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A ‘Malu Mulher’ de Bolsonaro

Agora, como representante do governo Bolsonaro, na área da cultura, qual será a versão da Regina Duarte? A Malu de Daniel Filho ou a Regina de Jair?

BLOG
Por Redação
4 de fevereiro de 2020 - 11h33

A atriz Global Regina Duarte afirmou na última quarta-feira (29), após encontro com o presidente Jair Bolsonaro  que aceitou o convite para assumir a Secretaria Especial da Cultura. Ela é um dos nomes mais reconhecidos da dramaturgia nacional, com personagens que entraram para a história do país e alimentaram o imaginário de milhares de famílias brasileiras.

A escolha de Regina Duarte é emblemática, partindo do princípio de que sendo um ícone da Rede Globo, empresa combatida ferrenhamente pela atual cúpula governamental federal, estar agora, fazendo parte do ministério do Jair, a “namoradinha do Brasil” irá experimentar outro ambiente.

Confesso que não considero a escolha ruim. Mesmo sem ter qualquer experiência em um cargo público desse porte, a Helena de Manoel Carlos poderá surpreender e só conseguirá isso se continuar, a meu ver, sendo uma amante da arte.

Os mais antigos se lembram de “Malu Mulher”, uma série de televisão apresentada pela Rede Globo que ficou no ar de maio de 1979 a 22 de dezembro de 1980, dirigida pelo brilhante Daniel Filho. Nesta série a nova ministra interpretou a protagonista Malu, uma mulher recém divorciada que tenta ganhar a vida sozinha, sem sofrer com os preconceitos da época.

Notem que na série, a atriz traz para o debate, em uma época ainda sob a égide do regime militar, temas que eram tabus até então pouco debatidos em uma sociedade extremamente preconceituosa e que pregava a família tradicional de conceitos rígidos e inabaláveis.

Regina Duarte e Jair Bolsonaro no dia em que ela aceitou o convite para comandar a Secretaria de Cultura Foto: (Agência Brasil)

Agora, como representante do governo Bolsonaro, na área da cultura, qual será a versão da Regina Duarte? A Malu de Daniel Filho ou a Regina de Jair Bolsonaro? A escolha de Regina Duarte traz à tona uma situação peculiar. As ações culturais desenvolvidas por ela terão a chancela imediata do núcleo ideológico do governo ou terão que passar por alguma espécie de censura prévia antes de ser implementada?

Será que a namoradinha do Brasil, em pleno século 21, concordará que seus pensamentos, atos e ideologias sejam tolhidas, caso estejam em desalinho com a linha de raciocínio do presidente?

Regina Duarte irá vetar livros, peças de teatro ou filmes nacionais que possam incomodar a base do seu superior hierárquico?  Será que Regina Duarte vai censurar o filme “Além da Paixão”, lançado em maio de 1985, onde ela realiza desejos sexuais com um travesti, traficante de cocaína?

Regina Duarte já é a mais emblemática ministra de Bolsonaro e confesso que o presidente conseguiu chamar para seu governo, de uma vez só, através de uma nomeação, a Rede Globo, a Record, os artistas, os progressistas, os tradicionalistas e muito mais, traz a cultura brasileira para o centro do debate.

Vamos aguardar os passos de Malu!