Chamar a atenção da sociedade para a importância do diagnóstico precoce da cardiopatia congênita é o principal objetivo de uma caminhada que será realizada no campus da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), em Campos dos Goytacazes, no próximo domingo (15), às 9h da manhã. A ação visa incentivar a realização do ecocardiograma fetal, do teste da oximetria e divulgar sinais de alerta que podem indicar alterações cardíacas em recém-nascidos. Médicos, pesquisadores e voluntários estão envolvidos no evento.
Para a cardiologista Erika Porto, ações envolvendo a comunidade são fundamentais. Ela é médica consultora do serviço de cardiologia pediátrica da UTI Neonatal Nicola Albano e do Centro de Pediatria Lília Neves (Ceplin), além de atuar no Hospital Ferreira Machado. “O conhecimento pode salvar vidas. É importante a conscientização coletiva para que mais crianças sejam diagnosticadas e tratadas de forma adequada, desde os primeiros sinais da doença.”
A cardiopatia congênita é caracterizada por qualquer alteração na estrutura do coração, em suas veias ou artérias, que leve a alteração do seu funcionamento. É a malformação congênita mais comum, representando cerca de 30% de todas as anomalias congênitas. É a primeira causa de morte em recém-nascidos em muitos países do mundo. No Brasil, é responsável por cerca de 10% de todas as mortes no primeiro ano de vida.
De acordo com Erika Porto, na gestação, as cardiopatias graves podem ser detectadas através do exame de ecocardiograma fetal, feito por um especialista em cardiologia fetal.
“O ideal é que aconteça entre 24 e 28 semanas de gestação. Hoje, esse é um exame obrigatório em todas as gestações. Após o nascimento do bebê, mesmo sendo portador de formas graves da doença, pode ser assintomático nos primeiros dias de vida, pois ele nasce com um canal conectando as duas artérias do coração aberto, o que permite o equilíbrio dos fluxos sanguíneos, postergando o aparecimento dos sintomas e dificultando o diagnóstico”, cita a especialista e pesquisadora.
O teste da oximetria também é obrigatório em todas as maternidades, pois auxilia no diagnóstico desses bebês. Mede a saturação de oxigênio nos membros superiores e inferiores Diante de alterações, é obrigatória a realização de um ecocardiograma do bebê antes da alta da maternidade, pois existe risco de ser portador de cardiopatia congênita.
Os sinais de alerta para presença de cardiopatia são cansaço nas mamadas, cianose (coloração azulada, principalmente na língua e nos lábios), sudorese e dificuldade para respirar. “O pediatra poderá detectar no exame clínico do bebê a presença do chamado sopro cardíaco e alteração na palpação da pulsação nos membros, o que deve alertar também para a presença de cardiopatia congênita, com a necessidade de realização do ecocardiograma”, diz Erika.
Segundo a médica, a detecção precoce faz toda a diferença para o prognóstico. “Principalmente para crianças nascidas no interior, onde não há serviço de cirurgia cardíaca neonatal. Quando o diagnóstico é feito na vida fetal, o parto deve ser idealmente realizado em centro especializado em cirurgia cardíaca neonatal no Rio de Janeiro. Isso aumenta muito as chances de sobrevida. O tratamento pode ser prontamente instituído após o nascimento, o que elimina o risco de piora e de morte durante o transporte desses pacientes em estado grave.”
O evento no dia 15, no campus da Uenf, surgiu no curso de mestrado do programa de Biociências e Biotecnologia. A médica Erika Porto investiga alterações genéticas em um grupo de pacientes portadores de cardiopatia congênita no Norte Fluminense. “Estão envolvidos os alunos do professor Glauber Monteiro Dias, do laboratório Lagemol, do qual eu e a cardiologista Francine Peixoto fazemos parte, as mães do grupo Coração é Vida, o Estúdio Ideia, colaboradores e simpatizantes da causa”, conclui.