×
Copyright 2024 - Desenvolvido por Hesea Tecnologia e Sistemas

Luma Aragão: a doce história de uma mãe empreendedora

Ela projetou seu negócio que cresceu durante a pandemia de Covid-19

Entrevista
Por Aloysio Balbi
28 de abril de 2025 - 0h01
Foto: Arquivo Pessoal

Há 10 anos, um negócio de família cresceu na mesma medida que novos membros da família chegavam. Luma Aragão pensou em um projeto de empreendedorismo. Traçou as linhas que queria seguir, e assim nasceu a Doce Lu. Admite que o ponto de partida foi o Brownie do Luiz, que nasceu na Zona Sul do Rio de Janeiro, conquistando o mercado com bolos de chocolates no pote.

O negócio começou e em seguida veio a primeira filha, Helena, hoje com quatro anos. Um ano depois, a segunda, Estela, hoje com três anos, e muito recentemente veio Celina, que está com quatro meses. Criar um negócio simultaneamente com três filhas foi e continua sendo um desafio para o casal.

Luma é casada com Lucas, o pai coruja das meninas. Ela, Luma, e ele, Lucas… a Doce Lu, é na verdade uma referência às duas primeiras sílabas dos seus nomes.

Essa supermãe e empreendedora que trabalha em média 12 horas por dia está vendo as filhas e o negócio crescerem com saúde, tanto que já está projetando a franquia dos seus produtos. Vale destacar que a Doce Lu decolou no curso da pandemia de Covid- 19.

Você criou uma marca de sabores, produzindo brownie. Você teria se inspirado no brownie do Luiz?
Verdade,tudo no início foi através das vendas de brownie. E a Doce Lu está onde está hoje com a venda desse único produto durante seis anos. Comecei a produzir brownies em setembro de 2014, fazendo a receita da minha sogra. Sempre que íamos lanchar e comer alguma coisa na casa dela, ela fazia brownie com sorvete para a sobremesa. E coincidiu dela estar vendo um programa de culinária no qual o Luiz do brownie do Luiz estava contando a sua história de vida, que começou a vender os seus brownies na faculdade, e aí minha sogra me contou essa história e me incentivou a fazê-los para vender. E eu querendo meu próprio dinheiro, não pensei duas vezes e comecei a levar para a faculdade, a qual eu comecei no ano de 2015.

Já faz 10 anos da Doce Lu. Neste período você teve três filhas. Como foi gerar três filhas e um negócio ao mesmo tempo?
Não tem como dizer que é fácil, mas no fim nos damos conta de tudo! Fiquei sendo esposa e empreendedora durante seis anos de empresa. Em novembro de 2019 descobri que estava grávida, e nós morávamos onde é a nossa loja matriz, nossa cafeteria. Nessa época era tudo junto ainda (risos). Tínhamos nossas vidas compartilhadas com os nossos colaboradores, a cozinha deles era a nossa, nossa sala virou sala de produção e a casa daquele tamanho só tinha um banheiro para todo mundo também. A minha primeira filha, que se chama Helena e que vai fazer cinco anos, nasceu no meio desse alvoroço, em plena pandemia, lockdown e uma empresa com colaboradores nas costas. Mediante tudo isso, trabalhei até o penúltimo dia da gestação, ela nasceu com 40 semanas. Imagina o cansaço, grávida, pandemia, sem recursos financeiros para contratar mais alguém para ajudar e muito sono. A segunda, que se chama Estela e nasceu em 2022, e nessa época Helena já estava recebendo salário por se tornar a colaboradora da limpeza na Doce Lu, pois ela ia engatinhando e comendo as casquinhas do brownie que caiam ao chão (risos). Estela estava na barriga e muito trabalheira também, ela estava prevista para nascer qualquer dia depois de 10 de dezembro. Imagina a loucura na cabeça de uma confeiteira. Natal e Páscoa, épocas de mais movimento e um medo danado dela nascer dia 20, depois dia 23, 24, 25…. ufa, passou e demos conta de entregar todas as encomendas. Foi chegando a virada de ano e o medo voltou, mas graças a Deus ela nasceu dia 5 de janeiro com 39 semanas e 6 dias. Quando nasceu, tivemos que ser despachados da fábrica, pois não daria certo duas bebês naquele alvoroço. A terceira se chama Celina e tem 7 meses de vida, que veio também como um presente de Deus. Não estava programada, e eu nem tinha feito planos, apenas tirei o implanon (um método contraceptivo) e logo assim engravidei. Quando ela veio, já estávamos num patamar de vida melhor, no qual conseguimos ajeitar um apartamento.

Estamos próximo do mês das mães. Queria um depoimento sobre a arte de ser mãe e empreendedora ao mesmo tempo. Pode?
Claro, eu digo que tenho quatro filhas. A primeira e a que dá mais trabalho é a Doce Lu (risos). Brincadeiras à parte, mas, no fundo, empreender é como gerar um filho e depois criar para que continue produzindo aquilo que você ensinou. E com as meninas isso se torna mais difícil na questão de que elas sentem falta da mãe, Né. Sempre que saio para trabalhar de manhã elas perguntam: ‘está indo na Doce Lu?” Helena, na época em que eu trabalhava todos os dias na confeitaria, chegou a dizer que não gostava de lá, que ela queria ficar comigo. Mas depois disso, parei para pensar um pouco no quanto a mãe é essencial para um ser humano, nós somos as primeiras pessoas as quais elas encontraram um lar para se sentirem seguras, somos o alimento, depois que nascem somos o colo, somos aquelas que conhecem o tipo do choro e ainda mais, as manias que ninguém saberia… seja no jeito que gosta de dormir, de deitar, da música que acalma e etc. Ser uma mãe empreendedora e imaginar que algum de seus filhos pode querer seguir o seu caminho e conseguir alcançar lugares maiores ainda e ser melhor do que o que você foi ou é.

Você é quase uma arquiteta por formação e na hora de transformar um quiosque em loja, optou por um contêiner. Praticidade?
Quase que me tornei arquiteta, mas parei no 5º período e meu marido é um arquiteto. Havíamos feito um quiosque de mdf, no qual a demanda dele era muito mais do que imaginávamos,eram muitos produtos e muita venda e ele durou 4 anos pedindo ajuda (risos). No Parqucentro, por ser um shopping galeria de passagem e no coração da Pelinca,o fluxo para o café é grande e, com isso, o quiosque se tornou pequeno. Meu marido sempre gostou de contêiner e por termos participado muito de eventos de food truck, pensamos que seria a melhor maneira para que a estrutura durasse anos e mais anos. Não foi nem um pouco prático conseguirmos colocar ele onde está, precisamos alugar quatro paleteiras, um munck para tirá-lo do caminhão e um quadriciclo para arrastá-lo. E com isso levou cerca de três horas para tirá-lo da rua e colocar onde está. E foi sem danos e prejuízos, com muita fé e oração (risos). Colocamos de sábado para domingo para que na segunda pudéssemos já estar atendendo. O legal é que enquanto pudermos fazer de tudo para estarmos abertos, nós faremos.

Você e seu marido se uniram para o negócio dar certo. Como foi a divisão das tarefas?
No início eu era bem ingênua, não que eu não seja hoje (risos), mas sempre falo: Deus me abençoou por achar em mim um coração simples. Sempre quis ter e fazer algumas coisas da vida, e eu não tinha dinheiro quando comecei a vender. Eu nunca fui organizada financeiramente, sempre que tinha dinheiro, doava a alguém, ajudava, comprava alguma coisa inútil, comprava besteiras e aí Lucas falou: “cara, isso não vai dar certo”. Como eu detesto planilhas, não sei fazer nada, não sei resolver nada de banco, sempre esqueço as senhas, ele entrou para somar, e muito! Já era nítido que ele deveria ficar no administrativo/financeiro né.

A Doce Lu cresceu e vocês já estão preparando um modelo de franquia. Qual a expectativa?
É a das maiores! Hoje, ma Doce Lu nós somos três sócios, Luma no criativo, Lucas financeiro, e Luana no administrativo e gestão de pessoas. São três cabeças pensando, algumas vezes algumas discussões sobre pensamentos, mas sempre a mesma essência. Enquanto eu sou a que sonha e fala com eles “vamos fazer isso que vai dar certo”, “vamos fazer porque ninguém pensou nisso ainda”, chega Luana e corta o meu barato e começa a colocar outras coisas em jogo, enquanto Lucas vira e fala “o que vocês decidirem, nós fazemos e pode deixar que o investimento Deus vai fazer surgir em nome de Jesus” (risos). É muito bom poder caminhar com eles, mas voltando à franquia, em breve estaremos por aí.

Você acha que a Doce Lu tem potencial para alcançar mercados de outros estados?
Temos sim, pois somos uma marca bem eclética em questão de doces, os quais eu sempre tento fazer com que meus clientes experimentem doces de outras cidades, estados e até países. Sempre fui muito apaixonada pela cultura americana. Brownies, cookies, donuts, apple pie, sendo que alguns são de origem europeia. Desde então, sempre queria experimentar essas coisas diferentes e nunca encontrava aqui em Campos. Então, sempre procurei fazer coisas diferentes para que os meus clientes, que às vezes não teriam oportunidade de viajar para comer, pudessem comer na Doce Lu. E agora mais do que nunca estou fazendo o curso de confeitaria francesa que é o sonho de muitos confeiteiros, na Le Cordon Bleu, que ensina todas as técnicas de uma confeitaria profissional. O curso é reconhecido mundialmente, o que abre muitas portas para o mercado da confeitaria.

Fale um pouco da sua rotina, do que os paulistas chamam de “corre”?
Ela é bem agitada. Já acordo com o despertador, que não falha, chamado Celina. O Sol está querendo aparecer e ela já deve estar em cócegas internamente, doida para abrir o olho e me acordar para mamar (risos). Isso às 6h da manhã, quando Tia Juliana, a babá das meninas, chega. Ela fica um pouquinho com elas e eu tiro mais um cochilo porque se não eu não aguento. Umas 9h10h vou para a Doce Lu e de lá fico sem ter hora pra acabar. Às vezes acontece de alguém faltar, vou fazer os cafés, servir os clientes, atender…  quando estou desocupada, o que mais gosto de fazer é ir para a confeitaria e testar receita nova. O tempo para e fico no meu mundo. Como é tudo muito corrido, procuramos sempre buscar as meninas na escola e ficar mais tempo com elas na parte da noite.

A história de sua marca é inspiradora. Que conselho você daria às mulheres que querem empreender?
 Acredite em você e nos seus sonhos, se permita sonhar, mesmo que os outros achem loucura. Conselho é maravilhoso, mas se você tiver certeza, acredite que vai dar certo. A pessoa com quem compartilhamos sonhos nunca vai entender realmente, pois não foi ela quem sonhou e eu sou muito da Bíblia na questão de entregar o teu caminho ao Senhor, confia nEle e o mais Ele fará. Ou então… o homem pode até fazer planos, mas a resposta final vem do Senhor. Se você tem fé e confia nEle, de alguma forma você vai sentir paz no que estiver para fazer, mesmo que seja no olho do furacão.

A Doce Lu ganhou corpo em um período muito difícil para empreender, que foi a pandemia, exatamente quando nascia a primeira das meninas. Tem que ser supermãe?
Toda mãe é uma supermãe, cada uma com suas renúncias e força de vontade. Diversas vezes eu chorei, ficava triste, angustiada… são momentos da vida, os quais teremos sempre, né. É uma montanha russa. Assim, como a pandemia chegou e não sabíamos como era e o que ia ser dali pra frente, assim também e a maternidade. Lembro que quando olhei para Helena no quarto da maternidade eu pensei: meu Deus, minha vida agora mudou para sempre e eu não conhecia esse neném de vista e toque até horas atrás… Me senti uma pessoa mãe, como que tive um sentimento de que não a conhecia. Na verdade, só de ter esse sentimento de culpa, isso já nos torna mães. Pois é um amor tão inexplicável, que já nasce antes mesmo de a criança nascer. E esse sentimento que nos traz a culpa é para nos lembrar de que antes mesmo de sonharmos em ser mães, já éramos mães. Pois antes da criação do mundo, Deus já havia predestinado quem seriam nossos filhos. Ser uma supermãe é conseguir agradecer a Deus pelas heranças que ele deu e ter a oportunidade de beijá-las, cuidá-las e dizer “te amo” não todos os dias, mas o tempo todo.