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Luiz Césio Caetano: Um campista na presidência da Firjan

Foco na transição energética e Porto do Açu para o desenvolvimento regional

Entrevista
Por Aloysio Balbi
17 de novembro de 2024 - 0h03
Foto: Johas/Firjan

Empossado em outubro para um mandato de quatro anos como presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o empresário Luiz Césio Caetano é acionista e diretor corporativo da Refinaria Nacional de Sal – Sal Cisne, na qual trabalha há mais de 40 anos. Desde 2023, é também diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Nascido em Campos em novembro de 1949, é o terceiro filho de uma família de duas irmãs e um irmão caçula. Viveu também no interior de São Paulo, nos Estados Unidos, em Cabo Frio, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro e em Niterói. Engenheiro mecânico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1972, começou sua trajetória profissional como estagiário na Sal Cisne, em 1970. Desenvolveu a carreira em outras indústrias e, em 1984, foi convidado pela Refinaria Nacional de Sal para retornar e assumir o posto de Diretor Industrial.

Você é campista, mas saiu daqui muito cedo. Quais lembranças você tem da cidade?
Nasci em Campos e vivi a maior parte da minha adolescência na cidade. Tem uma história de família curiosa: minha mãe é campista, mas na época em que estava grávida, morávamos em São Paulo. E ela fez questão de que seu filho nascesse aqui, na sua terra natal. Então, voltamos temporariamente para Campos em 1949, quando nasci, e voltamos em seguida para São Paulo. Morei lá até os meus 10 anos, quando então voltei para Campos para concluir os estudos. Fiz aqui o ensino fundamental e médio (na época, chamados de primário e ginásio), além do científico. No ensino primário, estudei no Externato Eucarístico (hoje Colégio Eucarístico), fundado pelo Padre Rosário, que até hoje funciona ali na Rua Formosa. Já o ginásio, eu fiz no tradicional Liceu de Humanidades de Campos e, como todo ex-aluno da instituição, também digo a todos que sou Liceísta com muito orgulho. Fiquei no Liceu até o segundo ano do científico, quando me mudei para os Estados Unidos para concluir os estudos, e de lá já fui direto para o Rio de Janeiro fazer faculdade. Então, eu vou sempre a Campos desde garoto. Visitava a família e fui muito ao Cine Goitacá, ao antigo Trianon… Frequentava a missa do Convento e, já adolescente, também ia muito aos bailinhos do domingo à noite no Saldanha da Gama e no Tênis Clube. Eram os pontos de encontro dos primeiros namoros, da diversão com os amigos. No verão, como todo bom campista, migrávamos para as praias.

Por que decidiu aceitar concorrer à presidência da Firjan e do CIRJ?
Isso aconteceu de uma maneira bastante natural. Sou diretor da Firjan há mais de 20 anos, passei por todas as instâncias que um dirigente industrial pode passar. Quando Eduardo Eugênio (ex-presidente da Firjan) entendeu que havia cumprido sua missão, ele me procurou e conversamos sobre sucessão. Inicialmente, não era minha pretensão, mas, pensando pelo bem da indústria e da sociedade, aceitei esse desafio com muita satisfação.

Quais serão os principais desafios de sua gestão?
Segurança pública, mobilidade urbana e logística, eficiência do Estado e qualificação e atração de mão de obra para a indústria. O Rio precisa enfrentar com urgência problemas de infraestrutura e de segurança pública que impactam cidadãos e empresas. Um exemplo: o roubo de energia elétrica, que faz da tarifa fluminense uma das mais caras do Brasil. Para que o estado do Rio assuma plenamente seu potencial de principal hub logístico do país e traga mais desenvolvimento, é fundamental mais segurança e investimento em vias estratégicas, como a BR-040, a BR-101, a ferrovia EF-118 (que vai conectar o Porto do Açu à malha ferroviária nacional) e a valorização de seus portos e aeroportos. Já a reforma tributária trará um sistema de tributação mais simples e equalizando a carga entre os setores. No longo prazo, a isonomia tributária dinamiza a economia, gera mais empregos, renda e mercado consumidor. E põe fim à guerra fiscal entre os estados brasileiros, tornando-se mais competitivo quem tiver melhor infraestrutura. Nesse aspecto, o Rio sai na frente pela presença de portos, aeroportos e rodovias federais que interligam diversos estados do país.

A Bacia de Campos chegou aos 50 anos em 2024. Já passamos pelo auge e hoje vivemos um processo de revitalização. Até quando acredita que este mercado vai se manter como grande força econômica da região?
O processo de revitalização iniciado já apresenta resultados, mas, vemos a necessidade de trabalharmos ainda mais na melhoria do ambiente de negócios para aumentarmos o fator de recuperação dos campos maduros e marginais na Bacia de Campos. Em visita recente à Firjan Norte Fluminense, a Petrobras afirmou que novos recursos têm sido aportados para que plataformas continuem em operação até 2050, além de outras operadoras independentes que possuem planos de expansão de suas atividades na região. Há, ainda, oportunidades no descomissionamento, que é um processo de retirada de antigas plataformas e sua destinação para o desmantelamento, sempre de forma segura e sustentável, para o reaproveitamento de suas partes e peças em outros processos industriais. É um novo mercado que vai movimentar cerca de US$ 8 bilhões apenas nas unidades da Bacia de Campos.

O Porto do Açu está bombando, mas, são necessárias algumas alternativas, como a estrada de ferro. De que forma a Firjan pode contribuir?
O Porto do Açu tem uma localização estratégica e, hoje, representa a esperança de desenvolvimento da região e do Estado do Rio, tem apenas 10 anos, mas já é um sucesso, sendo responsável por 40% da exportação de óleo do Brasil. Já foram investidos cerca de R$ 60 bilhões, e para os próximos 10 anos estão previstos mais R$ 22 bilhões na expansão das atividades de mineração e óleo e gás, no avanço de projetos de energia renovável e na aceleração da industrialização de baixo carbono. Além de já ter o terceiro maior terminal privado de minério de ferro do Brasil, o Porto está construindo o maior parque termelétrico da América Latina.

E qual é o gargalo para este futuro tão promissor?
A infraestrutura, um dos temas primordiais da Firjan para a região. É preciso conectar o Açu ao país para que não se torne uma ilha de oportunidades perdidas e, neste sentido, nossas principais pautas são a conclusão da duplicação da BR-101, com prioridade para a Estrada do Contorno de Campos, e a construção da EF-118, ferrovia que vai conectar o Porto do Açu à malha ferroviária nacional. Este novo acesso abre uma gama enorme de possibilidades, como, por exemplo, estimular a própria indústria de fertilizantes e o agronegócio do interior: o mesmo trem que trará os grãos para o nosso litoral, levará os fertilizantes para o Centro-Oeste brasileiro. Com a EF-118, o Açu teria uma demanda imediata de mais de oito milhões de toneladas.

O que, na sua visão, fará o Rio entrar de fato no rumo do desenvolvimento econômico? 
São diversas as oportunidades já mapeadas, inclusive, pela Firjan/Senai/Sesi. O território fluminense é o maior produtor energético no país, com mais de 66% da produção nacional de gás e 86% do petróleo. Mesmo com essa liderança, é preciso investimentos na transição, na integração e na eficiência energética. Isso é uma questão estratégica e de segurança. Hoje, o Rio de Janeiro sofre com os furtos de energia elétrica e essa perda compromete a prestação do serviço. Em paralelo, a qualidade da energia fornecida para os consumidores deixa muito a desejar e impacta na competitividade das empresas. Temos um exemplo em Santo Antônio de Pádua, no Noroeste: a indústria tem prejuízos enormes por conta da variação de tensão.

Os empresários se queixam muito de falta de mão de obra qualificada. Como a Firjan encara esse desafio e como pode apoiar os empresários?
A pandemia e o surgimento de tecnologias disruptivas, como a IA (Inteligência Artificial), criaram muitos desafios para as indústrias. Junto com eles vieram também as novas relações de trabalho. A digitalização da produção exige mão de obra cada vez mais qualificada e disputada. Um grande desafio atual é formar, atrair e reter trabalhadores, o único caminho para o país elevar sua produtividade de maneira sustentável.

A Firjan completará 200 anos durante a sua gestão. Qual será o legado da federação para as próximas gerações?
O legado da Firjan para as próximas gerações pode ser compreendido a partir de um papel histórico no fortalecimento do setor industrial e no desenvolvimento socioeconômico do Brasil e do estado do Rio de Janeiro. Ao promover educação de qualidade e estimular a inovação, a tecnologia, a promoção de saúde e a sustentabilidade, a Firjan oferece uma base sólida para a modernização dos processos produtivos, preparando empresas e trabalhadores para os desafios da economia global. Além disso, a capacidade da Firjan em influenciar políticas públicas e a atuação na criação de ambientes de negócios mais competitivos certamente irá contribuir para um futuro de crescimento equilibrado, com impacto positivo na qualidade de vida das pessoas. Temos condições de fazer o caminho mais fácil para as novas gerações.

O que o senhor tem a dizer ao empresário do interior fluminense?
Que me identifico com as dificuldades deles. Nos últimos dois anos eu percorri praticamente todo o interior do estado e gostei muito dessa experiência. Foi uma vivência de muitas trocas e de escuta ativa. Minha sala de trabalho na Firjan estará sempre de portas abertas para os empresários do interior. Quero estar próximo dos empresários e das suas dores para entender muito bem cada pleito e para fortalecer cada vez mais as representações regionais.