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O mundo fã de Ivan Lins

Ele é vencedor de quatro Grammys e gravado por Ella Fitzgerald

Cultura
Por Aloysio Balbi
20 de novembro de 2022 - 5h01
(Foto: Divulgação)

Se Tom Jobim teve algumas de suas canções, como “Garota de Ipanema”, gravadas por Frank Sinatra, Ivan Lins, que fará o show de fim de ano do Sistema de Comunicação Terceira Via, teve canções gravadas por intérpretes como Ella Fitzgerald, que internacionalizou o sucesso de “Madalena”, cujo primeiro registro no Brasil foi feito por Elis Regina. E não foi apenas Fitzgerald, mas também Quincy Jones, George Benson, Sarah Vaughan e Barbra Streisand.

Há uma explicação para um compositor brasileiro perfilar todos estes astros internacionais cantando suas canções. Assim como Tom Jobim, Ivan Lins usa como instrumento de composição o piano e teve grande influência do jazz e do soul. A influência do jazz na obra de Tom resultou na Bossa Nova. Na obra de Ivan Lins, o jazz derivou por uma vertente que ainda é estudada. Dizer que Ivan fez uma espécie de batuque em um piano seria uma observação simplista, segundo afirma Paulo André Barbosa, da Rádio Caiana, que nasceu em meio ao universo da música herdando do seu pai a “Caiana”, que foi a maior loja de discos de Campos.

“Até porque, o piano é um instrumento de percussão. No Brasil, Ivan Lins, com as letras de Vitor Martins, encantava todos. Mas, lá fora, onde não se fala português, era a melodia e não a poesia. Se João Gilberto tinha um jeito diferente de bater a mão nas cordas do violão, Ivan Lins tem um jeito muito pessoal de tocar os dedos no teclado de um piano, com um estilo que chamou a atenção dos artistas de música internacional mais próximos do jazz”, analisa.

Paulo André observa que os principais nomes da MPB, principalmente nos Estados Unidos, eram bossanovistas como João Donato, ou então percussionistas, como Naná Vasconcelos e Hermeto Pascoal.

“Acho que Ivan Lins conquistou esses artistas exatamente por misturar o piano com a percussão. Conseguiu mostrar um estilo novo. George Benson, um monstro do jazz americano, tinha uma grande paixão pela obra de Ivan Lins, o que acabou se transformando em uma grande amizade”, conta.

A observação de Paulo André é certeira. Depois de Tom, neste seleto grupo, só conseguiram espaço Ivan Lins, Milton Nascimento, e, talvez um pouquinho, Jorge Ben, que virou Jorge Ben Jor exatamente pela sua carreira internacional, para não haver confusão com o nome de George Benson.

E essa carreira internacional de Ivan Lins poderia ter tomado dimensões incalculáveis se ele tivesse aceitado o convite do rei do pop, Michael Jackson, que queria incluir “Um novo tempo” na trilha do seu principal álbum, “Thriller”.

Para o mais importante crítico da MPB, Tárik de Souza, Ivan Lins também teve uma forte influência do samba, dando-lhe textura semelhante à da Bossa Nova, tanto que, para ele, as músicas têm rigorosas partituras e toda obra poderia ser sinfonizada por uma filarmônica.

Discografia do cantor (Arte: Divulgação)

Realmente, são filas de canções, superando o número de 400 em mais de 80 álbuns. Canções que foram salpicadas no cotidiano de diversas gerações, como “Cartomante”, “Madalena”, “Aos Nossos Filhos”, “Começar de Novo”, “Abre Alas”, “Roda Baiana”, “Alma e Corpo”, “Aos Nosso Filhos”, “Demônio de Guarda”, “Começar de Novo” e “Velas Içadas”, entre muitas outras.

Teve suas canções gravadas por grandes intérpretes da MPB, como a já citada Elis Regina, além de Gal Costa e Simone. Emílio Santiago tinha quase todo o seu repertório ancorado na obra de Ivan Lins.

É necessário lembrar, ainda, que Ivan Lins é autor da trilha sonora dos filmes “Dois Córregos” e “Bens Confiscados”, de Carlos Reichenbach, ganhou Prêmio de Melhor Trilha Sonora no 3º Festival Luso-Brasileiro Santa Maria da Feira, e faturou quatro prêmios Grammy, tendo tido outras cinco indicações.

Então, o que parceiros e convidados para o show dos 10 anos do Sistema de Comunicação Terceira Via, no próximo dia 29, no Trianon, vão assistir, na verdade, é um concerto. Não com uma orquestra e sim com uma banda. E pode pedir à banda para tocar um dobrado, que vamos entrar mais uma vez no palco.