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Neste artigo, Paulo Cassiano Jr. reflete sobre a gratidão

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Por Paulo Cassiano Júnior
4 de agosto de 2019 - 7h00

cassiano.pcbcj@gmail.com

Quando retornou ao Brasil, após uma brilhante passagem pelo futebol internacional, Juninho Pernambucano surpreendeu a todos ao assinar um contrato com remuneração mensal de um salário-mínimo com o Vasco da Gama, cuja situação financeira era delicada. Ao ser questionado sobre o inusitado fato (jogadores do quilate dele fazem fortuna), o craque cruzmaltino justificou seu desprendimento expressando gratidão pelo clube que o projetara.

Aproximadamente 3.200 anos antes, Moisés liderou cerca de 600.000 homens e seus familiares na saída do Egito para o lugar que Deus lhes prometera. Em Canaã, o povo hebreu estaria finalmente livre da fome e do chicote impostos pelos faraós durante 400 anos e poderia recomeçar a vida numa terra que manava leite e mel. Conforme o relato bíblico, no curso da travessia, o povo testemunhou o mar Vermelho se abrir, o maná cair do céu e colunas de nuvem e de fogo serem formadas para protegê-lo do calor e do frio do deserto. A vivência de tantos milagres, entretanto, não foi suficiente para privá-los da rebeldia. A impaciência da espera foi tanta que o povo criou ídolos para cultuar e almejou regressar à escravidão.

Se exemplos como o de Juninho são raros de encontrar, o êxodo judaico serve como paradigma da condição humana: estamos em constante movimento e angustiados por um sentimento de incompletude perene, buscando um estado de perfeição que nunca chega. Nossa mente possui uma bússola para a negatividade; nossos lábios, uma tendência atávica para a murmuração.

Embora associada aos atributos da moral religiosa, a gratidão produz benefícios já atestados pela ciência. Pesquisas neurológicas comprovam que o sentimento ativa estruturas do córtex cerebral e potencializa a socialização e a empatia. Pessoas induzidas a experiências de gratidão apresentaram maior capacidade de reduzir estresse e de gerar motivação. Estudos psicológicos demonstram que o exercício da gratidão melhora o sistema imunológico, a qualidade do sono e a disposição para atividades físicas.

Em verdade, a gratidão precisa sair das frases retóricas das mídias sociais e ser incorporada ao nosso cotidiano. Sem muito esforço, expressamos o sentimento em episódios pontuais identificados como felicidade, como numa ascensão profissional ou na cura de uma enfermidade, por exemplo. Melhor, porém, quando não for necessário que algo aconteça para merecer significância, e a gratidão se tornar um estilo de vida, uma escolha diária de reconhecer o valor das coisas simples e importantes, como um sorriso, uma palavra, um abraço.

Agradeçamos por nossas famílias imperfeitas e por nossa saúde, mesmo que debilitada. Agradeçamos pelo pão que não tem faltado em nossa mesa e pelo teto que nos abriga. Agradeçamos pelo trabalho, ainda que o salário seja aquém. Agradeçamos pelos amigos, que nos amam, e pelos adversários, que nos desafiam a crescer. Agradeçamos pelo ensino dos nossos professores e pelo afeto dos nossos amores. Agradeçamos pelos elogios e pelas críticas, pelo dia alegre e pelo dia triste, pelas facilidades e pelas adversidades. Agradeçamos pelas provações, pelos talentos, pela capacidade de sonhar. Agradeçamos pelas paisagens que contemplamos, pelos livros que lemos, pelos gols que comemoramos (do Fluminense, claro!). Agradeçamos pelo pôr-do-sol, pelo banho de mar, pela sombra no dia quente, pela fruta tirada do pé. Simplesmente… muito obrigado.