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História esquecida: monumentos de Campos sofrem pichações, furtos e depredações

Solução para o vandalismo está na educação patrimonial, afirma especialista

Campos
Por Thiago Gomes
1 de fevereiro de 2021 - 0h04

Mártir Tiradentes (Foto: Carlos Grevi)

Ao que parece, resistir aos caprichos do tempo tem sido tarefa bem mais fácil do que suportar a ação do homem. Que o digam os monumentos históricos de Campos. Em vez do merecido reconhecimento, visto que cada peça revela um pouco da história do município, o que se vê são estátuas pichadas e depredadas. Em uma rápida volta pelo centro da cidade, a equipe de reportagem flagrou cinco memoriais em que o vandalismo dos próprios campistas foi mais corrosivo e danoso do que qualquer ferrugem ou intempéries. Como restaurar é um processo caro, que custa dinheiro aos cofres públicos, o mais barato é cada cidadão zelar por seu patrimônio.

Para a historiadora Graziela Escocard, a solução para o vandalismo aos monumentos históricos está na educação patrimonial.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) define educação patrimonial da seguinte forma: “A partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho da educação patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural.”

Graziela Escocard (Foto: Carlos Grevi)

Segundo a especialista, ao conscientizar a população campista por meio da educação patrimonial, será possível formar cidadãos atentos à sua herança e, por conseguinte, aos monumentos. “Infelizmente estes monumentos se encontram em péssimo estado de conservação devido à falta de conscientização da população acerca da história. Uma sociedade que não conhece sua história, que não usa seus monumentos e o seu patrimônio para fins educativos, deixa de pensar sua relação com a memória e, por sua vez, deixa de possuir raízes. Como historiadora, isso anda me preocupando bastante”, disse Graziela.

Já a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) disse, em nota, que “equacionar a questão da proteção do patrimônio cultural, enfrentando a grande expansão urbana e a falta de atitudes de pertencimento, é um desafio não só do poder público, mas também da população. A FCJOL pretende desenvolver projetos, não apenas de preservação do nosso equipamento cultural, mas também de construção de um olhar sensível e cuidadoso, capaz de envolver a população no exercício de valorização e cuidado com o seu patrimônio”.

Chafariz, na praça São Salvador (Foto: Carlos Grevi)

Chafariz Belga
O chafariz, tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam), é uma réplica de um dos 100 chafarizes que o descobridor da América, Cristóvão Colombo, mandou fabricar. Segundo registros da Prefeitura de Campos, só existem dois no mundo: um no município e o outro na Europa.

A fonte, importada da Bélgica, foi um presente para a cidade, oferecido ao primeiro prefeito de Campos, Manoel Rodrigues Peixoto, pela companhia inglesa Campos Syndicate Ltda. A inauguração foi realizada pelo segundo prefeito de Campos, Manuel Camillo Ferreira Landim, em 11 de outubro de 1906, em comemoração à Descoberta da América.
Atualmente, os quatro leões de bronze e as oito taças de cerâmica que compunham o chafariz foram furtados. A inauguração da última restauração ocorreu em dezembro de 2013, quando foi instalado o sistema de água dançante, que está desativado.

Pelourinho, no Calçadão (Foto: Carlos Grevi)

Pelourinho
Marco de sofrimento, o pelourinho, também conhecido como picota, era uma coluna de pedra instalada em lugar de destaque que servia como símbolos do poder público. Era usado para castigar escravos, criminosos e até homossexuais.
Campos possuía dois pelourinhos. O primeiro foi erguido em 1757, no Boulevard Francisco de Paula Carneiro, e o segundo, em 1795, na Rua Barão de Cotegipe. O que está exposto próximo à Caixa Econômica Federal é o segundo pelourinho, que foi arrancado da Rua Barão de Cotegipe por ordem da Câmara Municipal, em 1875, e erguido no Cemitério do Caju. Quase um século e meio depois, o monumento foi posto no Boulevard e inaugurado em 20 de novembro de 2006, em homenagem ao Dia da Consciência Negra.
Hoje o pelourinho também está pichado e poluído por cartazes fixados de forma irregular.

Obelisco, na avenida XV de Novembro (Foto: Carlos Grevi)

Obelisco
O Obelisco de 16 metros de altura, localizado na Avenida XV de Novembro, foi inaugurado em 5 de novembro de 1916 para marcar a entrega de uma série de obras de infraestrutura na cidade executadas durante o mandato do governador campista Nilo Peçanha, que posteriormente veio a assumir a presidência da República. Sua última restauração foi em 2016. O memorial voltou a ser pichado.

Estátua de Tiradentes
Sem registro de nascimento e esquecido em uma praça. Assim está o mártir da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes. O monumento erguido na praça que também leva seu nome, em frente ao Santuário Diocesano Eucarístico, não tem mais placa de identificação ou qualquer menção a Tiradentes. Não fosse a corda em seu pescoço, o mártir passaria ainda mais despercebido. Sem o adereço que remete à sua morte por enforcamento em 21 de abril de 1792, a estátua poderia ser facilmente confundida com qualquer outra.
A estátua de Tiradentes, que está na esquina da Rua Carlos de Lacerda com Avenida 7 de Setembro, fazia composição do extinto Corredor Histórico que havia no local, com placas de bronze do artista plástico campista Rui Soares. Essas placas que contam a trajetória do inconfidente foram transferidas para o Museu Histórico de Campos.
Além do furto da placa de identificação, o monumento não tem mais um dos três mastros. E a estátua, feita em concreto, está corroída e descascada.

Monumento do Lions Clube (Foto: Carlos Grevi)

Lions Clube
Três grandes letras L em mármore branco compõem o monumento do Lions Clube, que fica na Avenida Rui Barbosa, bem em frente ao Terminal Urbano Luis Carlos Prestes. Dos demais monumentos retratados nesta reportagem, é o que está mais pichado. De acordo com a placa mais antiga, o memorial foi inaugurado em 1972 para lembrar os 15 anos de fundação do Lions Clube de Campos.