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Ocupação irregular, riscos de solo e água contaminados em Lagoa de Cima preocupam bióloga e pesquisadora

Sonia Guimarães também é jornalista; ela já morou na localidade e diz que falta mais rigor para combater crimes ambientais em Campos

Meio Ambiente
Por Ocinei Trindade
16 de outubro de 2023 - 14h01
Sonia Guimarães é bióloga e jornalista

A bióloga e jornalista Sonia Guimarães tem uma relação de bastante proximidade com a Lagoa de Cima. Por mais de 15 anos, ela morou na localidade que fica na zona rural de Campos dos Goytacazes, apontada como um dos principais cartões postais e patrimônios ambientais da região. A degradação local é destaque na reportagem especial “Falta de fiscalização ameaça Lagoa de Cima” (clique aqui). Nesta entrevista, ela comenta sobre os principais problemas que afetam o lugar, e sugere mais rigorpara punir e combater crimes ambientais.

Quais os principais problemas em Lagoa de Cima?

Ocupação irregular é um grande problema na Lagoa de Cima. As pessoas jogam lixo em qualquer lugar e a coleta de lixo tem algum tempo que foi bastante prejudicada. E a retirada da vegetação, que em consequência de construções irregulares, as pessoas acabam também tirando a vegetação para construir. E uma coisa grave. Por incrível que pareça, em Lagoa de Cima, as pessoas ficam sem água em casa. Por quê? Os poços secam. Os poços são totalmente irregulares, muitos cavados de qualquer jeito. Tem a questão da fossa séptica irregular. Eu acho que ali futuramente vai ser foco de problemas de saúde pela contaminação da água. É é um outro problema grave e ninguém se atenta para isso. Você vê aquela lagoa enorme e pensa que não tem problema de água, mas tem alguns lugares ali que para a pessoa ter água, tem que cavar o poço dentro da lagoa quando está mais seca.

Ocupação irregular e urubus atraídos por lixo à beira da Lagoa de Cima

Campanhas ambientais seriam necessárias. O que poderia ser feito para combater o problema ambiental em Lagoa de Cima e em outras áreas de Campos dos Goytacazes?

Bom, campanhas de conscientização, educação ambiental, seriam fundamentais. Isso é um trabalho que demanda tempo, é um trabalho a longo prazo. A curto prazo, eu acho que precisava realmente de punição e fiscalização. Se uma pessoa construísse alguma coisa, o órgão ambiental devia ir lá e derrubar para servir de exemplo para as outras pessoas.

Como observa a ocupação irregular na localidade e entorno?

É muito comum na Lagoa alguém colocar um trailer móvel num terreno, num lugar irregular, na beira da lagoa, por exemplo. Ninguém fala nada. Instala uma caixa d’água, começa a ocupar aquilo lentamente, até que constrói, derruba as árvores e se instala. E não tem nenhum tipo de punição.

A gente sabe que tem pessoas que compram terrenos baratos e constroem. Falta na Lagoa de Cima fiscalização e ação no sentido de punir as pessoas que não cumprem a lei. É óbvio que teria que ser um local com um trabalho de educação ambiental para conscientizar a população, fazer com que a população ame aquele lugar. A gente vê uma necessidade enorme de exploração. As pessoas não têm fonte de renda. Tentam explorar de alguma forma, ocupam o espaço e vendem. No entorno da Lagoa de Cima, tinha uma fonte de água maravilhosa, onde os moradores tiravam a água e bebiam daquela fonte. Entretanto, a fonte secou. A mudança ambiental que a gente observa tem a ver com a retirada de vegetação.

Lixo se espalha em diversos pontos da Lagoa de Cima

Durante o período em que morou, o que mais chamou à atenção em relação aos descuidos do Poder Público, moradores e turistas?

Nas últimas vezes que lá estive e no tempo que eu morei, a gente não tinha atuação nenhuma dos órgãos ambientais, eram totalmente ausentes e omissos. Acontece uma outra coisa grave, que é a questão de um empurrar uns para os outros a responsabilidade (Inea e Prefeitura de Campos) de conservação.

Essa questão da ocupação me incomodava profundamente. Os moradores não tinham menor carinho pelo lugar. Aconteceu na rua onde eu morava um episódio. Venderam uma chácara e a pessoa que comprou dividiu em dez terreninhos de seis metros, totalmente irregular. Ali é uma área rural e deveria ter um mínimo, um limite de tamanho de terreno. Isso impactou diretamente a captação da água no local porque aumentou.

A demanda de água é preocupante. Há poços artesianos sem a distância mínima entre as fossas. Provavelmente, as pessoas estão utilizando água contaminada pela fossa do vizinho. Denunciei isso ao poder público, mas fui ignorada.

Ainda sobre essas construções, elas barram o livre fluxo da água, que antes era bastante comum lá. Quando eu fui morar lá há mais de 15 anos, a gente ainda via muitos animais e aves migratórias que passavam ali, que aproveitavam as áreas alagadas. Agora a gente não vê mais isso, piorou muito. A caça de passarinho é muito comum na Lagoa de Cima e a gente não vê ninguém tomando nenhuma atitude de impedir esse tipo de crime Com as ocupações humanas, aumenta a produção de lixo. A contaminação do solo acaba refletindo também na contaminação da água da Lagoa de Cima.

Morador cerca árvores e avança sobre a faixa de areia

O que mais a preocupa neste momento?

Observo a ocupação irregular com bastante pesar. A região, principalmente ali do lado de São Benedito, é uma área que tem bastante brejo, e esses brejos são áreas que, quando a lagoa está cheia, são áreas de expansão.

As pessoas vão ocupando esses brejos, aterram os brejos e constroem dentro da área. Isso é gravíssimo porque afeta muito a biodiversidade, além da hidrologia local. Se você impede que a água passe por alguns lugares, isso acaba levando a água para subir em lugares que ela não deveria estar.

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