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A falta de consciência e educação no descarte do lixo

Apesar de sete pontos de coleta de entulho espalhados pela cidade, população mantém hábito de sujar vias públicas

Especial J3
Por Monique Vasconcelos
22 de setembro de 2024 - 0h01
Sujeira|Calçadas, terrenos abandonados e até vias públicas são locais onde há acúmulo de lixo na cidade (Fotos: Silvana Rust/Arquivo Pessoal)

Embalagens, restos de alimentos e até sofás. Quem anda pelas ruas de Campos dos Goytacazes se depara com esse e vários outros tipos de material. O descarte inadequado de lixo e de entulhos por todo o município impressiona, mas em alguns pontos o problema é ainda maior, mesmo com a existência dos Pontos de Entrega Voluntária de Entulhos (PEVEs), ou, mais popularmente conhecidos, “entulhódromos”. Nem todo mundo sabe, mas descartar lixo e entulho em vias públicas é considerado crime ambiental. Na tentativa de solucionar o problema, a Prefeitura de Campos disse que reforçará as campanhas educativas no município.

Não é difícil ver todo tipo de descarte inadequado de lixo pelas ruas. Os materiais despejados vão desde lixos “de mão”, como papel de bala, bituca de cigarro, até mesmo itens maiores e pesados, como televisores quebrados e camas, por exemplo.

Em relato à equipe de reportagem do J3News, a dentista Luiza Amaral contou que tem visto ultimamente muito entulho jogado na Beira-Valão. “Isso acaba deixando a cidade muito feia. Tem até sofás jogados. Não sei o que passa pela cabeça das pessoas de fazerem o valão de depósito de lixo. É um absurdo”, se queixou Luiza.

O mesmo reparou o aposentado Jorge Luís da Silva, que acredita que esse comportamento seja fruto de falta de educação das pessoas. “O campista está cada dia mais sem educação. Antigamente as pessoas não faziam essa bagunça que está aí. Agora jogam lixo em todos os lugares. É uma falta de respeito com o próximo”, disse o aposentado.

A professora Carolina Siqueira anda muito a pé pela cidade e disse que acaba passando por muitos lugares com muito lixo no chão. Ela também acredita que a culpa seja da população. “Acho que falta educação às pessoas em não guardarem seus lixos até encontrarem a lixeira mais próxima”, disse Carolina.

A advogada Cristiana Macedo corrobora com a afirmação de Carolina e diz que observa que muitas pessoas têm o hábito de jogar lixo na rua. “Acho isso um absurdo. Quando não vejo uma lixeira, eu guardo o lixo na minha bolsa até encontrar”, comentou Cristiana.

O contador Rafael Salles relatou que sempre fica indignado quando vê alguém jogando lixo no chão. “Às vezes tem uma lixeira logo à frente, mas parece que algumas pessoas têm o prazer de sujar a cidade. Não entendo”, disse Rafael. Ele disse que inclusive já chegou a repreender algumas pessoas por esse comportamento. “E as pessoas ainda querem discutir como se estivessem certas. É complicado”, reclamou o contador.

Variedade|Itens vão de roupas a colchão e até sofás

Flagrantes
Durante a produção desta reportagem, a equipe do J3News passou por diferentes ruas de Campos dos Goytacazes e flagrou lugares com lixos despejados inadequadamente e lixeiras depredadas. Foram encontrados, por exemplo, camas na Avenida Carmem Carneiro, no Parque Guarus; na pracinha Santa Helena e em um terreno baldio na Rua General Estilac Leal, no Parque Santa Helena. Sofás abandonados foram achados na Avenida Beira Lago, no Parque Guarus; em um terreno na Avenida Nilo Peçanha; e na Beira Valão. Outros locais visitados pela equipe foram o Calçadão e a Praça São Salvador, no Centro, que tinham lixo jogado no chão.

Sete PEVEs
A equipe de reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Campos para saber quais são as providências tomadas nessas situações. Por meio de nota foi informado que “o lixo doméstico é recolhido todos os dias. O município conta com sete Pontos de Entrega Voluntária de Entulhos (PEVEs) que recebem todo o tipo de resíduos, com exceção de lixo doméstico.

Os PEVEs estão localizados nos seguintes pontos: Avenida Nossa Senhora do Carmo, no Parque Aurora; Parque Santa Rita, atrás do Hospital Geral de Guarus (HGG); Avenida Zuza Mota; Penha; Caju; Flamboyant e Julião Nogueira”, informa.

Além disso, de acordo com a Secretaria de Serviços Públicos, serão reforçadas campanhas educativas em bairros que estão com incidência maior de descarte ilegal de resíduos. A Prefeitura também disse que as secretarias de Serviços Públicos e Educação fazem palestras em escolas públicas e privadas, falando dos serviços que são ofertados e sobre a importância da consciência ambiental. “As ações são sempre divulgadas também para os veículos de comunicação, principalmente sobre o crime ambiental que é descartar resíduos pelas ruas da cidade”, informou a nota.

Como denunciar
A população também pode colaborar e denunciar aquelas pessoas que estejam fazendo despejo irregular de entulhos em terrenos baldios fazendo contato com a Central de Atendimentos, através do número (22) 98168-3645. Na denúncia sempre são solicitadas fotos e endereço do local onde o descarte irregular foi feito.

Quem for flagrado, está sujeito a multa que varia de 25% do salário mínimo até 10 salários mínimos.

A conscientização que começa em casa
Embora muitas pessoas sejam as responsáveis pelas sujeiras nas ruas, outras vão na contramão e fazem o descarte correto do lixo, como é o caso da doutora em Ecologia e Recursos Naturais Tatiane Oliveira.

Exemplo|Tatiane separa resíduos secos e úmidos antes de descartar

Tatiane disse que o descarte correto do lixo possui um papel fundamental na construção de uma sociedade sustentável e na modelagem de cidades inteligentes. “Separar e descartar corretamente os nossos resíduos reduz a demanda por novos recursos naturais, ou seja, a retirada de recursos do meio ambiente, e reduz a poluição, uma vez que os resíduos serão alocados corretamente para reciclagem ou descarte final”, explicou a especialista.

A pesquisadora lembrou que, no entanto, a coleta seletiva exige conscientização da população quanto à higienização dos resíduos. “Não podemos descartar o nosso lixo sujo. É preciso lavar, secar e então descartar. Resíduos sujos com restos de alimentos contaminam os demais e inviabilizam a reciclagem. É preciso um trabalho conjunto para que possamos reduzir os impactos da geração de milhões de toneladas de resíduos que deixam de se tornar matéria-prima e viram lixo em aterros sanitários. Precisamos educar nossa população, afinal, sustentabilidade só se alcança com educação”, disse Tatiane.

A consciência ambiental não está na vida de Tatiane somente na teoria. Em casa, ela separa resíduos secos e úmidos. “Os secos são direcionados para a estação de coleta do nosso condomínio, o que é pouco comum em nossa cidade, e os resíduos úmidos (restos de alimentos) colocamos em nossa composteira doméstica. Tenho uma composteira e produzo adubo para as minhas plantas com ela”, contou.

Além das pessoas fazerem a separação do lixo em suas casas, os catadores de lixo fazem um trabalho de reciclagem que contribui com a sociedade. Campos dos Goytacazes possui quatro cooperativas de material reciclável, que são a Cata-Sol, a Nova Esperança, a Reciclar e a Renascer.