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Economista avalia perspectivas e críticas sobre a Ponte da Integração

Sandro Figueredo considera pontos positivos e avalia falta de planejamento logístico de Campos, São João da Barra e São Francisco

Economia
Por Ocinei Trindade
11 de fevereiro de 2025 - 9h42
Economista e colunista do J3News, Sandro Figueredo (Foto: Josh)

O J3News publicou no último domingo (2) a reportagem “Perspectivas regionais para além da Ponte da Integração” (leia aqui). Prevista para ser inaugurada nesta quarta-feira (12), a nova ponte batizada com o nome do ex-deputado João Peixoto, liga São João da Barra a Campos dos Goytacazes e a São Francisco de Itabapoana, em um percurso de 1.344 metros sobre o Rio Paraíba do Sul. O economista e colunista Sandro Figueredo considera positiva a abertura da via, mas também faz considerações e críticas sobre o investimento.

Para Sandro Figueredo, a Ponte da Integração é um salto para o futuro e um marco para o desenvolvimento econômico e logístico da região. “Com a melhoria da mobilidade, São João da Barra pode consolidar ainda mais seu papel como polo industrial e portuário, enquanto Campos tem a oportunidade de se tornar um hub logístico estratégico, interligando a produção agrícola, industrial e comercial ao Porto do Açu”, diz.

Nesta entrevista, ele analisa pontos favoráveis e preocupantes a partir da inauguração da Ponte da Integração.

Além de São João da Barra e Campos, o que deve acontecer com São Francisco de Itabapoana?

São Francisco de Itabapoana pode se beneficiar da maior circulação de turistas e do escoamento mais eficiente da produção agrícola. Além disso, o comércio e o setor de serviços terão um aumento na demanda, criando novas oportunidades de emprego e impulsionando o crescimento local. O turismo também será favorecido, pois a ponte facilitará o acesso às praias da região, estimulando o setor hoteleiro, gastronômico e de lazer. O aumento da arrecadação tributária permitirá investimentos em infraestrutura urbana e qualidade de vida para a população.

O que considera preocupante ou crítico em relação a abertura da Ponte da Integração?

Apesar do grande potencial, a ausência de um planejamento logístico integrado impede que os benefícios da Ponte da Integração sejam totalmente aproveitados. Campos está perdendo a chance de se consolidar como um centro logístico regional, pois não há incentivos claros para empresas de transporte, armazenagem e distribuição. Sem um distrito logístico estruturado, o município pode ver os investimentos migrarem para outras cidades com melhor organização e políticas públicas mais atrativas. Será que não aprendemos com nossa história? Perdemos a Petrobras para Macaé! Agora perderemos a chance de nos tornarmos  o maior Hub Logístico do Estado?

Além disso, São Francisco de Itabapoana continua isolado, sem estradas adequadas para interligá-lo eficientemente ao Porto do Açu e aos mercados consumidores. A infraestrutura rodoviária da região ainda é precária, elevando os custos de transporte e dificultando a movimentação de pessoas e mercadorias. Se não houver investimentos em vias de acesso e um plano de mobilidade eficiente, a ponte pode acabar beneficiando apenas o tráfego de passagem, sem gerar impactos econômicos significativos.

Imagem: FP Drones Produções

Para que os benefícios da ponte sejam maximizados, quais ações estratégicas são essenciais?

 1. Melhoria da infraestrutura viária: Investimentos na recuperação e ampliação das rodovias que ligam Campos, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana garantirão maior fluidez ao transporte de cargas e passageiros.

2. Criação de um Polo Logístico: A instalação de um distrito logístico próximo à ponte pode atrair empresas e reduzir os custos operacionais para indústrias, transportadoras e exportadores.

3. Incentivos para o Setor Empresarial: A redução de tributos municipais e a desburocratização do processo de instalação de empresas podem atrair novos negócios, fortalecendo a economia local.

4. Integração dos Modais de Transporte: A combinação de rodovias, ferrovias e transporte hidroviário pode otimizar a movimentação de mercadorias e pessoas, tornando a região mais atrativa para investimentos.

5. Promoção do Turismo Regional: Com melhor acesso, o litoral e as atrações culturais podem ser mais explorados, gerando novas oportunidades para hotéis, restaurantes e serviços turísticos.

Acesso à Ponte da Integração na finalização da obra (Fotos: Silvana Rust)

Como viabilizar essas questões?

Apesar da importância dessas ações, até o momento não há uma política clara para viabilizá-las de maneira eficiente. A infraestrutura rodoviária ainda é deficitária, com trechos deteriorados e sem manutenção adequada. Sem um plano de mobilidade robusto, os gargalos logísticos persistem, impedindo a integração eficiente da produção agrícola, industrial e portuária.

Além disso, Campos e São João da Barra não possuem um plano estratégico de incentivos fiscais e atração de investimentos para o setor logístico. Empresas que poderiam se instalar na região acabam optando por municípios vizinhos mais preparados e competitivos (Quissamã é o mais próximo com uma ZEN funcionando a pleno vapor).

As terras em São Francisco são mais baratas, mas dificilmente empresas se instalarão lá, devido a falta de infraestrutura; a não ser que, algum fundo com um projeto sólido invista em um condomínio logístico privado.

Se essa realidade não for revertida, a Ponte da Integração poderá se tornar apenas mais uma via de passagem, sem impactos profundos no desenvolvimento econômico regional.

Ponte sobre o Rio Paraíba do Sul tem 1.344 metros

O que pode falar sobre a influência da infraestrutura viária no desenvolvimento regional?

A melhoria das estradas, pontes e vias de acesso são fatores primordiais para o crescimento econômico da região. Uma malha viária eficiente reduz os custos logísticos, melhora a competitividade das empresas locais e atrai novos investimentos.

No setor agrícola, a modernização das estradas permite o escoamento da produção de forma mais rápida e barata, beneficiando produtores de cana-de-açúcar, pecuária, soja e demais culturas. A indústria também se fortalece, já que a facilidade no transporte de insumos e produtos finais melhora a integração com fornecedores e consumidores.

O turismo se expande com vias de acesso mais seguras e rápidas, tornando as praias e atrações culturais da região mais acessíveis. O aumento do fluxo de visitantes movimenta hotéis, restaurantes e o comércio local, impulsionando a geração de empregos e renda.

Segurança na ponte antes de ser aberta ao público

O que deve ser analisado ainda sobre esses aspectos?

Sem investimentos adequados, a precariedade da infraestrutura viária continuará sendo um entrave para o desenvolvimento. A falta de manutenção das rodovias e a ausência de projetos de modernização elevam os custos de transporte, reduzindo a competitividade das empresas locais e afastando investidores.

Além disso, a dependência excessiva do modal rodoviário sem integração com ferrovias e hidrovias mantém o escoamento da produção ineficiente e mais caro. Sem políticas públicas voltadas para infraestrutura e mobilidade, a região pode perder a oportunidade de se tornar um centro logístico de destaque. Já passou da hora dos políticos da região pararem as disputas e olharem para o futuro.

Ponte da Integração Deputado João Peixoto antes de ser inaugurada

E como pode ser esse futuro de Campos, SJB e SFI a partir da Ponte da Integração?

O crescimento do turismo fica comprometido sem estradas de qualidade. Destinos promissores podem continuar pouco aproveitados devido à dificuldade de acesso, limitando o potencial econômico do setor. A falta de visão estratégica no planejamento da mobilidade urbana e regional coloca em risco o futuro da economia local.

A Ponte da Integração tem um enorme potencial para transformar a economia regional, facilitando a logística, impulsionando o comércio e fortalecendo o turismo.

Campos dos Goytacazes, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana precisam adotar uma postura mais proativa, com políticas públicas eficazes para transformar a ponte em um verdadeiro vetor de desenvolvimento, e não apenas em mais uma via de circulação sem impacto real na economia local.

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