Dois meses após o transbordo do valão que invadiu praticamente todo o distrito de Santo Eduardo, no Norte de Campos dos Goytacazes, a população faz o que pode para recomeçar. Aos poucos, as ruas vão voltando à normalidade e, olhando para o comércio, a impressão é que está quase tudo no lugar. O que os olhos não vêem assim numa visita rápida, é que muitas pessoas ainda não conseguiram voltar às suas casas e outras, que não podem voltar às antigas moradias, ainda não conseguiram sequer um local para alugar, através do aluguel social.
Michelle Ofrante estava em Cabo Frio quando a casa dela foi invadida pela água. Diante da destruição ela optou por fazer uma pequena obra e pintar as paredes antes de retornar. Alojada na casa de uma amiga, ela conta como está sendo o recomeço após perder, além de muitos móveis e objetos pessoais, as recordações que guardou dos familiares, especialmente da mãe e da tia. “Nós estamos fazendo todo o possível para tentar voltar ao que mais se aproxima da normalidade. Ainda há pessoas aqui que necessitam do básico, muita gente perdeu tudo e não tem condições de repor o que perdeu. Os benefícios, como o Cartão Recomeçar, por exemplo, ainda não começaram a ser liberado para as pessoas que conseguiram fazer o cadastro. Semana passada eu participei de uma ação de doação de cestas básicas e nós pudemos observar que ainda tem muita gente precisando desses donativos”, ressaltou Michelle.
Ela também relata que os serviços públicos seguem sendo ofertados, como por exemplo, a coleta de dados para inclusão das pessoas no Cadastro Único, necessário para inclusão no benefício do Cartão Recomeçar. De acordo com informações da Prefeitura, o atendimento da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social está sendo realizado às sextas-feiras na localidade.
Na enchente de março, a água atingiu mais de 2,5 metros em alguns pontos do distrito, um nível que nunca havia chegado. Relatos de antigos moradores contam que na cheia de 1975, a maior que consta nos registros, a água chegou aos bancos da praça principal. Desta vez, os bancos foram arrancados com a força da água. Nunca havia sido registrada uma cheia como essa na localidade. Casas, comércios, ruas, praça, todos os setores do distrito foram afetados e a comunidade praticamente inteira sofreu os efeitos da cheia.
Uma preocupação dos moradores do distrito é que ainda não ocorreu a dragagem do valão. “Há muitas árvores caídas, lixo e entulhos que acabaram indo parar no valão. Nossa preocupação é que outra chuva como aquela venha a acontecer e com o valão obstruído, como vai ser? Questiona Michelle.
O Secretário de Agricultura, Almy Júnior, explicou que, neste momento, a Prefeitura está focando em recuperar estradas e pontes e que ainda não há um plano para uma limpeza do canal. “Neste momento, em consequência do La Niña, não há previsão de fortes volumes de chuva naquela região, nos próximos meses a gente tem uma previsão, inclusive, de seca, mas, nós estamos fazendo a limpeza dos canais da Baixada, que ainda está inundada, que precisa ser retirada”, esclareceu o secretário.
Mais de 900 toneladas de entulho
Desde o dia seguinte à enchente, a empresa responsável pela coleta e tratamento de lixo em Campos passou a operar em regime especial na localidade, com funcionários e máquinas, a fim de desobstruir ruas e retirar todo o lixo, inclusive do interior das casas.
Durante mais de uma semana, a companhia atuou com três retroescavadeiras, uma carregadeira e 12 caminhões. Também foram deslocadas para Santo Eduardo, nove equipes, totalizando 150 funcionários atuando em todas as frentes de limpeza. Após 15 dias as equipes retornaram ao local para recolher mais material que foi retirado das casas e descartado. No total, até agora já foram retirados do local, mais de 900 toneladas de entulho.