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Cirurgia robótica inédita para adenomiose grave é destaque

Procedimento no Hospital Dr. Beda retirou 69 miomas de paciente de 26 anos

Saúde
Por Ocinei Trindade
30 de junho de 2025 - 0h02
Procedimento|Paciente foi operada no Hospital Dr. Beda (Fotos: Divulgação)

Uma cirurgia robótica inédita realizada no Hospital Dr. Beda devolveu esperança a uma jovem de 26 anos que vinha sendo internada todo mês durante o período menstrual por conta de um quadro grave de adenomiose. A paciente, que enfrentava dores incapacitantes, sangramento intenso e queda no estado geral, foi operada pela médica ginecologista, obstetra e cirurgiã Maria Eliza Guimarães. O objetivo foi preservar o útero e, com isso, sua fertilidade.

“A adenomiose é uma condição em que o tecido que normalmente reveste o interior do útero, o endométrio, começa a se infiltrar na musculatura uterina, causando um aumento do volume do útero e gerando inflamação crônica”, explicou a médica. Os sintomas mais comuns são cólicas incapacitantes, sangramentos abundantes, inchaço abdominal e, em alguns casos, dificuldade para engravidar.

Segundo Maria Eliza, a paciente convivia com o problema há cerca de seis anos, e nos últimos seis meses precisou de internação hospitalar a cada menstruação. “A gravidade se dá tanto pela extensão da adenomiose (resposta inflamatória que o organismo gera) e a hemorragia grave (devido aos múltiplos miomas)”, afirmou. “O impacto na qualidade de vida era tão significativo que as crises só podiam ser controladas com internação e medicação intravenosa. Além de transfusão sanguínea.”

Drª. Maria Eliza

Para garantir precisão no tratamento e a preservação do útero, foi escolhida a cirurgia robótica. “Ela oferece uma visão ampliada e em alta definição das estruturas pélvicas, além de proporcionar movimentos mais precisos e delicados, o que é fundamental em casos complexos onde queremos preservar o útero”, justificou a médica. “No caso dessa paciente, a adenomiose e a endometriose estavam muito avançadas, mas o desejo de preservar o útero e, possivelmente, a fertilidade, foi determinante para essa escolha.”

Durante a cirurgia, foram retirados 69 miomas. “Os principais desafios são identificar com precisão as áreas afetadas, retirar o tecido infiltrado sem comprometer a musculatura saudável e manter a integridade do útero”, destacou. “Tudo isso exige experiência, tecnologia de ponta e um planejamento cirúrgico muito cuidadoso.”

A preparação para o procedimento também exigiu cuidados. Inclui o controle da anemia, caso esteja presente, avaliação cardiológica, exames de imagem detalhados como ressonância magnética e, em alguns casos, uso de medicações para reduzir temporariamente o volume uterino. “Também fazemos um acompanhamento psicológico, pois o impacto emocional da doença costuma ser grande”, explica a médica.

Apesar da complexidade do quadro, Maria Eliza é otimista quanto ao futuro reprodutivo da paciente. “Ela tem boas chances de manter a fertilidade, especialmente porque preservamos a estrutura e a vascularização do útero. A paciente geralmente recebe alta em 24 a 48 horas e, em cerca de quatro semanas, pode retomar grande parte das atividades cotidianas, sempre respeitando as orientações médicas.”

A adenomiose é uma doença de difícil erradicação. “Existe risco de retorno, especialmente em casos muito avançados, mas conseguimos controlar os sintomas e oferecer uma melhora significativa na qualidade de vida”. Além da cirurgia, há outros caminhos terapêuticos. O tratamento pode incluir o uso de medicamentos hormonais, como o DIU medicado com progesterona, anticoncepcionais de uso contínuo ou análogos do GnRH, dieta anti-inflamatória, fisioterapia pélvica e acompanhamento psicológico.

Maria Eliza Guimarães alerta para a subnotificação da doença. “Temos visto um aumento nos diagnósticos, principalmente devido ao maior acesso a exames de imagem de qualidade, como a ressonância magnética. Ainda assim, a adenomiose é uma doença subestimada e muitas vezes confundida com outras condições, como endometriose.”