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Prefeitura consegue R$ 33 mi para restauração do Asilo do Carmo

Recurso para prédio histórico está entre investimentos do PAC anunciados para a região

Especial J3
Por Cíntia Barreto
17 de março de 2024 - 0h01
Precariedade|Paredes do imóvel apresentam rachaduras e parte interna tem infiltrações e rastros de cupins (Fotos: Silvana Rust)

São muitos anos de espera pela restauração do centenário “Solar de Santo Antônio”, sede do Asilo Nossa Senhora do Carmo, em Campos dos Goytacazes. As marcas de abandono desta “senhora” construção de 178 anos estão por toda parte, do chão ao teto, enquanto as vigas de madeiras sustentam as paredes para não cair. No entanto, há esperança para que este local, tão significativo para o município, receba os cuidados que merece para continuar contando sua história. A boa notícia  é que o prédio histórico poderá ser reformado, já que o Governo Federal liberou um recurso, por meio do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Seleções, no valor de R$ 32,92 milhões para a recuperação do Solar. A verba é resultado da articulação política do prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, em Brasília. A proposta prevê a contratação de projeto de restauração, arquitetura, paisagísticos e complementares, e execução de obras com previsão de novas estruturas anexas. Outros patrimônios históricos de Campos, como Solar dos Ayrizes e Museu Olavo Cardoso, também precisam de reformas urgentes, mas, por enquanto, ainda não há data definida para que o serviço seja iniciado.

Construído em 1846 por Joaquim Pinto Neto dos Reis, o Barão de Carapebus, o Solar de Santo Antônio, recebeu, em diferentes momentos de sua história, visitantes ilustres como Dom Pedro II e os políticos campistas Thieres Cardoso e Tarcísio Miranda. 

Historiadora|Graziela Escocard (Foto: Arquivo Pessoal)

“Em 1883 o casarão hospedou o Imperador D. Pedro II, quando veio a Campos para a inauguração da luz elétrica, e o quarto em que ele pernoitou, tempos depois, foi transformado no Salão Nobre do Asilo. O solar foi construído na fase áurea do ciclo da cultura do açúcar. Esse prédio tem uma arquitetura colonial e é um solar típico, com 14 janelas na fachada principal e acesso por um lance de escadas semicircular que conduz a um pátio frontal cercado com grades de ferro trabalhadas”, explicou a historiadora Graziela Escocard.

Em 1904, o local passou a abrigar o Asilo da Velhice Desamparada, fundado pela conferência Vicentina São Francisco de Assis e mais tarde rebatizado com o nome conhecido atualmente, “Asilo Nossa Senhora do Carmo”. De acordo com a historiadora, os salões superiores do prédio eram alugados para recepções, casamentos e batizados das famílias mais tradicionais da cidade, o que garantiu os recursos para manter os idosos durante as décadas seguintes. Em 1946, o prédio foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (Iphan).

Mesmo tão importante para o município, o imóvel sofre com o abandono. Nas paredes, rachaduras, infiltrações e rastros de cupins. Janelas e vidros quebrados, mato e sujeira por várias partes. De acordo com o Presidente da Associação Mantenedora do Asilo de Nossa Senhora do Carmo e da instituição, André Araújo, a última obra no local foi feita em 2018. “Naquele ano foi feito o escoramento, a descupinização e todo o isolamento da área e o telhado. Como o prédio é tombado pelo Iphan, a restauração é complexa com muitos trâmites envolvidos”, explicou André, que ainda destacou que o prédio atualmente está totalmente isolado e escorado, por isso, não oferece risco para as pessoas que moram ou transitam pelo asilo.   

Atualmente, 68 idosos estão abrigados no Asilo do Carmo e, segundo o presidente da instituição, a despesa mensal do local gira em torno de R$ 100 a 110 mil reais. A reforma do prédio, para André, poderia ajudar o asilo de várias formas. “Ali, naquele prédio, a renda toda, na verdade, da instituição do Asilo, vinha de aluguéis, para casamento, para aniversários, festa de empresas, visitas de escolas. Então, quando ele for restaurado, a gente pode retomar esses eventos no prédio até porque os idosos estão abrigados numa ala em anexo. A gente tem, atualmente, uma ala de idosos particular, tem um convênio com o município de 68 mil reais e tem uns eventos que a gente faz na instituição para complementar os gastos mensais. Então, sem dúvida, a reforma do Asilo do Carmo poderá trazer muitos benefícios para a instituição”, afirmou.

O J3News solicitou informações detalhadas ao Iphan sobre a previsão de reforma do casarão e o órgão informou que: “neste primeiro momento, o PAC Seleções visou a contratação de projetos de restauração, arquitetura, engenharia e complementares. O projeto deve levar alguns meses para ser desenvolvido. Somente após a sua finalização será possível contratar as obras”. 

Investimentos do PAC
Em agosto de 2023, foi lançado o Novo PAC, destinando R$ 1,7 trilhão para investimentos em todos os estados brasileiros. Desse montante, R$ 1,4 trilhão será alocado até 2026, com os restantes R$ 320,5 bilhões distribuídos após esse ano. O programa concentra seus investimentos na transição ecológica, na promoção da neoindustrialização, no fomento do crescimento econômico do país e na geração de empregos de forma sustentável.

O município de Campos vai receber R$ 51,41 milhões para investimentos que irão contemplar vários projetos propostos pela Prefeitura em diversas áreas, como a da saúde, esporte e cultura. O maior valor dessa edição do PAC, em Campos, será para a contratação de projeto que beneficiará o Solar de Santo Antônio. Outros municípios da região Norte Fluminense também foram contemplados, como São João da Barra e São Francisco de Itabapoana.

1846|Solar já recebeu visitantes ilustres como Dom Pedro II

Outros patrimônios históricos de Campos sofrem o abandono
O prefeito de Campos, Wladimir Garotinho anunciou, na quarta-feira (13), que a Prefeitura vai promover obras de restauração e preservação do Solar dos Ayrizes, localizado em Martins Lage, à margem da BR 356. Tombado pelo Iphan desde 1940, o casarão foi construído na metade do século XIX, segundo a Sociedade Artística Brasileira (SABRA). O local foi residência de Alberto Lamego, um dos nomes mais conhecidos de Campos dos Goytacazes. O contrato com a empresa Bruta Empreendimentos, que prevê investimentos no valor de R$ 2.991.999,95, foi publicado no Diário Oficial de quinta-feira (14), tem prazo de 6 meses e prevê serviços de restauração, preservação e conservação do prédio histórico. “A Prefeitura finalizou a licitação para início da restauração do Solar dos Ayrizes. Uma reivindicação muito antiga da comunidade de historiadores e de amantes da história da nossa cidade. Tem uma determinação judicial, inclusive, bem antiga, determinando que isso seja feito, mas nunca havia sido tomada nenhuma providência, e a Prefeitura agora conseguiu finalizar a licitação e, no máximo em 15 dias, será feito o escoramento e a cobertura de todo aquele prédio, para evitar que ainda se deteriore mais e para poder fazer a restauração”, informou o prefeito. Wladimir ainda adiantou o que deve acontecer após a reforma do Solar dos Ayrizes: “Provavelmente ele fará parte do projeto Caminhos do Açúcar, que está sendo desenvolvido pelo Consórcio de Municípios, que prevê para o local um Museu da Energia, falando da energia elétrica, sobre álcool, açúcar e petróleo. É mais um motivo de alegria, mais uma notícia boa”, afirmou.

Abandono|Museu está fechado e com estrutura física danificada

Museu Olavo Cardoso
Imóvel que foi a residência de Olavo Cardoso, usineiro e filantropo campista conta com doze cômodos e é uma construção do final do século XIX com face para a rua e conta com porão e jardins. Segundo a historiadora, Graziela Escocard, entre 2006 e 2012, o prédio abrigou o Museu Olavo Cardoso, como havia desejado seu antigo proprietário. “O acervo era majoritariamente sobre a família Cardoso, mostrando os móveis e costumes da época” explicou ela.  No início de 2021, com parte de sua estrutura interditada e alvo de um furto de boa parte do seu acervo em dezembro de 2020, o museu teve todo o material abrigado em suas instalações transferido para o Museu Histórico de Campos e para o Teatro Municipal Trianon.  

O Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (Iphan) informou que o Museu Olavo Cardoso é responsabilidade da Prefeitura de Campos, pois o tombamento foi realizado pela mesma. Atualmente, o museu está fechado e com sua estrutura física danificada. Questionada sobre uma possível reforma no local, em nota, a prefeitura informou que “Em relação à recuperação do prédio histórico do Museu Olavo Cardoso, a Secretaria de Obras e Infraestrutura já elaborou o projeto e encaminhou para a Câmara de Vereadores, que ficou responsável pela realização da obra”. Entretanto, a Câmara respondeu ao J3News que “em 2023, houve uma proposta para instalar a Escola Legislativa no Museu Olavo Cardoso. No entanto, nenhum projeto foi apresentado para a Câmara. Sem contar que pelo estado da construção, a reforma seria de alto custo, o que inviabilizaria ser feita pela Casa de Leis. Diante a situação, a tratativa não foi adiante. Sendo assim, a estrutura e a obra não são de responsabilidade da Câmara”. Sobre este impasse, a Prefeitura não se manifestou até o fechamento desta edição.