de junho. Não foi solicitado e nem publicado nenhum ato suspendendo as obras por mais tempo. Foi feita a análise de todos os contratos e verificados os que terão continuidade, os que terão que ser suspensos e outros que deverão ser cancelados devido à crise financeira que atualmente se faz presente no nosso município.

As obras podem ser pagas de diversas fontes de pagamento, como royalties, verba própria e verba federal. Durante o mês de junho está previsto o pagamento de obras que ficaram com restos a pagar de 2016”.

Questionada sobre o que o governo vem fazendo para estimular a geração de emprego e renda no município, a prefeitura afirmou que “dentro das atribuições que a superintendência tem, o órgão vem buscando criar eventos junto à população, para que possamos, através de uma força-tarefa, captar e oferecer as vagas de emprego, gerando mais oportunidade para a população. Buscamos principalmente, através de empresas locais, tais oportunidades e oferecendo também a possibilidade da população se capacitar, dando incentivo a todos os lados”.

Por fim, a superintendência de Trabalho e Renda informou que “o próprio órgão buscou o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Civil para conversa e, por motivo de compromissos extraordinários internos, foi preciso adiar a reunião. Uma nova reunião já está marcada para a próxima semana. A superintendência reafirma que irá até o sindicato para conversar, já que é de interesse da mesma manter este diálogo, como já aconteceu com outros segmentos como o sindicato da metalurgia, por exemplo”.