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Amor à primeira vista

Neste artigo, Paulo Cassiano Jr. homenageia o Dia Nacional da Língua Portuguesa

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Por Paulo Cassiano Júnior
10 de novembro de 2019 - 7h00

Quando te vi pela primeira vez, foi aquela interjeição! Desde então, é uma exclamação que não sai de mim, só chamo um vocativo. Sei que o período da escola pode ser meio chato, derivado da obrigação, composto de muitos compromissos coletivos. Eu também tinha as minhas interrogações, mas o que era relativo virou absoluto depois que você chegou transferida de outro colégio.

Durante muito tempo, procurei um jeito de me justapor, de me aglutinar, mas uma conjunção de fatores não permitiu. Escrevo esta carta porque a minha timidez não flexiona e me impede de soltar o verbo de maneira pessoal e regular, mas confesso: meu sentimento é transitivo direto.

Parece ridículo ficar ensaiando um diálogo na frente do espelho; orações soltas que não sei conjugar. Quando me aproximo de você, da minha voz, passiva, não sai um monossílabo sequer. Locução atrapalhada… Não afirmo que eu não trema: na hora agá, as pernas bambeiam, a boca seca, o coração dispara. Nenhuma coordenação, uma falta de regência só! Imperativo do corpo, indicativo da alma. Totalmente subjuntivo.

Penso: uma menina tão linda assim, cortejada por um numeral tão grande de garotos, não vai se interessar por um sujeito simples como eu. Porém, quero mostrar-lhe meus predicados, talvez assim haja concordância entre nós e você me dê uma oportunidade de pontuar que a tônica do meu discurso não é hipérbole.

Ao voltar para casa, após as aulas, viajo em meus pensamentos: dois pombinhos voando sobre um oceano de paixão. Essa metáfora pode parecer pleonástica, mas o que importa mesmo é a semântica. Faltar-me-iam adjetivos para descrever o que seria ter você como namorada: sinônimo de alegria, artigo de luxo!

“Não importa a distância que nos separa, se há um céu que nos une”. Parênteses: você gosta de Drummond? Plural e singular, ele é meu poeta favorito. Talvez soe meio radical, mas faço minhas as palavras dele. Perdoe a mim pelas aspas, é que eu não queria nenhuma vírgula fora de lugar.

Admito que essa declaração pode parecer meio possessiva, mas deixo claro que não quero qualquer compromisso preposicionado. Isso é apenas um desabafo demonstrativo do meu amor, consecutivo da minha admiração, integrante de mim. Se for para dar certo, que seja com um sentimento aumentativo como o meu, superlativo, sintético. Afinal, meu interesse é substantivo, concreto.

Espero que esta carta, objeto direto do meu amor, não crie um hiato entre nós. Agudo ou grave, acentuei tudo o que quis, nenhum complemento ficou pendente. Sem a sua presença, o núcleo do meu presente é um travessão de tristeza, antítese da vida; com você, todo esse prefixo de dor é transformado numa desinência mais-que-perfeita, adjunta da felicidade.

Por fim, gostaria que você me fizesse uma concessão: não demore a me responder. Melhor a certeza do ponto final que o indefinido das reticências.