O tradicional setor sucroalcooleiro do Norte Fluminense aposta na inovação tecnológica para melhorar a produção de cana-de-açúcar. Neste ano, cerca de 6 mil agricultores devem produzir 1,8 milhão de toneladas, garantindo assim a moagem de três usinas na região e uma no Espírito Santo. De acordo com a Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan), apesar da grande quantidade, a produção está em queda em relação ao último ano, quando foram colhidas cerca de 2 milhões de toneladas, sendo insuficiente para atender à demanda. O setor discute a utilização de melhoramento genético, uso de drones e desenvolvimento de colhedoras, que visam facilitar e melhorar as condições de cultivo.
Na última semana, o VI Seminário da Cana-de-açúcar reuniu, em São Francisco de Itabapoana, produtores, gestores públicos e pesquisadores para discutir a questão. Em outubro, outro evento do setor está previsto para ocorrer em Campos.
Segundo o presidente da Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan), Tito Inojosa, os municípios de Campos e São Francisco concentram 90% das áreas cultivadas de cana-de-açúcar na região. “É necessário apresentar e tornar acessível as novas tecnologias aos pequenos produtores. Estamos atrasados em relação a outros estados”, acrescenta. Ele ressalta que a colheita prevista para este ano está abaixo da capacidade de moagem das usinas. “Só as usinas da Coagro (em Paraíso e Sapucaia) têm condições de moer 2,5 milhões de toneladas de cana. Fora a Canabrava e a Paineiras, que pegam perto de 360 a 400 mil toneladas de cana aqui no Estado do Rio”, ressalta.
Ainda sobre as novas tecnologias usadas a serviço da produção, uma pesquisa de melhoramento genético é realizada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Campos. O objetivo é garantir com que agricultores tenham acesso a sementes de cana-de-açúcar que produzem mais biomassa e açúcar por hectare e que as lavouras tenham maior longevidade, ou seja, que o produtor consiga colher mais vezes, sem que seja necessário fazer o replantio.
Em Campos, centenas de possíveis variedades estão sendo testadas, mas poucas delas se tornarão comerciais. “Essa é uma pesquisa contínua e de longo prazo. Nós cruzamos espécies e testamos para encontrar aquelas que sejam mais produtivas e resistentes a pragas e doenças”, explica o pesquisador Willian Pereira.
De acordo com o pesquisador, a Coagro já possui algumas plantações sendo realizadas, mas um convênio da universidade com a Asflucan pretende deixar esse material acessível também para o pequeno produtor.
Colhedora em desenvolvimento
De acordo com pesquisadores da UFRRJ, a colheita da cana-de-açúcar é um dos principais gargalos da produção canavieira fluminense. Atualmente, de acordo com a universidade, 85% da área de produção de cana-de-açúcar do Estado ainda é realizada de forma manual com queima prévia. A prática de utilização do fogo como método despalhador e facilitador do corte resulta em diversos problemas, como aumento das emissões de gases de efeito estufa, produção de fuligem, aumento de doenças respiratórias, empobrecimento do solo, morte de animais e perda de biodiversidade, entre outros. A Lei Estadual 5.990/2011 propõe o fim gradual da queima da cana-de-açúcar e, em 2024, esta forma de colheita não será mais usada no estado.
Para lidar com a situação, um novo protótipo de colhedora de cana-de-açúcar está em avaliação. A UFRRJ divulgou que as grandes máquinas disponíveis no mercado “apresentam baixa eficiência em canaviais com baixa produtividade e em pequenas áreas, situação comum no Norte Fluminense. Além disso, o custo para aquisição e manutenção deste tipo de equipamento é elevado”.
A expectativa da Asflucan é de que o maquinário esteja disponível para agricultores em setembro deste ano.