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Tainá de Paula: “O Norte e Noroeste são estratégicos”

A secretária de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio esteve no J3News e falou da agenda em Campos e região

Entrevista
Por Ocinei Trindade
15 de dezembro de 2025 - 0h01
Foto: Divulgação

A vereadora licenciada Tainá de Paula (PT) atualmente é secretária de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio de Janeiro. Recentemente, ela esteve em Campos dos Goytacazes e região para uma série de encontros com lideranças políticas e sindicais. Questões climáticas, economia e temas relacionados às mulheres fizeram parte da pauta. 

A arquiteta e urbanista foi reeleita vereadora com quase 50 mil votos em 2024. Até abril do ano que vem, ela pretende integrar o secretariado do prefeito Eduardo Paes. Ambos devem deixar os cargos para concorrer às eleições de 2026. Tainá de Paula é pré-candidata a deputada federal.

O que pode destacar sobre sua visita a Campos e à região Norte Noroeste Fluminense?
Eu assinei o desafio de reconstruir o Estado do Rio de Janeiro. Nós tivemos alguns ciclos muito pulsantes de um Estado fortalecido. Não quero aqui fazer uma revisão longa de outras gestões e de outros cenários, mas, sem dúvida alguma, tendo em vista o que a gente tem passado na Alerj, tendo em vista as últimas notícias na política fluminense, uma figura como eu não poderia ficar encastelada na capital e não passar por territórios, por áreas, por regiões importantes do nosso Estado, fazendo uma conversa franca com a nossa população. Quais são as pautas e quais são os projetos mais importantes e necessários para esse futuro próximo do Norte e Noroeste Fluminense? Tenho ouvido muito a preocupação ambiental e a preocupação com os eventos extremos, com a mudança do clima. Essa foi a reclamação de cidades aqui da região. Esse é o desafio de qualquer gestor público nos próximos anos: como é que a gente garante orçamento para as obras estruturais das cidades? Como é que a gente garante dinheiro, recurso para o saneamento básico? Cidades com um índice altíssimo de pessoas nas unidades de saúde com doenças já erradicadas ou associadas à baixa qualidade da água — doenças de veiculação hídrica. A gente tem um problema de saúde pública por conta da mudança do clima, e é uma discussão que precisamos fazer cada vez mais. Esse problema vai se perpetuar e vai impactar cada vez mais pessoas.

Há argumentos de que a região passou a ter o clima semiárido, mas o Governo Federal vetou um Projeto de Lei sobre esse tema. Como auxiliar produtores rurais afetados?
A gente precisa muito aumentar o investimento no médio e no pequeno produtor rural e agropecuário. A região tem um potencial enorme, inclusive para a agroindústria. A gente precisa falar cada vez mais sobre como beneficiar os alimentos produzidos no nosso campo. É uma tragédia não termos ainda um polo industrial do tamanho que Campos merece para conseguir beneficiar o que a região produz. Acho que esse é um grande problema, e o presidente Lula, o governo federal, pode auxiliar nesse processo — tanto na formação e capacitação quanto na garantia de investimentos para que pequenas indústrias da agropecuária consigam se estabelecer cada vez mais na região. Esse é um ponto. O outro ponto é como investir mais na qualidade da infraestrutura da agroindústria Acho que pensar iniciativas do Banco Safra associadas ao BNDES e aos nossos bancos públicos é fundamental. O governo federal estimular uma carteira de oportunidades de investimento, tanto a fundo perdido quanto por financiamento, é importante. Mas, sobretudo, estimular que existam projetos e programas locais capazes de captar esse jovem recém-formado ou incentivar o jovem que deseja se escolarizar.

O cenário político fluminense envolve denúncias contra parlamentares, como o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar. Como avalia este momento?
Trágico para o Estado do Rio de Janeiro. Eu não comemoro a prisão de ninguém; sou de um partido que viveu um processo de criminalização muito grande e que teve sua maior liderança presa. Então, para nós, esse é um lugar muito sensível. Processos legais não podem ser influenciados por vontade política ou movimentação política. Portanto, eu não estou feliz com a prisão do Rodrigo Bacellar. Mas é claro que o poder econômico e o poder político, tanto dele quanto de seu grupo, afetam — e vêm afetando — muito negativamente a política fluminense. Eu acredito que tenhamos agora uma janela de oportunidade para refazer esse ecossistema, inclusive dentro de Campos. Novas figuras podem se consolidar; novos deputados estaduais e federais podem adotar a região e construir aqui uma política sólida. E eu estou me colocando à disposição para que a gente reflita sobre isso e participe dessa nova leva de figuras que enxergam o Norte-Noroeste não por uma necessidade eleitoral. Eu sou uma figura muito bem votada na capital do Rio de Janeiro, conhecida na Baixada Fluminense. Eu entendo que esta é uma região estratégica para consolidar uma política que qualifique e eleve o nível da política do Estado do Rio de Janeiro, e que precisa ser observada com muita prioridade. Só políticos antenados com o futuro, comprometidos com uma política séria, qualificada e enraizada na sociedade, serão capazes de liderar esse processo. E é por isso que estou me colocando à disposição da região para contribuir e liderar essas questões. Tenho construído uma candidatura para Brasília; sou pré-candidata a deputada federal.

Sendo arquiteta e urbanista, como a senhora avalia a necessidade de conservar os centros históricos de cidades como Campos?
O Centro de Campos está relacionado ao setor de comércio e serviços. Como é que a gente estimula e potencializa que esses prédios possam ser ocupados? Na cidade do Rio de Janeiro, eu coordenei a aprovação do Reviver Centro, que é um projeto de recuperação das áreas abandonadas da cidade, especialmente dos centros urbanos. Isso é fruto de muito debate com empresários, com a sociedade, com o setor público, mas principalmente com o setor privado, que é um dos grandes atores capazes de ocupar esses imóveis — desde que existam parcerias público-privadas, estímulos de potencial construtivo, arranjos que incluam até a compra de unidades privadas arruinadas. O poder público pode e deve recuperar esses imóveis e devolvê-los em formato de parceria público-privada. Existem diversos modelos possíveis, já utilizados em outras partes do mundo, e que cidades como Campos devem replicar.

Como observa a participação feminina na política e o interesse pelo voto feminino?
Eu acredito muito que as mulheres são invisibilizadas no processo político-partidário. Elas têm mais dificuldade de estar bem posicionadas dentro de seus partidos, que hoje, em sua grande maioria, são cartórios com suas burocracias e com seus poderes e interesses.  Essa engenharia faz com que as mulheres já saiam nos processos eleitorais em plena desigualdade em relação aos homens. Existe um lugar da gente ainda não ter conseguido implementar uma legislação que garanta aos partidos darem os recursos necessários para que as mulheres façam campanhas que, de fato, as elejam. Uma campanha necessita de estrutura, de relação, de tempo — três coisas que a ampla maioria das mulheres brasileiras não tem. As mulheres estão precarizadas, têm dois, três trabalhos.  Mas, ao mesmo tempo, eu sinto que as mulheres — e as minhas votações expressivas — são fruto desse despertar. As mulheres estão cada vez mais atentas. Por mais que elas não estejam em pé de igualdade para estarem em maior número nos parlamentos, continuam pobres, continuam em ambientes de violência e, portanto, com dificuldades de se candidatarem, mas compreendem bem que algo está acontecendo — e esse algo que está acontecendo se chama uma corrente de machismo, de misoginia muito grande, que faz com que elas compreendam, na urna, que é importante eleger mulheres. Mulheres que estejam comprometidas com esse debate. Porque também não é só eleger mulher. É eleger mulher comprometida com a derrubada do machismo, com a derrubada do feminicídio. Vejo que existe uma tendência de não retorno desse crescimento do eleitorado feminino, com cada vez mais presença e com cada vez mais expressividade nas casas legislativas e nos parlamentos. As mulheres estão sendo cada vez mais recordistas de voto.

Como observa as mulheres negras no cenário da política fluminense?
Apesar de nós sermos a maioria demográfica e podermos ser lidas como naturais nos parlamentos, nós não somos. Pegando a Câmara de Vereadores do Rio, elegemos pela primeira vez uma vereadora negra em 1982, no ano em que eu nasci. Demorou-se 20 anos para eleger a segunda, que foi Jurema Batista. Demorou-se 16 anos para elegermos Marielle Franco e depois mais quatro anos para eleger Tainá de Paula. A gente está falando ali de quase 40 anos de distância para conseguirmos eleger três mulheres negras. Isso faz de nós um lugar do vencimento, do máximo que uma mulher negra pode alcançar, mas também nos revela, com muita clareza, o quão distantes estamos da democracia de fato, da equidade de direitos e das oportunidades. Será que se nós tivéssemos, em cada lugar, em cada território, em cada favela, um lugar de oportunidade para que mulheres que se parecem comigo fizessem política, nós não teríamos mais candidatas e, portanto, mais parlamentares? Eu quero construir esse cenário

O que gostaria de destacar e que perspectivas tem para o futuro do Rio?
Destacar as minhas preocupações, principalmente com o estado do Rio de Janeiro. Durante alguns ciclos, nós chegamos a dizer que o estado do Rio de Janeiro estava no fundo do poço — e talvez a gente esteja vivendo um momento em que o estado do Rio de Janeiro esteja num período muito ruim, do ponto de vista político, do ponto de vista econômico, do ponto de vista da sua altivez, da sua autoestima. E aí eu quero dar um recado para o campista: que ele continue acreditando na boa política. A boa política existe, existem pessoas dedicadas, existem pessoas trabalhadoras, existem pessoas que não entraram na política para enriquecer e para fazer o mal. Existem pessoas que são dedicadas e muito determinadas a fazer de sua vida e sua trajetória um instrumento de construção para a melhoria da sociedade e para a construção de uma sociedade mais justa.

Destaco que as pautas ambiental, climática, do planejamento urbano, do desenvolvimento urbano e econômico são as pautas do século XXI. Precisamos resolver as cidades a partir desses lugares de discussão, senão teremos ainda um leito de pobreza mais grave, mais agudo do que já temos. É triste dizer, mas o Norte, o Noroeste e o Fluminense são regiões que estão nos recordes da agenda social, do Bolsa Família e de todos os outros programas de assistência social do governo federal no estado do Rio de Janeiro. Isso significa dizer que há uma concentração de pobreza muito grande nessa região e uma dependência econômica também muito grande de projetos sociais.Eu acho que, com trabalho coletivo e com uma boa política, a gente é capaz de mudar essa realidade.