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Sérgio Simas: um negócio que juntou todos os pontos

A força de iniciativas empresariais inteligentes que avança certeira pelo Brasil

Entrevista
Por Aloysio Balbi
31 de março de 2025 - 0h01
Foto: Josh

De idade ele tem 40+ e seu negócio, a metade desse tempo: 20 anos. CEO da Forte Telecom, com sede em Campos, Sérgio Simas usa um brinco em cada orelha, mas não está de brincadeira. Formado em Engenharia de Telecomunicações, ele foi juntando os pontos, descartando os fios desencapados e conectando uma rede presente hoje em 12 estados brasileiros e outros países.

Muitos empresários do nível dele, para desconectar, jogam golfe. Ele prefere a música,  ama tanto o rock que tem duas bandas e até um pub onde eventualmente se apresenta. Essa história está pelo menos pela metade e já é gigante.

Como nasceu essa grande empresa?
Bem, a Forte Telecom está fazendo 20 anos. É uma operadora de telecomunicações, mas nem sempre foi uma operadora. Forte surgiu como um grupo de pequenos provedores de internet, que são as empresas que levam a internet às residências. O nome Forte Telecom veio do clichê realmente da “união faz a força”. Fomos crescendo e percebemos a necessidade de adotar outro modelo, porque existe uma segmentação básica no mercado. Existe a internet que se distribui para residências, que compram o sinal da operadora para distribuir para a população. E do outro lado do jogo você tem as grandes operadoras que trazem o sinal da internet para entregar para as empresas menores. Então, hoje, somos essa empresa que distribuiu o sinal de última geração para esses provedores.

Com foi essa transição?
Começamos a entender que a internet surge em vários lugares ao mesmo tempo. Por exemplo, conteúdos como Meta, Facebook, Instagram, WhatsApp e Netflix. Tudo isso vem do Vale do Silício, na Califórnia. Outros conteúdos como games, por exemplo, chegam da Europa, como Frankfurt, na Alemanha, e Amsterdã, na Holanda. No Brasil, a gente produz conteúdo próprio, bem usado, o mundo que é o GloboPlay. Em suma, você tem que buscar esse sinal nesses lugares. Você tem que operar. Você tem que usar cabos submarinos. Você tem que montar estações lá fora. Então, foi um trabalho ousado de construir uma estrutura fora do Brasil. A gente tem pontos de presença em Nova Iorque e Miami. Então, a gente vai buscar, por meio de cabos de fibra óptica submarinos, e trazer esse conteúdo para o Brasil.

O divisor de águas está nesta questão da fibra óptica?
Na verdade, a fibra, a gente começou a trabalhar com ela já em 2009 para 2010, construindo uma rede de interligação. Não existia fibra óptica no formato que ela tem hoje, de você chegar com a fibra dentro de uma residência. Isso barateou demais o processo. A tecnologia mudou e permite que você tenha uma fibra óptica dentro de uma casa. Isso não era possível, a fibra era algo muito caro. Então era um projeto milionário para você cortar um estado e interligar outro estado. Hoje, a Forte tem uma rede de fibra óptica dentro do continente que atua, abrange 12 estados brasileiros. A gente opera por meio dos Cabos Submarinos. A gente cresceu muito a partir do momento em que nos tornamos uma operadora, deixando de ser um grupo de provedores de internet. Mas foi uma decisão difícil sair de um mercado estável, e onde a gente já estava consolidado, para tentar subir alguns degraus, foi bem ousado.

Bem, aí você surge em Campos, mas com uma condição quase que estratégica para essa expansão para outros mercados. Foi um marco-zero estratégico?
Foi. Porque a cronologia foi assim, a ordem dos fatos foi esta: a gente sai do interior, vai para o Rio de Janeiro, para o Teleporto no Rio de Janeiro, onde você tem uma capacidade de abordar cabos submarinos. Então, um prédio onde você consegue ter uma tubulação, que você consegue abordar cabos submarinos, realmente, cabos que vêm da Europa, cabos que vêm da América do Norte. Nosso objetivo naquele primeiro momento foi chegar ali e, assim, nos conectarmos com o resto do mundo. Nos transformamos em uma operadora saindo da condição de um distribuidor para um produtor, tendo o próprio sinal.

Então vocês saíram do varejo e foram para o atacado. Essa imagem condiz?
Então, às vezes, as pessoas não têm ideia de que a internet da casa delas passa por uma operadora de grande escala que vai interconectar os conteúdos. Então, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Minas, Bahia, Centro-Oeste. A gente está em Brasília, Goiás. No Norte, a gente está no Estado de Rondônia. Então, essa nossa rede começa a se expandir, saindo do interior do Estado do Rio de Janeiro, do Noroeste, da região serrana do Estado e nos deslocamos para Campos com um olhar estratégico de expansão. Desta forma, a imagem do atacado ilustra bem, sim. Reforçando que Campos foi estratégico, tanto que nossa sede é aqui, embora a gente tenha mais de 150 pontos de presença pelo Brasil, estando em plena expansão.

Saiu da posição de quem recebia para ocupar uma posição de quem distribui. Pode falar mais sobre isso?
Eu diria o seguinte: a gente tenta mensurar o que é a representatividade de conexões residenciais por trás das conexões da Forte, e é difícil alcançar um número exato e preciso. A gente já estimou 2, 3 milhões de pessoas, talvez, atrás dos provedores que são conectados pela Forte, mas é um número difícil de identificar, porque essa métrica flutua. A gente tem cliente em Brasília, que tem 200 mil assinantes de um provedor de internet… apenas a título de exemplo.

Como atender toda essa demanda?
O nosso tripé tem como carro-chefe atender às empresas da internet, mas já temos um segmento enterprise corporativo também, para atender ao poder público. Poder público não necessariamente governo. Estamos falando de universidades, centros de pesquisas e até Tribunais de Justiça. São áreas sensíveis que têm a necessidade de interconexão totalmente segura e nesse contexto a gente tem performado bem. Um exemplo é o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ganhamos esse contrato para uma interconexão de rede de alta velocidade e de alta disponibilidade, ligando os 92 municípios, todos os fóruns, todos os comandos, presídios, tudo que é controlado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Não é internet comum e a segurança faz toda diferença.

A segurança é primordial?
Exatamente. Porque uma rede, quando ela é pública, a internet é uma rede pública. As pessoas têm que entender isso. É como se você precisasse transmitir ou entregar um pacote. Mas no convencional, entre o remetente e o destinatário, o caminho pela internet é público. Imagina que eu tenho um envelope com informação que ninguém pode ver. E eu te peço para entregar para uma pessoa específica e o endereço dela, sei lá, está em Manaus. Você vai a uma rodoviária, pegar um ônibus, depois você vai a um aeroporto para pegar um avião. Você está passando por um ambiente público, onde uma pessoa pode roubar, você pode perder aquele envelope. A internet é um ambiente público, onde muitas coisas coexistem e acontecem ao mesmo tempo. Então você está sempre à mercê de um hacker, de um vazamento de informação, uma falha de segurança. O ambiente privado, uma rede privada é o que temos. Como se eu te colocasse dentro de um carro blindado, escoltado, depois entrasse num jato particular… a informação que está passando ali é só sua, num meio físico, num canal que está dedicado só para você usar. Isso é uma rede privada. Então, assim, é uma tendência do judiciário e de bancos, mercado financeiro, onde não pode haver vazamento de informação.

Essa alta disponibilidade. Como funciona?
Eu preciso interligar um ponto aqui em Campos, um ponto em São Paulo, e é um serviço de missão crítica que não pode parar. É para esse cenário. Imagina um sistema de telemedicina, algo que realmente tem que ser garantido. Primeiro, eu não posso estar exposto a um ataque, a vírus, a nada disso. Então, primeiro a segurança, depois a disponibilidade. Disponibilidade é chave. Eu conto com quatro rotas de fibras óticas diferentes de Campos até o Rio de Janeiro, uma pela BR-101 subterrânea, uma submarina, outra pela Região dos Lagos e outra pela Região Serrana do Estado. Eu chego com essas quatro rotas diferentes ao Rio de Janeiro. Os quatro são dedicados para o serviço. Tem que acontecer uma tempestade perfeita, algo muito incrível, um maremoto, um terremoto, um acidente de trem para cortar a fibra enterrada na ferrovia. Então, a disponibilidade é plena. É uma tendência de segurança cada vez maior. O Bill Gates tem uma frase bem antiga que é assim: “se você não quer que uma informação vaze, se você não quer que um dado seja comprometido, não conecte o computador da internet, porque se ele está conectado com todos, em algum momento, alguém vai achar uma falha”.

E quando empresários olham para Campos e pensam, “bom, eu vou investir”, eles pesquisam e descobrem que tem uma empresa aqui com toda essa tecnologia. Esse é um ponto positivo em infraestrutura?
Acho que sim. A empresa que vem de fora, ela está vindo para um lugar que ela não conhece. Acho que isso faz diferença, sim, e queremos cada vez mais fazer diferença.

Como você se desconecta?
Sou roqueiro e tenho uma banda chamada Charada Carioca, em Niterói, e outra em Campos. Adoro música. Sou dono do Lord Pub, em Campos. Algumas pessoas jogam golfe, tênis. Eu sou músico. Sou muito inquieto. Tenho paixão pela música, pela família, minhas filhas.