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Infecção respiratória e hospitais lotados em Campos são abordados por alergista

O médico Luiz Bandoli também é imunologista e colunista do J3News; ele destaca atenção à saúde de bebês e crianças pequenas

Saúde
Por Ocinei Trindade
3 de junho de 2025 - 10h25
Dr. Luiz Bandoli é alergista e imunologista (Foto: Silvana Rust)

A reportagem especial do J3News desta semana “Doenças respiratórias lotam hospitais e UTIs” (leia aqui), aborda a situação em Campos dos Goytacazes com vários casos registrados de pessoas com sintomas gripais. Uma das maiores preocupações diz respeito à saúde de crianças, especialmente de bebês. O alergista e imunologista Luiz Bandoli, responsável médico pelo Centro de Pediatria Lília Neves (Ceplin) analisa as medidas de prevenção e combate às doenças respiratórias. Nesta entrevista, ele orienta pais e responsáveis sobre o que fazer neste período.

Dr. Luiz Bandoli, o que explica esse aumento expressivo nos casos de infecções respiratórias em crianças durante o outono e inverno?

Esse aumento é multifatorial. No outono e inverno, o clima fica mais seco e frio, o que favorece a circulação de vírus respiratórios e reduz a capacidade de defesa natural das vias aéreas. Além disso, é comum que as pessoas permaneçam em ambientes fechados e com pouca ventilação, o que facilita a transmissão de vírus entre as crianças.

No caso específico de Campos dos Goytacazes, há um agravante importante: a queima de canaviais, prática ainda comum na região, libera na atmosfera partículas finas e substâncias tóxicas que irritam as vias respiratórias. Essas partículas, ao serem inaladas, causam inflamações que deixam o organismo mais vulnerável a infecções. Crianças — especialmente as que têm histórico de asma ou rinite alérgica — sofrem ainda mais com essa poluição, o que contribui para o aumento expressivo dos atendimentos nessa época do ano.

Em sua experiência, quais são os principais vírus ou agentes causadores dessas infecções respiratórias que acometem o público infantil?

Os mais comuns são o vírus sincicial respiratório (VSR), que pode causar bronquiolite em bebês; o rinovírus, responsável por resfriados; o influenza, causador da gripe; e, em menor escala, o adenovírus e o parainfluenza. Cada um pode provocar quadros que variam de leves a mais graves.

Quais sintomas iniciais os pais devem observar nas crianças e que indicam um quadro respiratório?

Os principais sintomas incluem coriza (nariz escorrendo), tosse, espirros, febre leve a moderada, e cansaço. Em bebês, é importante observar se há dificuldade para mamar ou irritabilidade fora do comum.

Como diferenciar um resfriado comum de uma infecção respiratória que requer atenção médica imediata?

Um resfriado comum geralmente tem sintomas leves, como coriza, tosse leve e febre baixa, que melhoram em alguns dias. Já uma infecção mais séria, como uma bronquiolite ou pneumonia, pode apresentar febre alta persistente, dificuldade para respirar, chiado no peito, ou respiração muito rápida. Nestes casos, o atendimento médico é essencial.

Quando o caso deve ser levado ao pronto-socorro ou hospital? O que é considerado um sinal de gravidade?

Deve-se procurar atendimento imediato se a criança:

Estiver com dificuldade para respirar (barriga e costelas se movimentando muito);

Apresentar lábios ou dedos arroxeados;

Não quiser se alimentar ou mamar;

Estiver muito sonolenta ou irritada fora do normal.

Esses são sinais de que o corpo está com dificuldade de manter o oxigênio adequado.

Ilustração

Há um perfil de crianças mais vulneráveis a essas infecções? Bebês, alérgicos, com histórico de asma, por exemplo?

Sim. Bebês menores de 2 anos, especialmente os prematuros, e crianças com asma, alergias respiratórias ou doenças pulmonares crônicas têm maior risco de complicações. Nesses casos, o acompanhamento deve ser anual e com mais atenção durante os meses frios.

O senhor tem acompanhado relatos de superlotação e atendimentos nos corredores em Campos. Essa situação é preocupante?

Sim, estamos atentos a esse cenário e compreendemos a preocupação da população. O aumento expressivo dos casos de infecções respiratórias neste período tem gerado uma demanda acima do habitual nos serviços de saúde, especialmente nas unidades pediátricas. Mesmo com o reforço de equipes e reorganização de fluxos, o sistema sente os impactos dessa sazonalidade.

É importante lembrar que o acolhimento e a segurança dos pacientes são sempre prioridades. Trabalhamos continuamente para otimizar os atendimentos, priorizando os casos mais graves, e buscando alternativas para reduzir o tempo de espera. Essa é uma realidade enfrentada por muitas cidades neste momento, e exige um esforço conjunto — entre profissionais de saúde, gestores públicos e a própria comunidade — para enfrentarmos o desafio com responsabilidade, empatia e organização.

Quais são os cuidados mais eficazes que os pais podem adotar em casa para prevenir o agravamento desses quadros?

Manter a criança bem hidratada, alimentar com comidas leves e nutritivas, garantir o descanso e, principalmente, evitar a automedicação. O uso correto de medicamentos só deve ser feito com orientação médica. Se a criança estiver com sintomas leves, o acompanhamento em casa com observação atenta pode ser suficiente.

Vacinação infantil

Há orientações específicas para o ambiente doméstico, como ventilação, uso de umidificadores ou controle de poeira?

Sim. O ambiente deve estar bem ventilado, livre de mofo e poeira, e é bom evitar tapetes e bichos de pelúcia em excesso, pois acumulam ácaros. Umidificadores podem ajudar nos dias muito secos, mas devem ser usados com moderação e sempre limpos, para não virarem foco de fungos.

A vacinação contra gripe e outras doenças respiratórias ainda é uma das principais formas de prevenção?

Com certeza. A vacinação contra a gripe (influenza) é fundamental, especialmente para crianças pequenas. Além disso, para alguns grupos, há vacinas disponíveis contra o VSR. A vacina ajuda a reduzir o número de casos graves e evita hospitalizações.

Existe alguma recomendação especial para escolas e creches neste período, onde o contágio costuma ser mais rápido?

Sim. As instituições devem reforçar a higiene das mãos, limpeza dos ambientes, e, se possível, manter ambientes arejados. Crianças com sintomas devem ficar em casa até se recuperarem, para evitar a propagação do vírus entre os colegas.

Por fim, que mensagem o senhor deixaria aos pais e responsáveis neste momento de alta nos casos, para que saibam agir com segurança e serenidade?

O mais importante é manter a calma, observar os sinais do corpo da criança e procurar atendimento médico quando necessário. Prevenção, informação e cuidado são as melhores armas contra as infecções respiratórias. E lembrem-se: quando em dúvida, é sempre melhor buscar do pediatra para orientação.

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