×
Copyright 2024 - Desenvolvido por Hesea Tecnologia e Sistemas

Historiadora diz que sobrevivência do Canal Campos-Macaé envolve diferentes cidades, usos e atribuições

Rafaela Machado questiona sobre o futuro do canal e a responsabilidade de governos e órgãos ambientais

Meio Ambiente
Por Ocinei Trindade
27 de julho de 2024 - 8h31
Trecho urbano do Canal Canpos-Macaé (Fotos: Silvana Rust)

O J3News encerra neste sábado (27) uma série de entrevistas exclusivas sobre o histórico Canal Campos-Macaé. O patrimônio tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) é tema da reportagem especial “Inércia do Estado atrapalha obras no Canal Campos-Macaé” (Leia Aqui). A historiadora Rafaela Machado é uma defensora da preservação e revitalização do bem público inaugurado como hidrovia no século XIX, mas que caiu em desuso pouco tempo depois com a chegada da estrada de ferro. Ela questiona sobre o futuro do canal e a responsabilidade de governos e órgãos ambientais para manterem o Campos-Macaé sem poluição e degradação.

Como  analisa a manutenção e a situação atual do canal na zona urbana da cidade?

A manutenção do canal é insuficiente e ainda precária, o que faz com que o canal perca as suas atribuições ainda resistentes: drenar a água da região e servir de apoio à irrigação de inúmeras propriedades agrícolas. Vale ressaltar que o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) é o principal responsável pelo bem, e as prefeituras das cidades cortadas pelo canal devem dar o apoio possível, em especial através das suas secretarias de agricultura e meio ambiente.

Há inúmeras compensações socioambientais que possuem recursos aportados no Inea, mas que pouco, muito pouco, chegam à nossa região. O canal pode ser objeto de múltiplos projetos, englobando áreas como o turismo, a agricultura e o meio ambiente.

A pergunta que fica é: o que vem sendo feito ou pensado pelo Inea para desenvolver a área? Muito além da manutenção, necessária e que deve ser permanente, há que se pensar sobre o futuro do canal. 

Rafaela Machado é historiadora – Foto: Divulgação

Há décadas, o canal virou Beira-Valão. Como observa a questão da poluição e abandono?

Por maior que tenha sido a importância de tal obra e do empreendimento levado a cabo em pleno século XIX, que o tornou uma das maiores obras de engenharia do Brasil Império, é absolutamente compreensível entender os motivos pelos quais a população se refira ao canal – pelo menos em seu meio urbano – como Beira-Valão.

É de se lamentar que assim seja, mas é ainda mais urgente partirmos do lamento para ações concretas de recuperação desse bem. Ao longo de sua existência, o canal passou por diversas intervenções, teve suas funções ultrapassadas, ressignificadas, mantidas. Torná-lo um esgoto a céu aberto é um triste capítulo da sua história e, infelizmente, fala muito sobre como tratamos os nossos bens patrimoniais.

Projeto “Limpa Rio” coordenado pelo Inea e Governo Estadual

Como historiadora e pesquisadora, como vê as condições de preservação desse patrimônio histórico?

As condições são, infelizmente, precárias. Há trechos com certo nível de conservação, como o que corta o Parque de Jurubatiba; há cidades que aproveitam (ou tentaram aproveitar) o potencial turístico e cultural do canal, mas, no geral, esse bem ainda carece de muitos cuidados.

Acredito que as prefeituras das cidades cortadas pelo canal precisam unir esforços e agir conjuntamente, de forma regional, pela valorização deste patrimônio. O Inea precisa ser o articulador desse processo, pois como principal responsável, cabe a gestão da recuperação do mesmo.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) possui um processo de tombamento que pouco se desdobrou, muito por conta da falta de uma condução única, ou pelo menos mais uniforme, sobre esse bem. Meu medo é justamente que pela pouca informação reunida pelas prefeituras ou pela falta de condução do Inepac, o processo – assim como outros – termine por ser arquivado.

Lixo e esgoto são despejados no Canal Campos-Macaé

Canais artificiais de Campos sofrem dos mesmos problemas que o Campos-Macaé. Qual a importância deles para a região hoje e no futuro?

Na minha opinião, a solução para o Canal Campos-Macaé passa pelo resgate de seu valor enquanto um bem turístico e patrimonial. No entanto, é necessário que tenhamos um entendimento amplo do que seja o valor do canal enquanto patrimônio.

Aqui falamos de uma construção humana que se integrou à paisagem, que possuiu funções que foram vencidas pelo tempo e pela tecnologia, enquanto outras se renovaram e muitas outras podem ainda surgir.

Esse entendimento faz com que os mecanismos de proteção se coloquem de forma permanente (também urgentes), mas tolera as modificações e transformações impostas pela sobrevivência do próprio bem.

A solução para o canal, repito, passa pela valorização do bem enquanto um imenso ativo patrimonial e turístico, que envolve diferentes cidades e diferentes usos e atribuições.

LEIA TAMBÉM

Geógrafo diz que limpeza e manutenção do Canal Campos-Macaé são “inócuas”

Pesquisador da Uenf analisa a situação crítica do Canal Campos-Macaé na área urbana

Inércia do Estado atrapalha obras no Canal Campos-Macaé