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Safra de cana deve ser 20% menor

Mesmo com a quebra de safra, setor vai movimentar R$ 700 milhões

Geral
Por Clícia Cruz
6 de agosto de 2023 - 5h00
Fotos: Silvana Rust

A falta de chuva no início de 2022 e a enchente do final do ano ocasionaram a quebra da safra de cana-de-açúcar de 2023. No ano passado foram moídas dois milhões de toneladas de cana na região, enquanto este ano, pelas projeções feitas pela Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan), não deve passar muito de 1,5 milhão. Apesar da diminuição da quantidade de cana, o setor ainda está movimentando cerca de 700 milhões e sendo o responsável pelo aumento do número de contratações formais em Campos. Para o próximo ano, a expectativa é de uma safra maior que a de 2023. Na Coagro, principal usina processadora de cana da região, o ritmo se manteve igual a 2022, mas a unidade Paraíso, que fica em Tocos, que tinha previsão para início de operação este ano, só fará uma moagem teste, porque não há cana suficiente para viabilizar a operação.

Tito Inojosa – Presidente da Asflucan

“A falta de luz solar foi fator predominante para que a cana não tivesse o desenvolvimento esperado.  Nós tivemos a enchente em fevereiro e março do ano passado e depois tivemos enchentes novamente em novembro e dezembro”, destaca Tito Inojosa, presidente da Asflucan. “Este ano nós esperamos que a situação fique melhor, porque a Asflucan já fez 250 km de desobstrução de canais e isso vai melhorar bastante a questão da saída da água, não só nas áreas rurais, diminuindo as possibilidades de perdas pelos produtores”, enfatiza Tito. Ele também acredita que as últimas chuvas ocorridas no município, já sejam uma prenúncio de uma boa safra em 2024.

A maior usina em funcionamento na região, a Coagro, contratou três mil trabalhadores na safra deste ano. São pessoas que atuam no corte de cana, funcionários da indústria, técnicos, químicos, engenheiros e outros profissionais. Segundo o presidente da Coagro, Frederico Paes, mesmo com a safra menor, a Coagro vai moer a mesma quantidade de cana do ano passado.

Frederico Paes – Presidente da Coagro

“Na região, toda a safra deve ter uma quebra que pode chegar até a 20%, porém nós na Coagro vamos moer a mesma quantidade que o ano passado e, de repente, até um pouco mais, porque o açúcar está remunerando melhor que o álcool, por isso nós optamos por produzir açúcar, para também remunerar melhor ao produtor rural, que fornece para nós porque tem a garantia do recebimento”, destaca Frederico.

Ele estima que esta safra movimente em torno de R$ 700 milhões na região, que tem a produção processada por três usinas. Além da Coagro, a Canabrava e a Paineiras, que fica no Espírito Santo, mas absorve a maior parte da cana produzida em São Francisco de Itabapoana. “É importante dizer que 60% desse recurso é pago ao produtor e esse valor fica na região, o produtor gasta e consome aqui grande parcela disso”, ressalta o presidente da Coagro.

 Emprego e renda

Antônio Cruz – Produtor Rural

A indústria sucroalcooleira movimenta milhões, mas também movimenta financeiramente a vida dos trabalhadores e dos pequenos produtores rurais. Antonio Cruz plantou nove hectares de cana numa pequena propriedade que fica na localidade Campelo, na zona rural de Campos. Ele acredita que vá colher, em média, 70 toneladas por hectare, no ano passado ele colheu cerca de 100 toneladas na mesma área. Utilizando a maior parte da propriedade para o plantio da cana desde o ano 2000, Antônio acredita que mesmo com a diminuição do produto e a baixa do preço o plantio vai valer a pena. “Até o valor que está hoje, de R$ 100 por tonelada ainda vale a pena, se cair mais já não fica viável”, ressalta o produtor.

Sobre essa queda, Frederico Paes, presidente da Coagro, explica que na Cooperativa existe a possibilidade do produtor fornecer a cana e aguardar o preço do açúcar subir no mercado para receber, no sistema chamado de moeda produto.

A área que mais emprega neste período é o corte de cana. Rosemari tem 55 anos, moradora de Travessão, distrito de Campos, ela vinha encontrando dificuldade de encontrar emprego no mercado formal e o início da colheita foi um alívio, já que com a contratação ela pode programar o pagamento das contas da casa. Na informalidade desde o final da safra de 2022, ela agora comemora a oportunidade de trabalhar, mesmo sendo um trabalho que exige muita resistência física. “É um trabalho pesado, mas eu agradeço a Deus poder ter saúde pra trabalhar e agradeço a chance de estar contratada porque está muito difícil conseguir trabalho, a gente vai se virando com os bicos. Tô aqui na luta, sonhando com a aposentadoria”, diz a trabalhadora. Ela afirma ainda que mesmo após o final da colheita, em setembro, pretende permanecer trabalhando nas lavouras de cana, na manutenção do canavial, fazendo capina.

Dentro da usina, a movimentação é intensa neste período e o laboratório é um setor fundamental para a garantia da qualidade do açúcar. Tatiana Tavares tem 27 anos, é analista de laboratório e está trabalhando na Coagro pela 8ª vez consecutiva. Ela, que estava desempregada na entressafra aguardava ansiosamente o início da moagem para ser novamente contratada. “O mercado é restrito para a minha profissão, então acabo sempre ficando empregada a metade do ano e essa época é a minha oportunidade de trabalhar”, conta a técnica, que tem na família outras três pessoas que também trabalham na usina durante a moagem, o pai, o irmão e o avô.

Segurança no campo

Para garantir as condições de trabalho dos cortadores de cana, a Coagro contratou cinco equipes de monitoramento de segurança no trabalho e um consultor para acompanhar todos os detalhes dos trabalhos que vêm sendo realizados nas lavouras, desde o momento do embarque dos trabalhadores. Nossa equipe encontrou José Roberto Pessanha, o Betinho, no canavial, fiscalizando os funcionários da usina na área de trabalho. Betinho atuou durante muitos anos como delegado do Ministério do Trabalho, o que lhe deu vasta experiência. Ele destaca que hoje, após um intenso trabalho de conscientização e fiscalização, os trabalhadores prestam serviço dentro das condições adequadas.

“Tudo que nós vemos fora dos padrões, nós reportamos à usina, para adequação imediata”, nosso trabalho tem sido nesse sentido, de garantir uma atuação segura e digna para os funcionários”, ressalta Betinho.

“As usinas estão tendo a maior prevenção e estão cumprindo as exigências com relação à segurança dos trabalhadores, que precisam usar equipamentos como, caneleiras, luvas, botas e óculos. Além disso, o transporte também está completamente regularizado, com ônibus seguros e com banheiros para que os trabalhadores possam utilizar”, disse o consultor.

Coagro Paraíso

A quebra de safra influenciou diretamente no planejamento do início da moagem na unidade Coagro Paraíso. A usina não terá este ano o início efetivo dos trabalhos, funcionando apenas com uma moagem que deve ocorrer durante as próximas semanas. A nova usina foi montada em um investimento de R$ 42 milhões no parque industrial e outros R$ 8 milhões na parte agrícola. Frederico Paes explicou que os produtores da Baixada Campista, além de agricultores de municípios como Quissamã e Carapebus, têm sido incentivados a produzirem cana, para abastecer a nova usina, já que para essas áreas, a logística será bastante favorável. “Nós estamos estimulando esses agricultores a plantar cana, mostrando que o produto tem uma boa remuneração e que vai ser um bom negócio para essa região”, destaca.