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Projetos para melhoria da saúde

Dr. Maninho fala dos desafios enfrentados e das pautas futuras

Entrevista
Por Aloysio Balbi
6 de maio de 2024 - 0h01
Foto: Divulgação

Formado pela Faculdade de Medicina de Campos, com residência médica nos hospitais Pedro Ernesto e no da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcos da Silva Gonçalves, o Doutor Maninho, especializado em ortopedia, sabe lidar com emergência como poucos.

Durante toda a gestão do prefeito Wladimir Garotinho, ele desempenhou o cargo de subsecretário de Saúde do município, até que deixou a pasta para ser pré-candidato a vereador nas eleições deste ano. O médico também já presidiu a Fundação Municipal de Saúde.

Nesta entrevista, Doutor Maninho fala da importância de legislar para a Saúde e também detalhe dos desafios vencidos, como as reformas do Hospital Ferreira Machado e do Hospital Geral de Guarus. Defende, sempre que forem necessários, mutirões em parceria com a rede privada de Saúde e é um entusiasta da telemedicina.  

O senhor esteve presente nas principais ações na área de Saúde na administração do prefeito Wladimir Garotinho, sendo subsecretário da pasta. Como o senhor avalia esse período?
Eu sempre trabalhei com foco nos pacientes. Em função disso, batalhei para que a gente pudesse reformar, equipar adequadamente nossas unidades, dando um atendimento de qualidade para as pessoas e também para as equipes de saúde, para que pudessem ter  mais conforto e mais condições de atender o paciente. Vários mutirões foram realizados: o ortopédico, no qual foram realizadas 6.800 consultas e mais de 1.000 cirurgias, zerando a fila de espera. O mutirão de urologia, feito no HGG e outros hospitais através de convênio com a Prefeitura, em que mais de 6.000 pacientes passaram pelo procedimento cirúrgico; e também o mutirão de oftalmologia, no qual mais de 3.000 cirurgias de catarata foram realizadas. Outro feito muito relevante foi a implementação do programa SOS Coração, que, com pouco mais de um ano, já salvou mais de 250 vidas. Também avalio grandes avanços em nossa rede de urgência e emergência, tirando os pacientes dos corredores, devolvendo a dignidade a eles. Hoje temos um novo HGG, estamos caminhando para ter um novo Ferreira Machado, que está em reforma; ainda a Clínica do Adulto, que vai trazer muita qualidade para os pacientes de baixa complexidade; a Clínica da Criança, que resolveu o problema de atendimento pediátrico da nossa cidade; vamos ter o Centro de Hemodiálise para atender aos pacientes renais crônicos de toda região e também o novo Hemocentro. Ambos vão ser inaugurados ainda este ano. Então, posso dizer que é muito gratificante, olhar para trás e ver o resultado do trabalho que essa equipe maravilhosa da saúde pode realizar e me sinto muito honrado de, junto com Dr. Paulo, ter liderado esse grande time.

Por mais de uma vez o senhor assumiu a Secretaria com a ausência do titular Paulo Hirano. Esses momentos foram os mais desafiadores?
Dr. Paulo tem uma grande história na saúde de Campos, um grande legado, porque fez muito pela saúde da nossa população. Tivemos vários avanços graças à competência dele, que é uma grande referência para mim, tanto como profissional quanto como ser humano. Então, foi uma responsabilidade muito grande estar, mesmo que temporariamente, no lugar de alguém assim. Mas eu vi esse período como o cumprimento de um dever para com a saúde do nosso município e me esforcei para dar o máximo de desempenho para que as coisas acontecessem da melhor forma possível, nesse período em que, depois de cuidar de tantos pacientes, Dr. Paulo precisou cuidar de si mesmo, com todo nosso apoio. Com certeza o desafio foi grande, mas também foi muito compensador, uma grande experiência para mim.

Campos é uma cidade de mais de meio milhão de habitantes e somam-se a isso outros milhares que moram nos municípios vizinhos. Como é lidar com esse volume de demanda?
Posso dizer que a perspectiva da gente muda completamente quando estamos nesse lugar de liderança, porque, no meu caso, minha rotina como médico era limitada a atender os pacientes sob os meus cuidados. Mas, quando estive nesse cargo, pude perceber de forma muito mais ampla a complexidade de todas as “peças da engrenagem” e de como tudo precisa estar em alinhamento para que as coisas aconteçam de fato. Então, tive a visão ampliada de todas as etapas de como cada ação e decisão impacta as vidas que estão lá na ponta final deste processo. Como ortopedista, eu podia operar 3, 4 pacientes por dia, no cargo, era possível organizar os mutirões, por exemplo, e sanar num período muito menor de tempo o problema de saúde de muito mais pessoas. Ao mesmo tempo em que eu, como médico, conhecia a realidade de dentro dos hospitais do atendimento diário, na gestão eu pude atuar levando em consideração as demandas já vivenciadas e, portanto, ter um direcionamento assertivo no que diz respeito à otimização do atendimento aos pacientes, que é a grande finalidade de todo o nosso trabalho.

O senhor deixou a Secretaria para ser pré-candidato a vereador. O senhor acha que na Câmara é possível fazer mais pela Saúde?
Como respondi na pergunta anterior, existe todo um processo que precisa ser considerado, alinhado, para que as coisas funcionem como idealizadas. Muitas vezes, por opiniões divergentes ou até mesmo interesses pessoais, muitos excelentes projetos benéficos e estratégicos para sanar uma determinada demanda da população, não só na saúde, como em outras áreas também, deixam de acontecer por votos que impedem, atrapalham ou limitam a execução destes e, consequentemente, a evolução das melhorias e resolução dos problemas. O que é inaceitável, porque o que deve prevalecer, acima de qualquer interesse, é o bem comum da população que tem o direito de receber o melhor serviço público possível e, infelizmente, não o tem porque, no momento das votações na Câmara, os projetos são embarreirados. Então, sim, eu acho que posso, uma vez tendo essa compreensão, experiência e conhecimento de causa, dar voz às questões relacionadas à saúde e trabalhar articulando de maneira consistente e favorável pela continuidade e avanço maior, a partir deste cargo super relevante, para viabilizar tantas coisas grandiosas que ainda precisamos e podemos alcançar.

O senhor se formou em Campos e fez residência médica em hospitais como o Pedro Ernesto e o da UFRJ, no Rio. Pela especialidade ortopedia, tem experiências em emergência. O Ferreira Machado é uma referência nesta área. Ele poderia ser melhor?
Eu costumo dizer que a Saúde, seja em qualquer lugar do país, é uma área que nunca podemos considerar que está funcionando de forma perfeita. São muitos desafios na área da gestão de saúde, porque a gente resolve três problemas num dia e no outro tem mais seis novamente para resolver. Ainda mais quando se trata de um hospital que recebe o fluxo gigantesco de pessoas como é o caso do Ferreira Machado. Mas o que me deixa muito tranquilo e otimista é que temos uma equipe competente e engajada na administração, considerando o fato de que pegamos um ano e meio de pandemia, quando a prioridade exclusiva era salvar vidas e todos os recursos voltados para essa finalidade. É impossível negar o grande salto que o hospital deu em tão pouco tempo. Isso se deve à seriedade com a qual a equipe, juntamente com o prefeito Wladimir Garotinho, encarou o desafio de reestruturar o hospital que estava absolutamente sucateado quando foi assumido pela atual gestão. Por este motivo, tenho total convicção de que podemos melhorá-lo ainda mais, dando continuidade a toda essa evolução. Isso é só o começo. Temos muito trabalho pela frente e estamos confiantes.

Recentemente o senhor teve um encontro com o Dr. Diogo Neves, diretor clínico do Grupo IMNE, e discutiram projetos para a Saúde de Campos. Como o senhor avalia essa ideia de utilizar tudo que for necessário para a Saúde em parcerias com o setor privado?
Absolutamente coerente com a nossa visão de atendimento otimizado para a população. Uma vez sendo necessário, faremos, como já fizemos de outras vezes. As contratações de serviços de assistência à saúde estão amparados na Constituição Federal, que deixa claro essa possibilidade no artigo 199. Ele estabelece a possibilidade da iniciativa privada complementar o SUS, por meio da sua contratação de serviços quando eles forem insuficientes para atendimento à população. Por isso poderemos, sim, firmar parcerias junto à iniciativa privada, observando sempre os princípios e diretrizes do SUS.

O grupo IMNE, que tem tecnologia de ponta, acaba operando com uma certa capacidade ociosa, principalmente nos horários noturnos. Se pensa nessa otimização?
Uma vez que haja a necessidade, haverá, sim, o contrato com a rede privada como um todo, para atender às necessidades dos pacientes que a rede pública não conseguir suprir, conforme previsto por lei, já acima mencionado.

Falamos do Ferreira, mas existem dois outros – o HGG, em Guarus, e o São José, em Goitacazes – que o senhor se empenhou para melhorar os serviços. Pode falar um pouco sobre isso?
No HGG, conseguimos entregar a nova UTI, enfermaria, deixamos prestes a ser concluída a obra do novo centro cirúrgico, da nova pediatria, e quem conhece o HGG é testemunha do quanto o hospital mudou… antes num estado deplorável, abaixo da dignidade humana de atendimento, chovia dentro, sem teto, sem reboco em algumas partes, sujo, com lâmpadas faltando… esse foi o estado em que lamentavelmente o hospital chegou na gestão passada. Hoje a realidade é completamente diferente e só vai melhorar. Em anexo ao hospital, o Centro de Hemodiálise, que, em parceria com o Governo do Estado, vai atender ao grande número de pacientes renais crônicos de toda região, que hoje precisam ir para outros municípios para fazer o tratamento de hemodiálise duas, três vezes por semana. Ou então se internar por vários dias para fazer o tratamento. Em breve essas pessoas não vão precisar sair da cidade para se tratarem, tampouco ficar dias afastados de seu convívio familiar e rotina para terem o tratamento digno que merecem e têm direito. Já no Hospital São José, conseguimos transformá-lo de uma UPH em um Hospital de fato, pois, apesar de ele já ter uma infraestrutura de hospital, não possuía equipe e nem equipamentos adequados, o que resolvemos, colocando uma equipe qualificada e equipamentos de ponta (entre eles um tomógrafo), para atender toda população da Baixada. Para os próximos anos, a perspectiva é de que o hospital seja ampliado, inaugurando uma Unidade de Terapia Intensiva, um centro de curativo em anexo ao hospital e ainda novos investimentos em equipamentos.

Parece que o senhor tem como um de seus projetos, caso se eleja, a implantação de um serviço de telemedicina. Como seria isso na forma de leis?
Na verdade, essa foi uma pauta levantada por Dr. Paulo Hirano, e que tem todo meu apoio. Vivemos um momento de mudança tecnológica muito significativa, a revolução 4.0, na qual o aparelho celular, por exemplo, está muito acessível às pessoas, como também o acesso à internet. Sendo assim, é importante pensar que para a população, muitas vezes, vai ser muito mais fácil e mais simples fazer uma consulta de casa, evitando um deslocamento de uma área mais remota para ir a um hospital. Imagina, por exemplo, uma comunidade como Santo Eduardo, por mais que tenha um hospital lá, mas está a aproximadamente 70 km de Campos, que precisa de um atendimento e eventualmente não possa sair de casa, como no caso da enchente que aconteceu recentemente. Imagina a facilidade que não seria ter uma consulta pelo celular, o paciente discar um número e o médico atendê-lo em questão de segundos ou no máximo minutos. A pessoa descreve seus sintomas, como está se sentido, o médico faz uma análise, uma entrevista inicial e prescreve a medicação adequadamente sem que o paciente precise sair de casa. Isso é excelente para a população, é um avanço enorme, sem dúvida uma ferramenta que salvaria muitas vidas também. Essa ferramenta já está em implementação em cidades-referência, e algumas metrópoles, como São Paulo. Por que não trazer isso aqui para Campos? A pandemia favoreceu muito no aspecto legislativo, já existe uma série de leis, inclusive de normativas dos Conselhos Regional e Federal de Medicina, que aprovam a telemedicina. Então, sendo algo que é bom para a população, temos a missão de realizar, e sem dúvida essa será uma das minhas batalhas como possível vereador.

Assim como o senhor conversou com Dr. Diogo Neves, da iniciativa privada, o senhor também tem conversado com o prefeito Wladimir sobre legislação necessária para a Saúde do município?
Eu e o Wladimir somos amigos há muitos anos, inclusive quando ele pensou em sair do cargo de deputado para vir ser prefeito, foi comigo que veio conversar. Na ocasião, eu confesso que não o encorajei, porque ele já tinha se estabelecido muito bem no cargo em que estava, e os desafios aqui eram gigantescos e muito desanimadores. Mas pulsa nele uma determinação imensa para mudança e melhoria para a população de Campos, sua cidade natal. Então, ele saiu de sua zona de conforto e veio cumprir seu propósito. Hoje eu fico muito feliz de poder ver os frutos de seu trabalho competente e ousado. Aprendo com ele, principalmente a liderar, buscando diálogos e ferramentas para viabilizar a Saúde e o bem-estar da população. Ele é um grande incentivador da minha pré-candidatura. Fico muito honrado por ele me colocar nessa vertente política, que é nova para mim. Creio que isso se deve à confiança que ele tem no meu trabalho, pelo que pôde ver durante o período que estive à frente da Saúde. Conversamos bastante sobre os rumos da Saúde na próxima gestão, fazendo projetos tanto para mim, a nível Legislativo, quanto a nível Executivo do prefeito. Estamos muito otimistas de que vamos colocar Campos na vanguarda, sendo uma cidade de referência no quesito Saúde. Temos uma equipe brilhante e com muita vontade de fazer acontecer, comprometidos em fazer bem o nosso papel de cuidar da população, certos de que o caminho para que isso aconteça é através de diálogos com o Executivo, com outras instituições, outras unidades que também prestam serviço de saúde de forma particular, de forma filantrópica com essa união vamos conseguir trazer muito mais melhorias para a Saúde.