O empresário Luciano Fonseca teve um prejuízo significativo com a lanchonete que mantém na Rodoviária Roberto Silveira, no Centro de Campos. Na madrugada do dia 2 de fevereiro, o estabelecimento foi invadido e teve diversos itens furtados. A perda calculada ultrapassou R$ 7 mil. Câmeras de segurança registraram a ação do criminoso, que agiu sozinho e com calma. O empresário Luciano expressou sua insatisfação com o que considera o abandono da rodoviária pelas autoridades.“Estou revoltado com o descaso do poder público. Uma sensação de insegurança enorme”, desabafou.
Casos como o de Luciano não são isolados. Dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) mostram que o número de assaltos a comércios em Campos mais que dobrou no primeiro trimestre deste ano, com 20 registros, contra oito no mesmo período do ano passado. Em 2024 inteiro, foram 38 ocorrências desse tipo.
Os dados de abril ainda não haviam sido divulgados pelo ISP-RJ até o fechamento desta edição, mas ao menos outros quatro estabelecimentos comerciais de Campos foram alvos de criminosos: uma concessionária de motos no Caju, um posto de combustíveis no Parque Rosário, além de uma lanchonete e uma loja de celulares no Parque Tamandaré.
A loja de smartphones pertence ao empresário Luiz Camilo, que relatou o prejuízo sofrido. Dois homens chegaram ao local, quebraram o vidro da fachada e entraram, levando diversos aparelhos. Cerca de duas horas depois, a loja ainda com a vitrine destruída voltou a ser invadida por outras duas pessoas.
“Infelizmente é a segunda vez que acontece isso com a gente. Continuar fazendo o nosso trabalho bem feito, entregando sempre o melhor a todos e mesmo assim a gente passa por situações como essas”, comentou.
Segurança Presente
Nilthon Moulin, presidente do Conselho Comunitário de Segurança, e servidor municipal que presta serviço à Polícia Civil, em Campos, destacou que diversos crimes têm ocorrido após as 22h. Ele também alerta para um novo comportamento dos criminosos.
“O que temos observado é que esses crimes acontecem principalmente após as 22h, quando o programa Segurança Presente encerra suas atividades. Parece também haver uma migração de delitos, o que pode ser um reflexo do certo prejuízo que o tráfico tem levado pelas operações policiais, ou mesmo um sintoma da crise econômica, que leva até pessoas sem antecedentes a cometerem furtos, o que pode estar atuando também nessa mancha criminal”, afirma.
Para a reportagem, o coordenador do programa estadual Segurança Presente em Campos, Capitão Luciano Tavares, explicou que o programa tem atendimento específico para locais e horários com maior movimentação de comércio e pessoas.
“O programa tem uma característica própria, não faz segurança pública de uma forma como o batalhão (8ºBPM) faz. O Segurança Presente é pautado na abordagem de proximidade e contato com a população, com atuação predominante em locais que tenham grande concentração de comércio e circulação de pessoas e em horários específicos. Atuamos no Centro, Pelinca, nas principais avenidas de Guarus, no centro comercial de Goitacazes. De madrugada, as ruas estão vazias. Eu não vou dizer que não faz sentido ter policial, mas não faz sentido ter policiais do nosso Programa, porque é um atendimento específico”, afirma.
Em Campos, o Segurança Presente atua com cerca de 70 policiais diariamente, de segunda a sexta, com 18 motocicletas, oito viaturas e duas vans, além de uma viatura e duas motos em Goitacazes, de acordo com o Capitão.
Reunião discute soluções para segurança na área central de Campos
Diante da apreensão dos comerciantes, autoridades se reuniram para buscar soluções. Na última quarta-feira (7), o Conselho Comunitário de Segurança Pública e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) agiram para mobilizar ações. Participaram representantes da Polícia Militar, Polícia Civil, Guarda Municipal, Prefeitura, 12ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), entre outros.
O presidente da CDL, Fábio Paes, enfatizou a preocupação do setor comercial com a questão. Segundo ele, segurança pública e ordenamento precisam caminhar juntos para que os comerciantes trabalhem e investidores sejam atraídos.
“A CDL busca discutir soluções para tudo que envolve o setor comercial. A segurança é uma das questões que traz preocupação. Quando se fala sobre retorno das pessoas ao Centro, por exemplo, a primeira coisa que é praticada onde está dando certo é o ordenamento, porque um Centro que parece estar em desordem atrai mais desordem. A gente precisa rever isso. Com o comércio seguro e ordenado, você consegue ter progresso com investimentos”, destacou.
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic), Maurício Cabral, afirmou que essa crescente tem preocupado. “Estamos acompanhando com preocupação esse crescimento de furtos. Orientamos os comerciantes a registrarem esses fatos nas delegacias, visando permitir que as autoridades públicas de segurança identifiquem essas manchas criminais e possam elaborar ações efetivas que venham conter essas ações negativas”, afirma.
Nilson Athayde, presidente da Associação dos Comerciantes e Amigos da Rua João Pessoa e Adjacências (Carjopa), também destacou a necessidade de um esforço conjunto. “Isso tem acontecido nas lojas, algumas amanhecem sem fiação, sem iluminação. A gente perde um dia, dois, para poder recuperar a energia da loja. Então, a gente acredita que isso é realmente por falta de uma segurança mais efetiva. Parece que é um problema que não tem fim, por muitas vezes o policial exerce a função dele, mas o cara está solto no dia seguinte”, comenta.
Atuação da Prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Campos destacou que, embora o policiamento ostensivo seja responsabilidade da Polícia Militar, tem colaborado ativamente com as forças de segurança. A administração municipal destacou a estrutura do Centro de Controle Operacional (CCO) e a atuação da Guarda Civil Municipal, que realiza patrulhamento preventivo em toda a região. “Atualmente, o CCO monitora 240 câmeras de alta definição instaladas em pontos estratégicos da cidade, com a previsão de instalar mais 240 em bairros ainda não contemplados pelo sistema de monitoramento”, diz a nota. A Prefeitura ainda reforçou que a população pode denunciar qualquer ocorrência à Sala de Operações da GCM, por meio dos números 153 ou 22 98102 0185.
Hoje, a Guarda Civil Municipal (GCM) de Campos tem cerca de 640 agentes, porém pouco mais de 440 estão na ativa. Isso porque cerca de 200 estão afastados, seja por questões de saúde ou por terem sido cedidos a outros órgãos. Além disso, entre os que continuam trabalhando, há restrições de plantão e situações individuais que também impactam a escala. A expectativa é de que o efetivo ganhe reforço com a chegada dos 180 aprovados no último concurso.
Diante do cenário, o comandante da Guarda, Wellington Levino, destacou a importância de retomar a parceria com a Polícia Militar, com o Policiamento Organizado (POG), que mantinha um ônibus da Guarda por 24 horas na Praça Santíssimo Salvador, agora utilizado como base móvel em eventos. Levino abordou ainda o Regime Adicional de Serviço (RAS), que foi proposto em 2021, mas que ainda será implementado.
“Se o batalhão quiser retomar o trabalho integrado, como fizemos entre 2014 e 2016, será uma honra. Mas, mesmo que isso não ocorra, vamos continuar atuando com nossos agentes na área central e com a vinda dos alunos, com certeza vai ser uma satisfação ver o Centro todo azul, como já foi um dia, atendendo o nosso calçadão, a praça do Santíssimo Salvador, e toda aquela área, que possa estar colaborando com a segurança das pessoas e melhorando também a questão do comércio, que nós sabemos que sem segurança o comércio não funciona”, disse.
A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública do Estado para saber quais ações imediatas estão sendo adotadas para conter essa escalada dos números, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria.
Enquanto o problema persiste, comerciantes aguardam por soluções que tragam mais segurança ao dia a dia e permitam trabalhar com tranquilidade.