Ele sempre ficava na sala, acomodado de um lado em que a luz da manhã lhe trouxesse vida. Seus olhos me acompanhavam durante todo o tempo em que lia na espreguiçadeira em frente.
Era um instante eternizado que continuava presente dia após dia.
Aquele tempo congelado me atraía e eu quase ia ao seu encontro no mesmo lugar de antes.
Os olhos, as mãos, os cabelos, tudo parecia tão palpável que o abracei afastando o livro.
De repente, um barulho. Estilhaços de vidro no tapete. A foto intacta. Ele continuava a me olhar.
E eu? O que faço com esses números?
Plantei, no meu quintal, imagens, palavras, textos. Por meio deles, viajei ora para bem longe, ora para bem perto de mim. Lá onde estão os guardados da alma. Foi assim como um barco em que acreditei caber um tanto de mundo que saia da pena.
Mas o mundo é grande, cara amiga. Há os números, a realidade, a sobrevivência a impor cálculos. Olhe o preço do feijão!
E agora, e eu? O que faço com esses números?