Rodrigo Lira – Doutor em política, professor e pesquisador do programa de doutorado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades da Universidade Candido Mendes – Em outros tempos, a política brasileira parecia operar sob princípios que, embora imperfeitos, traziam certo respeito às instituições e ao papel do representante público. Os políticos debatiam, discordavam e defendiam suas ideias em espaços de diálogo que, ainda que acalorados, tinham um mínimo de civilidade e compromisso com o bem comum. Havia uma distinção clara entre os valores que moviam as decisões políticas e a ética necessária para atuar na área pública. Mas, com o tempo, essa realidade se transformou em um verdadeiro “circo de horrores”, onde valores como honestidade, respeito e diálogo são eclipsados por um espetáculo de oportunismo e violência.
Um dos aspectos mais marcantes dessa transformação é a maneira como a corrupção foi naturalizada. Atualmente, o envolvimento de políticos em escândalos de corrupção, algo que outrora seria devastador para suas carreiras, parece não surtir mais o mesmo efeito negativo. Em muitos casos, mesmo com condenações por tais crimes, são absolvidos pelas urnas, eleitos e reeleitos, sem rastro de indignação do eleitorado, que demonstra uma apatia perigosa ao assimilar a corrupção como algo intrínseco à política.
A política de violência, por sua vez, atingiu patamares alarmantes. Não se trata mais apenas de debates retóricos ou ideológicos, mas de agressões físicas e verbais que escalam até mesmo em espaços públicos e debates transmitidos por canais de comunicação. O que antes era uma arena de discussão de ideias agora se converte em um palco de confrontos pessoais, ataques diretos e falta de respeito entre os adversários. Essa falta de decoro é cada vez mais evidente, com confrontos que ultrapassam o limite da civilidade, manchando a imagem das instituições e corroendo a democracia brasileira.
A intolerância, fomentada pela polarização política, é outro fator determinante desse cenário caótico. As paixões de ambos os lados do espectro ideológico criam bolhas de idolatria, em que certas figuras políticas se tornam intocáveis, independentemente de suas falhas éticas e morais. Essas bolhas acabam por tornar invisíveis questões fundamentais que deveriam ser levadas em conta na escolha do voto, como capacidade de articulação política e gestão, compromisso com a democracia e o bem-estar da população.
Com isso, a política brasileira se vê refém de extremos, onde a idolatria cega substitui o senso crítico, e o debate construtivo dá lugar a ataques e divisões que, em última instância, enfraquecem o tecido social e o futuro do país. O “circo de horrores” continua, enquanto a sociedade paga um altíssimo preço por este triste cenário. Até quando?
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