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Perspectivas regionais para além da Ponte da Integração

Ligação sobre o Rio Paraíba entre São João da Barra, Campos e São Francisco aguarda liberação e ainda gera questionamentos e dúvidas na população

Região
Por Ocinei Trindade
9 de fevereiro de 2025 - 0h01
Lentidão nas obras|A conclusão e inauguração da Ponte da Integração foram adiadas ao longo de mais de uma década (Fotos: Silvana Rust)

Nos anos 1980, durante o último governo militar de João Figueiredo, uma ponte começou a ser construída sobre o Rio Paraíba do Sul, ligando São João da Barra a Campos e São Francisco de Itabapoana. Deste projeto, só restaram os pilares. Entretanto, em 2014, durante a gestão do ex-governador Luiz Fernando Pezão, foi iniciada uma nova obra da Ponte da Integração, com 1.344 metros de extensão, batizada com o nome do ex-deputado João Peixoto. Em mais de uma década, a conclusão e a inauguração da ponte foram adiadas várias vezes. A mais recente, aconteceria no dia 5 de fevereiro, segundo o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, e o governador Cláudio Castro, mas o Departamento de Estradas e Rodagem (DER) não confirmou. Uma nova data foi novamente anunciada por Castro em suas redes sociais: dia 12. Mas, igualmente, não foi confirmada pelo DER. A população aguarda com ansiedade a abertura da ponte. Políticos e especialistas da área econômica, também.

A equipe de reportagem do J3News esteve próximo à Ponte da Integração, em São João da Barra, mas o acesso foi negado por uma equipe de segurança. Imagens revelam que ela está quase totalmente finalizada. Do outro lado da margem, os acessos para Campos e São Francisco ainda não estavam concluídos. Há, ainda, a necessidade de recuperação das rodovias estaduais RJ-194 e RJ-196, nos dois municípios. O DER informou por nota que as intervenções totalizam 36 km de pavimentação, sendo 18 km em cada rodovia:

Bloqueio de passagem|O acesso à ponte não era permitido

 “Na RJ-196, as obras contemplam o trecho entre Campo Novo e Gargaú, em São Francisco de Itabapoana. Já na RJ-194, as ações acontecem entre a Usina São João, em Campos dos Goytacazes, e Campo Novo. As obras de pavimentação, drenagem e sinalização das RJ-194 e RJ-196 têm previsão para serem concluídas em 540 dias, com o término estimado para 2026”, diz a nota do órgão. Para acessar o Centro de São Francisco de Itabapoana, o caminho será pela RJ-194. Em Campo Novo, o usuário da via poderá acessar a RJ-196.

A longa espera para a Ponte da Integração e seus acessos serem liberados e funcionais gera especulações. Para o economista Sandro Figueredo, a ponte será um salto para o futuro e um marco para o desenvolvimento econômico e logístico da região:

Sandro Figueredo (Foto: Josh)

“Com a melhoria da mobilidade, São João da Barra pode consolidar ainda mais seu papel como polo industrial e portuário, enquanto Campos tem a oportunidade de se tornar um hub logístico estratégico, interligando a produção agrícola, industrial e comercial ao Porto do Açu. São Francisco de Itabapoana, por sua vez, pode se beneficiar da maior circulação de turistas e do escoamento mais eficiente da produção agrícola. Além disso, o comércio e o setor de serviços terão um aumento na demanda, criando novas oportunidades de emprego e impulsionando o crescimento local. O turismo também será favorecido, pois a ponte facilitará o acesso às praias da região, estimulando o setor hoteleiro, gastronômico e de lazer. O aumento da arrecadação tributária permitirá investimentos em infraestrutura urbana e qualidade de vida para a população”, diz.

Críticas e elogios
Apesar de boas expectativas, o economista e colunista do J3NewsSandro Figueredo, pondera e faz algumas críticas ao projeto em torno da Ponte da Integração:

“Apesar do grande potencial, a ausência de um planejamento logístico integrado impede que os benefícios da Ponte da Integração sejam totalmente aproveitados. Campos está perdendo a chance de se consolidar como um centro logístico regional, pois não há incentivos claros para empresas de transporte, armazenagem e distribuição. Sem um distrito logístico estruturado, o município pode ver os investimentos migrarem para outras cidades com melhor organização e políticas públicas mais atrativas. Além disso, São Francisco continua isolado, sem estradas adequadas para interligá-lo eficientemente ao Porto do Açu e aos mercados consumidores. A infraestrutura rodoviária da região ainda é precária, elevando os custos de transporte e dificultando a movimentação de pessoas e mercadorias. Se não houver investimentos em vias de acesso e um plano de mobilidade eficiente, a ponte pode acabar beneficiando apenas o tráfego de passagem, sem gerar impactos econômicos significativos”, diz Sandro Figueredo.

Para Vinicius Viana, secretário executivo do Consórcio Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento do Norte e Noroeste Fluminense (Cidennf), a Ponte da Integração é essencial para fortalecer a economia regional.

Vinicius Viana

“O Cidennf vê essa nova ligação como um grande passo para o crescimento dos setores de comércio, indústria, agropecuária e turismo. Com a melhoria da conexão entre São João da Barra, Campos dos Goytacazes e São Francisco de Itabapoana, a mobilidade será ampliada, facilitando o escoamento da produção local e fortalecendo polos econômicos, como o Porto do Açu. A nova infraestrutura poderá ampliar o turismo, atraindo mais visitantes e estimulando negócios na região. A ponte também abre novas possibilidades para uma de nossas iniciativas como a Rota Caminhos do Açúcar, projeto turístico que valoriza o patrimônio histórico e cultural do interior fluminense. Com mais acesso, é incentivado o turismo, além de movimentar a economia. A Ponte da Integração representa um avanço estratégico para o crescimento da região e para a plena efetivação desse novo eixo de integração”.

Wladimir Garotinho (Foto: Josh)

Prefeitos se manifestam
A reportagem procurou os prefeitos de Campos dos Goytacazes, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana, sobre o que esperam a partir da conclusão da Ponte da Integração e da recuperação das rodovias de acesso a ela. Por meio de nota, o prefeito de Campos, Wladimir Garotinho disse que, juntamente com a conclusão da ponte, espera que também seja concluída a pavimentação da RJ-194, de modo a permitir sua plena utilização. “Com a RJ concluída, haverá uma grande movimentação de veículos, principalmente, caminhões que demandam ao Porto com destino ao Espírito Santo e Minas Gerais. Já oficiei ao DER sobre a necessidade de construção de um trecho para interligação da RJ-194 com a BR-101, pela Codin, de modo evitar o trânsito de veículos pesados pejas vias urbanas”.

Yara Cinthia (Foto: Josh)

A prefeita Yara Cinthia, de São Francisco de Itabapoana, celebra a conclusão da Ponte da Integração. “Ela representa um marco para o desenvolvimento e abre novas possibilidades para o crescimento regional. A finalização da ponte e dos acessos terá um impacto direto e positivo em setores econômicos estratégicos, como o turismo e a agropecuária. A melhoria na infraestrutura facilitará o acesso aos 60 km de litoral de São Francisco de Itabapoana e otimizará o escoamento da produção. A prefeitura, em diálogo com o Departamento de Estradas e Rodagem do Estado do Rio de Janeiro (DER-RJ), solicitou melhorias nas estradas que dão acesso às localidades vizinhas, com especial atenção para a RJ-194”, comentou.

Carla Caputi

A prefeita de São João da Barra, Carla Caputi, aguarda a visita do governador Cláudio Castro para que ele faça o anúncio oficial da conclusão da obra. “A Ponte da Integração é esperada há mais de quatro décadas. Gera enorme expectativa para impulsionar a economia e o desenvolvimento do interior, especialmente por facilitar o acesso ao estado do Espírito Santo. As estradas de acesso ainda precisam ser concluídas. Aguardamos uma definição do Estado quanto ao prazo de execução, na certeza de que ajudarão no desenvolvimento dos municípios de São João da Barra, São Francisco de Itabapoana e Campos”, conclui.