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Ivan Lins: o show de fim de ano do Sistema Terceira Via

O dono da voz concedeu uma entrevista exclusiva sobre sua extensa obra e carreira musical

Comunicação
Por Aloysio Balbi
27 de novembro de 2022 - 0h01
Ivan Lins se apresenta em Campos no dia 29, em show para convidados no Teatro Trianon (Divulgação)

Na terça-feira (29), o Sistema de Comunicação Terceira realiza seu show de fim de ano com um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira, Ivan Lins. Premiado quatro vezes com o Grammy Latino, é um dos artistas brasileiros de maior prestígio no mundo. O show, que acontecerá no Teatro Trianon, será para parceiros e convidados.

Ivan Lins vai tocar acompanhado de banda e o repertório será um medley de suas principais canções, com um combo de todas as fases. Fechando os olhos, a obra de Ivan Lins, para algumas gerações, arremete à voz de Elis Regina, mas é bom lembrar que ele já foi gravado também por artistas como a musa do jazz norte-americano Ella Fitzgerald, entre muitos outros.
Carioca, Ivan Lins tornou-se conhecido do grande público no início dos anos 1970, então despontando como um dos principais talentos de uma nova geração da MPB. Experimentou enorme e explosivo sucesso após ter sido segundo colocado no 5° Festival Internacional da Canção (1970), da Rede Globo, com a canção “O amor é o meu país” (Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza). No mesmo ano, Elis Regina lançava “Madalena” (Ivan Lins/ Ronaldo Monteiro de Souza), canção que marcaria toda a sua carreira.

Embora sua produção inicial tivesse uma relação íntima com estilos da música pop rock norte-americana, ao longo dos anos 70, Ivan Lins se apropriou, cada vez com maior intensidade, de estilos nacionais e regionais, como samba, bossa nova, baião, xote e moda de viola. Nessa fase, sua parceria com o letrista Vítor Martins foi determinante para o aprimoramento de seu estilo, quando os dois criaram verdadeiros clássicos da música brasileira.

Além de Vitor Martins, parceiro mais constante, Ivan Lins teve suas melodias letradas por Chico Buarque em duas canções: “Sou eu” e “ Renata Maria”, essa última selando uma grande amizade.

“Recebi por e-mail a melodia e demorei um pouco para fazer a letra. Mas não queria perder essa parceria com o Ivan. Então mandei uma letra enorme, que chamo de ‘letra monstro’ para marcar o território, porque aquela música teria que ser minha e dele. Depois sim, eu fiz a letra”, disse Chico Buarque em um recente documentário.

Nessas trapaças do destino, destaca-se o fato de Ivan Lins ter feito uma música especialmente para Gal Gosta, “Roda baiana”, que ela gravou em um dos seus álbuns. A cantora, outro ícone da música brasileira, morreu no último dia 9.

Foi quando Ivan Lins se firmou como uma das vozes mais ativas da canção popular, apresentando um rico repertório que falava de amor e relações humanas.

Na década de 1980, começou a ter seu talento reconhecido em âmbito internacional. Tornou-se um dos compositores brasileiros mais gravados no exterior. Suas canções foram interpretadas por artistas de grande renome internacional, como a já citada Ella Fitzgerald, mas também por Sarah Vaughan, George Benson, Michel Legrand, Sting, Diana Krall e seu grande amigo Quincy Jones. Ainda nos anos 80, fundou, com Vítor Martins, a gravadora Velas, visando lançar artistas de qualidade e com dificuldade de acesso às grandes empresas fonográficas.

Ivan Lins concedeu entrevista exclusiva ao Jornal Terceira Via, quando falou de assuntos relevantes, como o fato de quase ter trabalhado com Michael Jackson, a parceira com Chico Buarque, o sucesso de “Madalena” e de sua carreira internacional, na qual colecionou diversos prêmios, como quatro Grammys Latinos.

Frank Sinatra gravou “Garota de Ipanema” e outras canções do maestro soberano Tom Jobim. Mas, outros grandes nomes da música norte-americana, como Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan, gravaram canções suas. Assim como Jobim, você compõe ao piano. Como você se vê no mercado internacional?

Vejo-me no mercado internacional muito bem acompanhado de outros grandes brasileiros, como Tom Jobim, Roberto Menescal, Marcos Vale, João Gilberto, Milton Nascimento, Djavan, Dori Caymmi, Edu Lobo, João Bosco e muitos outros. Somos muito respeitados e essa música que apareceu nos anos 50, 60 e 70 passou a ser muito respeitada em todo o mundo. Sinto-me honrado de participar deste grupo seleto, desta confraria, e, graças a Deus, tive muita gente boa gravando minhas canções, como você citou.

Você considera “Madalena” a sua “Garota de Ipanema”?

Sim, você acertou. De certa maneira, eu diria que “Madalena” é a minha “Garota de Ipanema” sim. Foi a música que me lançou, assim como “Garota de Ipanema” foi a canção que solidificou Tom Jobim e Vinícius para o mundo. “Madalena” ficou muito conhecida, mas não tanto quanto “Garota de Ipanema” fora do Brasil. Mas é uma canção que me identifica. “Garota de Ipanema” identifica Tom e Vinícius e “Madalena” identifica Ivan Lins e Ronaldo Moreira de Souza.

Em 1995, quando a rádio JB, uma das mais musicais do país, comemorou 50 anos, promoveu um concerto com músicas suas, com arranjos do maestro Isaac Karabtchevsky, sinfonizando sua obra. Como você vê a sua obra em partituras?

Trabalho com orquestras sinfônicas e orquestras de cordas há bastante tempo. Trabalhei com grandes orquestras do mundo e é a melhor forma de trabalhar. Digo isso porque comecei a consumir música quando jovem e música de orquestras. Sempre tive essa paixão por orquestras. Quando tive a oportunidade de tocar com elas ou minhas canções sendo tocadas por elas, foram momentos bem significativos e emocionantes. A JB realmente comemorou seus 50 anos com um concerto muito bonito e o maestro Isaac Karabtchevsky fez arranjos belíssimos e o concerto foi realmente magnífico. Em meu próximo disco, que estou fazendo nos Estados Unidos, trabalho com a Orquestra Sinfônica de Tiblíssi, capital de Georgia. Os arranjos são de um maestro alemão. São maravilhosos e eu estou muito, muito emocionado com esse trabalho.

Além dos seus parceiros mais frequentes, como Vitor Martins, existem duas parcerias com o Chico Buarque, com “Sou eu” e “Renata Maria”. Essa última tem a tal história da letra ‘monstro’ para marcar o território. Como foi essa história da garota saindo do mar, letrada pelo Chico?

Essa história da parceria com o Chico, no caso de “Renata Maria”, ele descreve, na letra, uma mulher saindo do mar realmente. Mas essa questão só o Chico pode responder. Muita gente me faz essa pergunta e eu não sei responder porque não sei a história. Só o Chico que pode dizer sobre essa garota saindo do mar. A letra é linda, tem imagens belíssimas, como toda obra do Chico. Ele é um grande letrista, um grande amigo, um humanista, uma pessoa maravilhosa. Sou muito grato a ele por ser parceiro dele.

E por falar em histórias, existe aquela que se tornou pública recentemente e envolve Michael Jackson, que queria incluir “Um Novo Tempo” no mais famoso álbum dele. Parece que vocês até comemoraram essa proximidade. Isso é fato?

Bem, conheci o Michael Jackson em uma feijoada em homenagem a mim e ao Vitor Martins, organizada pelo meu amigo Quicy Jones, outro grande artista americano. Estavam lá o Burt Bacharach e outros grandes músicos. Fui apresentado ao Michael Jackson e ele sorriu, apertou minha mão. Acho que nunca tinha ouvido falar de mim. Uma ou duas semanas depois, ocorreu um jantar para celebrar a possível entrada da música “Novo Tempo” no disco “Thriller”. O Michael Jackson não estava neste dia, mas bebemos, todos os envolvidos, para celebrar. Tudo só dependia da assinatura de um contrato de co-edição e isso ficou para a semana seguinte, quando o advogado me mandaria o contrato para ser assinado. E, infelizmente, o contrato que nos foi enviado era muito injusto, uma espécie de contrato leonino, em que o contratante fica com 80 ou 90% de tudo. Até tentamos, contratando um advogado para tentar resolver essa questão. Só que esse trâmite, essa conversa, levou oito meses e o Michael gravou o disco e o “Novo Tempo” não entrou. Mas, Deus escreve certo por linhas tortas. Se ele tivesse gravado, com o dinheiro que ganharia, porque o disco vendeu mais de 52 milhões de cópias, talvez eu não estivesse no Brasil e sim em uma ilha, muito rico. Talvez não estivesse aqui fazendo música, fazendo meus trabalhos e ganhando meus prêmios. Hoje nem penso mais nisso. Na época, nem pensei. Não deu, não deu e a vida segue. Não guardei rancor, não guardei nada. Fiquei triste rapidamente e rapidamente também passou. E continuamos a vida. A gente está ai.

Como foi ganhar quatro Grammys Latinos e ter outras cinco indicações?

É sempre bom ganhar prêmios assim, principalmente prêmios que têm essa estatura, como são os Grammys Latino e norte-americano. São internacionalmente conhecidos e dão muita visibilidade para quem ganha. Fico muito honrado com esses quatro prêmios latinos e ter tido, também, outras cinco indicações para o mesmo prêmio latino. No Grammy norte-americano, tive três indicações, mas não cheguei a ganhar. Ganhei, indiretamente, porque a música “Dinorah, Dinorah” foi gravada pelo George Benson e ganhou o Grammy americano como melhor arranjo de jazz. No ano seguinte, minha música “Velas içadas” ganhou o mesmo prêmio no Grammy americano. E na edição seguinte, Sting, cantando em inglês “Sobreira na rosa”, que é uma música minha, do Chico César e do Vitor Martins. Então, são Grammys americanos indiretos. No começo da carreira eu ganhei muitos prêmios também aqui no Brasil e fora. Ganhei um na Holanda. Foi um prêmio especial pela minha colaboração com a música holandesa. O mesmo aconteceu em Portugal por minha colaboração com a música portuguesa da Sociedade Arrecadadora Portuguesa (SPA). São prêmios bacanas que a gente ganha. Não sou muito dado a ir receber, não sei porquê. Acho que vou ter que fazer terapia para saber. Não costumo ir receber meus prêmios, mas gosto da premiação e fico feliz e agradecido.