×
Copyright 2024 - Desenvolvido por Hesea Tecnologia e Sistemas

Mercado Municipal e Camelódromo à espera de uma solução definitiva

Prefeitura de Campos é acionada na Justiça pelo Ministério Público por obras inacabadas

Geral
Por Ocinei Trindade
15 de dezembro de 2019 - 0h01

Obra inacabada do Camelódromo ao lado do histórico Mercado Municipal (Fotos: Silvana Rust)

O relógio na torre do Mercado Municipal de Campos marca 7h12. O tempo parou por ali. O que também parou foram as obras do Camelódromo ou Shopping Popular Michel Haddad. A conclusão seria em 2015, na gestão de Rosinha Garotinho, apesar de vários representantes da sociedade serem contrários à obra, inclusive, os permissionários do Mercado Municipal. Cinco anos após, a Prefeitura de Campos diz que vai concluir o projeto em 2020. Porém, uma Ação Civil Pública do Ministério Público Estadual pede judicialmente que o camelódromo e parte da feira livre sejam removidos no entorno do Mercado Municipal e que nenhuma obra avance.

O Mercado Municipal de Campos completará um século de existência em 15 de setembro de 2021. De acordo com o MPRJ, a Ação Civil Pública tem como objetivo que o Município de Campos dos Goytacazes não realize obras de reforma no Mercado Municipal sem a devida aprovação do COPPAM e de acordo com a legislação ambiental cultural; que a Prefeitura obtenha os documentos de regularização como Laudo de Exigências e Certificado de Aprovação do CBMERJ; que o governo adapte o projeto de reforma do Mercado Municipal à legislação ambiental cultural, mantendo a ambiência e a visualização de sua torre, e promova a restauração com acompanhamento técnico especializado do prédio original do Mercado Municipal e de seu relógio.

O Ministério Público listou outros pedidos à Justiça: que o Shopping Popular não retorne para a Rua Barão do Amazonas, a fim de preservar a ambiência do Mercado Municipal; que a feira livre seja retirada de instalação anexa ao Mercado Municipal e realocando-a para local adequado. “A preservação da arborização original da Praça Azeredo Coutinho; a realização de Estudo de Impacto de Vizinhança, em razão do projeto de reforma do Mercado Municipal; e a adaptação do local destinado a peixarias no interior do Mercado Municipal às normas ambientais, em especial quanto ao descarte de efluentes.

Ambulantes ocupam espaço do Camelódromo inacabado

Desde 2014, permissionários do Camelódromo foram removidos para o Parque Alberto Sampaio, motivo de queixas até hoje. Para Solange Maria, dona um estande no Mercado Municipal, a obra iniciada no governo Rosinha prejudica os comerciantes há cinco anos. “Ficou mais difícil acessar o Mercado. Com a obra, houve um esvaziamento de clientes”, diz. O presidente da Associação dos Camelôs, Sandro Queiroz, disse que sempre foi contra a obra, mas que espera retornar ao local em 2020. “Quero voltar. A obra que levaria oito meses até hoje não foi concluída. São 512 permissionários esperando. Está quase tudo pronto. Falta apenas a instalação elétrica”, afirma.

Em nota, a Prefeitura de Campos informou que a obra do Shopping Popular Michel Haddad tem previsão de conclusão para o primeiro trimestre de 2020. “O governo mantém o compromisso com a conclusão do novo camelódromo e entregará o espaço aos permissionários com as instalações adequadas. A próxima etapa para a conclusão da obra é a instalação da parte elétrica, como também o Projeto de Segurança Contra Incêndio e Pânico”, destacou.

Manutenção

Além do impasse e das dúvidas que cercam a conclusão do Camelódromo, a estrutura do prédio quase centenário do Mercado Municipal também preocupa. Há rachaduras, infiltrações, e até vegetação crescendo pelas paredes da torre do relógio. Insatisfeitos com a manutenção da gestão pública, permissionários criaram a Associação dos Permissionários do Mercado Municipal. Participam 58 comerciantes. Cada um paga R$30 mensais para despesas com manutenção.

“São cerca de R$2500 por mês. A associação existe há cinco anos. Fazemos pinturas, restauração do piso, além de dois mutirões de limpeza por mês. Se não fizermos isso, agonizamos. Os últimos três governos municipais afundaram o Mercado. Esta obra do Camelódromo prejudicou ainda mais. Sempre fui contra. Estou descrente quanto à conclusão”, diz o presidente da associação, Victor Barreto. Sua família está há 60 anos no Mercado Municipal.

A Companhia de Desenvolvimento do Município de Campos (CODEMCA) administra o Mercado Municipal. Em nota, disse que trabalha em harmonia com a Associação dos Permissionários do local. “Ao todo, 23 auxiliares de serviços gerais, funcionários da CODEMCA, realizam a manutenção do espaço. A equipe de manutenção reconstruiu a mureta na área da peixaria. O cronograma é feito de acordo com as prioridades do local”, informou.

Patrimônio

O presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes, Genilson Soares vê com preocupação o futuro do prédio do Mercado Municipal. Para ele, um equipamento esgotado que já não atende a demanda de uma população de mais de meio milhão de habitantes.

“Historicamente o Mercado foi evoluindo conforme a população ia crescendo. Desde o primeiro espaço lá no início da rua da Quitanda junto à Beira-Rio (hoje rua Theotônio Ferreira de Araújo), depois no Largo das Verduras (praça Prudente de Moraes – Chá Chá Chá), passando pelo Largo do Rocio (espaço que existia em frente a Faculdade de Direito, na rua Formosa) até chegar em 1921 no local atual (Praça Azeredo Coutinho), sempre ocorria a reclamação dos comerciantes quando da mudança de endereço”, destaca.

Para o pesquisador, o local não comporta uma feira livre e um camelódromo. “Deveriam ser removidos para espaços apropriados e liberar o Mercado Municipal para ser restaurado e virar ponto turístico da cidade, como ocorrem em outras cidades do Brasil e do mundo”, conclui.