Durante muito tempo, procurei um jeito de me justapor, de me aglutinar, mas uma conjunção de fatores não permitiu. Escrevo esta carta porque a minha timidez não flexiona e me impede de soltar o verbo de maneira pessoal e regular, mas confesso: meu sentimento é transitivo direto.
Parece ridículo ficar ensaiando um diálogo na frente do espelho; orações soltas que não sei conjugar. Quando me aproximo de você, da minha voz, passiva, não sai um monossílabo sequer. Locução atrapalhada… Não afirmo que eu não trema: na hora agá, as pernas bambeiam, a boca seca, o coração dispara. Nenhuma coordenação, uma falta de regência só! Imperativo do corpo, indicativo da alma. Totalmente subjuntivo.
Penso: uma menina tão linda assim, cortejada por um numeral tão grande de garotos, não vai se interessar por um sujeito simples como eu. Porém, quero mostrar-lhe meus predicados, talvez assim haja concordância entre nós e você me dê uma oportunidade de pontuar que a tônica do meu discurso não é hipérbole.
Ao voltar para casa, após as aulas, viajo em meus pensamentos: dois pombinhos voando sobre um oceano de paixão. Essa metáfora pode parecer pleonástica, mas o que importa mesmo é a semântica. Faltar-me-iam adjetivos para descrever o que seria ter você como namorada: sinônimo de alegria, artigo de luxo!
“Não importa a distância que nos separa, se há um céu que nos une”. Parênteses: você gosta de Drummond? Plural e singular, ele é meu poeta favorito. Talvez soe meio radical, mas faço minhas as palavras dele. Perdoe a mim pelas aspas, é que eu não queria nenhuma vírgula fora de lugar.
Admito que essa declaração pode parecer meio possessiva, mas deixo claro que não quero qualquer compromisso preposicionado. Isso é apenas um desabafo demonstrativo do meu amor, consecutivo da minha admiração, integrante de mim. Se for para dar certo, que seja com um sentimento aumentativo como o meu, superlativo, sintético. Afinal, meu interesse é substantivo, concreto.
Espero que esta carta, objeto direto do meu amor, não crie um hiato entre nós. Agudo ou grave, acentuei tudo o que quis, nenhum complemento ficou pendente. Sem a sua presença, o núcleo do meu presente é um travessão de tristeza, antítese da vida; com você, todo esse prefixo de dor é transformado numa desinência mais-que-perfeita, adjunta da felicidade.
Por fim, gostaria que você me fizesse uma concessão: não demore a me responder. Melhor a certeza do ponto final que o indefinido das reticências.