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Espaço cultural na Tapera: um refúgio de esperança em Campos

A Casa de Cultura Bruno Black foi idealizada pela educadora e escritora Cris Lemos

Educação
Por Ocinei Trindade
1 de dezembro de 2024 - 12h25

Cris Lemos é educadora e escritora, além de coordenar um espaço cultural na Tapera, em Campos dos Goytacazes (Divulgação)

A educadora e escritora Cris Lemos, de 38 anos, é a idealizadora de um espaço cultural na Tapera, um bairro de periferia em Campos dos Goytacazes. Ela tem dedicado sua vida a transformar realidades sociais por meio da educação, da literatura e da cultura. Acredita que esses instrumentos são fundamentais para romper os ciclos de violência e marginalização, especialmente entre os jovens de comunidades periféricas. Por isto, ela e outros voluntários criaram a Casa de Cultura Bruno Black.

Cris Lemos tem formação em educação infantil e em políticas culturais, além de ter realizado cursos de oficinas culturais pelo Instituto Federal do Rio Grande do Sul e de elaboração de projetos sociais pela Alerj. Recentemente, lançou o livro “Desabafo de Mãe”, que aborda as complexidades da maternidade a partir das vivências de mulheres de diferentes idades.

Espaço Cultural na Tapera (Divulgação)

A Casa de Cultura Bruno Blackfoi inaugurada no final de setembro. Localizada na Rua Vinícius de Moraes, na Tapera, a casa é mais que um simples centro cultural. Funciona também como uma biblioteca comunitária e oferece oficinas de arte, contação de histórias e letramento. O espaço visa proporcionar aos moradores, um dos bairros mais carentes da cidade, a oportunidade de explorar suas potencialidades artísticas e intelectuais.

“A ideia é levar perspectivas diferentes para essas crianças, que muitas vezes só conhecem a pobreza e a violência. A cultura é o caminho para um futuro mais digno. A Casa de Cultura é também uma homenagem ao artista Bruno Black, que há mais de dez anos realiza trabalho cultural em comunidades do Rio de Janeiro e é padrinho do projeto”, explica Cris.

O desafio de promover cultura nas periferias

Para Cris Lemos, trabalhar com cultura na periferia é um desafio constante, principalmente pela falta de políticas públicas efetivas. “O poder público, infelizmente, não chega onde realmente é necessário. Não acredito que faltem recursos ou pessoas dispostas, mas sim interesse. Já tentei viabilizar outros projetos, mas sem sucesso”, desabafa.

A educadora também critica a mobilização em torno do racismo, afirmando que as datas comemorativas como o 13 de Maio e o 20 de Novembro são insuficientes para provocar uma conscientização real sobre o problema. “As crianças não sabem o que é racismo, muitas até reproduzem atitudes racistas, o que mostra que não há uma verdadeira educação sobre isso. As escolas não falam sobre racismo durante o ano, apenas nessas datas. É como se fosse só uma maquiagem”, lamenta.

De acordo com Cris Lemos, a literatura e a cultura têm um poder transformador profundo. Ela acredita que, quando os jovens têm acesso a uma educação de qualidade, além de literatura e atividades culturais, podem romper com os ciclos de violência, tráfico e baixa escolaridade. “A literatura amplia a visão de mundo, e as atividades culturais conectam esses jovens com novos valores e perspectivas, oferecendo-lhes opções diferentes de vida. Muitas das pessoas com quem cresci estão mortas. A maioria morreu por ignorância, por não saberem sobre seus direitos, ou por falta de acesso a cuidados médicos. Conhecimento é poder, e o poder está em compartilhar, não em guardá-lo para si”, reflete.

Ativista cultural e social, a educadora Cris Lemos publicou dois livros

Com o apoio de voluntários como Lauany Gomes, Lázaro, Jociane, Adriana e Kátia, a escritora que já publicou dois livros segue com a missão de transformar a Tapera em um lugar de resistência e esperança. “A cultura e a educação são as principais armas contra a opressão social e racial.A educação tem o poder de transformar. Ao proporcionar às crianças e jovens a oportunidade de conhecer outras realidades e expandir seus horizontes, estamos plantando as sementes para um futuro diferente”, conclui.