

Ele é um homem de ciência. Engenheiro de formação e professor, estuda já há muitos anos hoje a tão falada Inteligência Artificial. Pastor da Igreja Evangélica do Flamboyant, em Campos, Sandro Reis expressa uma fé natural e destaca que este período de Natal é propício para a religação espiritual com Deus, através do amor, da solidariedade e da celebração da vida.
Para ele é preciso pensar no Natal em uma perspectiva divina, tendo sempre na prioridade dos focos que Jesus foi o maior presente que Deus deu à humanidade e comemorar em comunhão o seu nascimento nunca foi tão necessário.
É domingo, daqui uns dias Natal, depois o Réveillon. Há uma grande contemplação da espiritualidade nesse período com foco na solidariedade. Como se avalia esse período? Como contemplar isso?
O Natal é uma festa de princípio e de origem religiosa. A espiritualidade tem que estar presente. Natal não é profano e sim santo. Fala do nascimento do nosso Santíssimo Salvador Jesus Cristo. Natal, então, nos remete, sim, ao momento de comunhão, momento de celebração da vida. É importante a gente pensar no Natal na perspectiva divina, pois é a comemoração do nascimento de Jesus, filho de Deus. Ele nasceu por mim, nasceu por você, ele veio pela humanidade, veio em forma de presente e é por isso que, no Natal se trocam presentes, tudo inspirado no próprio presente de Deus que deu o melhor que ele tinha, o seu filho, pela humanidade. Então, o Natal é uma festa que nós precisamos lembrar de Deus, de Jesus Cristo. Não pode ser esquecido, apesar de ter tantos símbolos aí enxertados na festa natalina que não remete à pessoa de Cristo, mas não podemos esquecer de nós mesmos, do nosso semelhante, do próximo. Na verdade, o Natal tem como finalidade o benefício que Deus trouxe à humanidade. Jesus vem para resgatar a humanidade que estava perdida em seus pecados, separada de Deus, e Jesus é essa ponte de religação. Então, Jesus disse:“eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai a não ser por mim”. O Espírito natalino tem que girar em torno da pessoa de Cristo. De quem Cristo é, da sua missão aqui entre nós.
O Sr. falou religação. Essa seria uma época para religar àquilo de que a gente se afastou por um motivo ou por outro?
Sempre é uma época boa para nós nos religarmos a Deus. A palavra religião tem sua origem no latim “religare”, que é a religação do homem a Deus, e nós precisamos compreender Deus na perspectiva espiritual, na dimensão espiritual, mas também no sentido humanitário. Então, se Jesus veio ao mundo como um gesto de amor e de perdão de Deus, sendo uma oportunidade para nós alcançarmos o perdão de Deus por meio de Jesus, nasce uma pergunta: por que não cumprirmos a ordenança dele, que é também de perdoarmos o nosso próximo? Então, é tempo de religação. Religação do homem com Deus. Deus, religação do homem na família, religação do homem nas suas amizades, nas suas inter-relações pessoais.
Percebi nas primeiras duas respostas que o Sr. enfatizou a palavra perdão. Ela é fundamental neste contexto?
Sim. Há uma máxima que diz que: quem ama perdoa. Sem perdão não há amor, e essa é a mensagem central da Bíblia, que está em João 3:16, que diz exatamente assim: “porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Então, o Natal foi um plano de perdão de Deus por meio de Jesus. Se você lembra das palavras que Jesus falou na cruz, entre elas tinha a expressão, pai perdoa-lhes porque não sabem o que estão fazendo. Então, a oração do Pai Nosso que Jesus nos ensinou: “perdoai as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores, perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aqueles que nos têm ofendido”. Podemos concluir que toda a mensagem cristã gira em torno do perdão. Aliás, é bom ressaltar que o cristianismo é uma das poucas religiões no mundo que enfatizam o perdão, e que são centralizadas no perdão.
O senhor citou o Pai Nosso, que é predominante em outras religiões. Como o senhor definiria o seu perfil de pastor?
O meu perfil é extremamente cristão. Eu não levanto bandeira de nome denominacional, até porque no céu não vai ter isso. Precisamos ser muito sinceros, autênticos, honestos neste sentido. A minha denominação, que é Batista, defende a Bíblia como regra de fé e prática. Nossa doutrina é essa, a nossa carta doutrinária é a Bíblia. O cristianismo, para mim, é o que está na Bíblia. Jesus é quem estabelece o cristianismo. Então, todas denominações que têm Cristo como o centro, como sendo filho de Deus, que confessam Ele como seu único e suficiente Salvador, são de fato, nossa religião. A gente crê e a gente precisa praticar isso.
O senhor é da igreja do Flamboyant, que é uma igreja muito reconhecida, muito respeitada, reunindo fiéis de grande capacidade intelectual. O senhor pode falar sobre isso?
Então, o perfil sócio-econômico, intelectual e cultural da igreja de Batista do Flamboyant é bem eclético, embora nós tenhamos lá muitos professores universitários, médicos e pessoas com curso superior, mestrado, doutorado, temos pessoas que têm pouca formação, e todos servem a Deus da mesma forma, e são vistos lá da mesma forma, ou seja, são irmãos. Então lá o doutor não é chamado de doutor, ele é chamado de irmão. Se você visitar a nossa igreja, você vai ver que o tratamento é equânime para todas as pessoas. O próprio Jesus, que abriu mão de toda a sua glória, não estabeleceu essas diferenças. Isso você também encontra na palavra do apóstolo Paulo em Filipenses, capítulo 2, verso 5, onde ele diz que o nosso pensamento tem que ser esse. Paulo diz que devemos ter o mesmo pensamento que teve Cristo Jesus, que apesar de ser filho de Deus, abriu mão da sua glória e veio ao mundo como homem para servir, e como o servo foi obediente até a morte. Então, a gente precisa ter esse sentimento sem nenhuma hipocrisia, sem nenhuma demagogia. É isso que nós queremos fazer, pois servir é um princípio cristão.
Pastor, estamos vivendo o tempo da inteligência artificial. Estaríamos vivendo um tempo de Fé Artificial nesses tempos modernos?
Então, pensando em inteligência artificial, a gente precisa hoje entender que é um termo que está em voga. Eu sou engenheiro por formação na área de computação, e leciono a disciplina de inteligência artificial desde o ano 2000. Então, eu entendo, sim, muitas pessoas hoje falam de inteligência artificial querendo estender isso a diversas áreas. A questão da fé, ela é uma coisa que, assim como a emoção, não está no espectro da inteligência artificial. A emoção é o grande desafio para a Inteligência Artificial na área de computação. A fé é algo que Deus deu ao ser humano natural e pertence a nós. Então, a fé continua sendo um mistério. A Escritura Sagrada diz, em Hebreus, que a fé é a certeza de coisas que se esperam e a convicção de fatos que não se veem. Então, fatos que não se vêem, a ciência não trabalha com isso. A ciência trabalha com os fatos que se vêem. Com a fé nos comunicamos com Deus. É algo peculiar ao ser humano. É algo entre Deus e o ser humano. A Bíblia diz que sem fé é impossível agradar a Deus. A Bíblia diz também que o justo viverá pela fé. Inclusive, esse versículo bíblico foi o que motivou Martinho Lutero dentro do contexto da reforma protestante, a fé em Deus. A fé, com certeza, é um mistério reservado à nossa relação íntima e pessoal com Deus.
A reforma da igreja feita por Martinho Lutero teria sido a última grande revolução, dando origem a muitas leis que estão aí, se consolidando como um fato histórico para além da religião. Essa afirmação é correta?
Bom, eu também tenho mestrado em ciência da religião, essa é uma outra área de pesquisa minha. A reforma protestante não tinha por objetivo inicial ser uma reforma, nem alcançar o status de revolução, mas sim, uma evolução. Uma evolução espiritual, podemos pensar assim. Uma evolução plena. Foi simplesmente uma luta de alguns que eram líderes religiosos, pela liberdade, por exemplo, pela liberdade de interpretação das escrituras sagradas. Essa era uma das teses e questionamentos, além de outras questões religiosas. Então, foi algo que aconteceu no campo da ideologia mais voltado para Deus, não foi muito filosófico, mas foi extremamente religioso. E isso foi, de certa forma, uma abertura de mundo, e de visão para muita gente. Então, a Reforma teve desdobramentos em diversas áreas, entrando na área da sociologia, da religião, da história, da política, mas ela realmente tem um status de ser um divisor de águas. E completando, eu creio que nós já estamos assim na necessidade de uma pequena reforma, não vou dizer uma grande reforma, mas uma outra reforma que não seja hoje protestante, mas que talvez seja até mesmo entre os protestantes, de modo geral, porque o ser humano tem essa capacidade de ir distorcendo as coisas, é do ser humano isso, trazer um ponto de vista pessoal a algo que é coletivo. Então, eu entendo assim, o ser humano precisa estar sempre passando por transformação, por reforma pessoal. Eu vou destacar novamente um texto do apóstolo São Paulo, na carta a Romanos, capítulo 12, ele diz assim: não vos conformeis com este mundo, com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus. Uma revolução interna é uma reforma, uma reforma constante. Então, a gente precisa entender isso. Nós somos seres humanos caminhando para a perfeição, e Deus é esse alvo. Jesus veio ao mundo. Agora voltando ao foco do Natal, Jesus veio ao mundo como a máxima revelação de Deus. A teologia crê nisso, Jesus é a máxima revelação de Deus.
A fé seria a evolução da ciência?
Eu creio, particularmente. Creio que a ciência vai evoluir ao ponto tal de chegar ao seu criador, pai de toda ciência. Até existe um louvor conhecido ultimamente, que diz que o dono de toda ciência e de toda sabedoria é Deus. Então, criou-se a história da explosão cósmica, mas para explodir tem que antes existir. Quem criou então aquilo que explodiu? Eu não posso me limitar àquilo que a ciência conseguiu consolidar para mim. Eu preciso crer que a própria ciência teve um ponto de partida, mas o ponto de partida da ciência não foi o ponto de partida da criação.
Para fechar, deixe uma mensagem de Natal.
Eu quero me dirigir a todos dizendo que o Natal precisa ser encarado como sendo um presente de Deus para nós, o nascimento de Jesus, nosso Salvador. Precisamos olhar para os símbolos verdadeiros do Natal, por exemplo, luz. Luz é um símbolo natalino porque Jesus disse que ele é a luz deste mundo. Aquele que o segue, não andará em trevas, mas terá a luz divina. Então, a luz é um símbolo natalino. O presépio é um símbolo natalino, pois Jesus veio ao mundo, e mesmo sendo rei, ele nasceu numa manjedoura, provando a sua humildade e simplicidade, que são valores que nós cristãos precisamos preservar. Precisamos olhar para o ser humano e entender que Deus enviou Jesus para perdoá-lo. Não há ninguém mais humano que Cristo. Ele deu a sua vida por pessoas que nem o conheciam. Ele perdoou aqueles que o ofendiam, perdoou seus algozes. Por isso, eu creio que Natal é vida, é esperança, é alegria, é amor.