Na época da pandemia, não saía de casa. Inventadeira de moda que sou, como dizia mamãe, me vi escrevendo dois livros de Literatura Infantil e pasmem: resolvi fazer uma colcha de retalhos.
Minha irmã é muito habilidosa com agulhas, linhas e tecidos. Minha filha havia encapado caixa com tecidos. Então, retalhos não eram o problema. A dificuldade era que tudo saísse exatamente como eu queria: cada quadro do mesmo tamanho. Feito isso, comecei a uni-los um a um. Tudo feito a mão. Confesso que demorei bastante para dar conta dessa tarefa.
Passo seguinte: costurar na máquina. Minha irmã sempre diz que é ela quem termina meus projetos artesanais. Antônia tem razão em dizer sim. Sempre acontece. Seja um trabalho de crochê ou de costura.
Último passo: costurar um forro e colocar um viés nas extremidades. Apelamos para a costureira profissional. Ficou linda, linda.
Querer ter hoje uma colcha de retalhos não foi uma vontade qualquer. Quando criança, nossas camas invariavelmente eram cobertas assim. Mamãe unia os tecidos e o resultado era sempre colorido e aconchegante. Desse modo, naqueles dias cinzentos da pandemia, eu consegui trazer mamãe e minha infância para perto de mim.
Uma coberta de pedaços de tecidos emendados faz parte da cultura do Brasil do interior. Traz afeto e memórias. Talvez, de forma inconsciente, busquei, numa época tão difícil para todos nós, algo que me acalentasse e trouxesse conforto. E trouxe.
Terminei também, no período da pandemia, os dois livros de Literatura Infantil que me propus a escrever: Nino sem juízo e Creonte e Kiki. O primeiro já foi publicado e se juntou a outros três que se seguiram: Cadê?, Mistério Caramelo e Doce Poesia. Meus filhotes já foram lidos por muitas crianças.
E assim sigo a caminhada, tentando emendar cada experiência, cada realização como se fossem retalhos de uma grande colcha que se chama vida.
Em cada pedacinho de tecido e em cada ponto de costura, um sentimento, uma ideia, uma dor, um prazer.