Um procedimento cirúrgico inédito no interior do estado do Rio de Janeiro foi realizado com sucesso no Hospital Dr. Beda, em Campos dos Goytacazes. A cirurgia tratou um câncer de laringe em um paciente de 77 anos, utilizando uma técnica a laser inovadora, denominada TOFLS (Cirurgia a Laser Flexível Transoral), com o uso do chamado Blue Laser. A responsável pelo procedimento foi a médica cirurgiã de cabeça e pescoço Thais Valente, que contou com o auxílio do também cirurgião Raphael Sepulcri.
Segundo Thais Valente, a cirurgia foi bem-sucedida e o paciente teve alta hospitalar já no dia seguinte ao procedimento, com recuperação tranquila. A técnica empregada, até então inédita no interior fluminense, permite o tratamento de tumores com mínima agressão aos tecidos adjacentes, dispensando a necessidade de traqueostomia em muitos casos. “Essa tecnologia emite um laser azul com ação fotoangiolítica e cortante, diferente dos lasers tradicionais como o de CO2. Traz mais precisão e menos riscos ao paciente”, explicou a médica.
O paciente operado apresentava um tumor glótico recidivado. Em situações semelhantes, a alternativa convencional seria uma cirurgia mais invasiva, como a hemilaringectomia vertical, que implica em maiores riscos, uso temporário de traqueostomia e sequelas significativas. “A cirurgia a laser nos permitiu tratar eficazmente, preservando a laringe e a qualidade da voz, além de evitar complicações maiores”, destacou Thais.
Raphael Sepulcri, que atuou como cirurgião auxiliar, ressaltou que o procedimento evitou a retirada total da laringe, o que deixaria o paciente mudo. “A cirurgia convencional exigiria a remoção completa do órgão da voz. Com essa abordagem minimamente invasiva, conseguimos preservar funções e garantir uma recuperação rápida. O paciente já está retomando suas atividades nesta semana”, disse o médico.
A cirurgia durou cerca de duas horas e consistiu numa cordectomia tipo IV, com retirada da corda vocal e da camada muscular adjacente. O paciente, tabagista de longa data, já havia feito radioterapia para o mesmo câncer. “A escolha do laser foi estratégica para minimizar os riscos e acelerar a recuperação. Ele se alimentou normalmente logo após o procedimento e agora deverá fazer fonoterapia e acompanhamento médico regular para monitorar possíveis recidivas”, informou a cirurgiã.
Julho é o mês de combate ao câncer de cabeça e pescoço, conhecido como “Julho Verde”, campanha que visa alertar para a importância do diagnóstico precoce. De acordo com estimativas, mais de 40 mil novos casos desse tipo de câncer foram registrados entre 2023 e 2025 no Brasil. “Infelizmente, cerca de 70% a 80% dos pacientes chegam aos centros especializados em estágios avançados, o que reduz as chances de cura e aumenta as sequelas. Quando diagnosticado no início, o câncer de cabeça e pescoço pode ter mais de 90% de chance de cura”, afirmou Raphael Sepulcri.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco são o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, infecções por HPV e, no caso de cânceres de pele da região, a exposição solar intensa. No caso do paciente tratado no Beda, a cirurgia com Blue Laser foi determinante para um prognóstico mais favorável, evitando danos irreversíveis.
“A cirurgia a laser representa um grande avanço: menor risco cirúrgico, preservação do órgão e de suas funções, e recuperação mais rápida. É a tecnologia a serviço do paciente”, concluiu Thais Valente, que integra a equipe do Grupo IMNE desde setembro de 2024. Graduada pela Faculdade de Medicina de Campos, ela fez residências em cirurgia oncológica e cirurgia de cabeça e pescoço, além de título de especialista pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP).