Ciclovia Patesko na 28 de Março: todos os problemas existem (Foto: Silvana Rust)
Em um município como Campos dos Goytacazes, contar com 51 quilômetros de ciclovias pode parecer muito, mas não é bem assim, garantem especialistas. Ainda há muitas áreas da cidade, bairros da periferia e distritos sem a via exclusiva para quem pedala. De acordo com alguns arquitetos e urbanistas, é necessário planejamento para melhorar a mobilidade de quem utiliza as bicicletas para trabalhar, prática de lazer ou atividades físicas. Os ciclistas concordam com a necessidade de infraestrutura adequada e educação no trânsito.
Apesar das bicicletas serem bastante utilizadas como meio de transporte, há muitos obstáculos no caminho de quem pedala em Campos. Sem falar que é comum ciclistas, motoristas e pedestres não se entenderem no trânsito. Nas ciclovias e ciclofaixas, os buracos são frequentes e podem causar acidentes. A falta de sinalização também é outro problema. Motoristas que estacionam nos locais destinados exclusivamente aos ciclistas podem ser flagrados a todo instante. Como lidar com tantos empecilhos no caminho?
Quem avalia
Paulo Andre relata falhas nas ciclovias da cidade (Foto: Divulgação)
Para o radialista Paulo André Barbosa, usuário diário da bicicleta para trabalho e trilhas, há inúmeros transtornos para o ciclista no trânsito. “Há várias atrocidades, como a ciclofaixa feita na Avenida Alberto Torres. Proponho um debate para levarmos propostas ao IMTT. Ando muito de bike, de carro e a pé. Vejo uma questão muito maior: falta educação no amplo sentido da palavra”, considera. Já a professora Karina Costa aponta problemas em outra ciclovia: “O cruzamento da Avenida 28 de março com a Presidente Kennedy tem buracos e trilhos à mostra Ali, na Kennedy, a ciclovia é interrompida pelo valão, nos forçando a descer para a pista”, diz.
A profissional de computação Ana Paula Mairen já passou muito sufoco quando pedalava. Abandou a bicicleta depois de alguns acidentes que sofreu. “Passei por situações chatas. Duas vezes fui jogada ao chão e não fui socorrida. Bueiros sem tampas e buracos também são perigosos. Passei a andar na contramão, na calçada, e recebia críticas por conta disso. Era preciso dar o exemplo de disciplina às regras do trânsito, porém é difícil ter segurança”, avalia.
Para a servidora pública Fátima Nascimento há muitos transtornos para ciclistas e motoristas em muitas ruas e avenidas sem ciclovias: “Na Rua Formosa, especialmente entre a Barão da Lagoa Dourada e Avenida Dr. Felipe Uebe é muito arriscado”, cita. Já a jornalista Eliana Buchaul abriu mão de ter bicicleta. “Não tenho o veículo por medo de ser atropelada! Em Campos, há um descaso com as leis sobre todos os aspectos. Motociclistas andando em ciclovias, motos e carros ultrapassando sinal vermelho. As ciclofaixas vivem cheias de lixo, restos de obras, carros estacionados. O desrespeito é geral”, considera.
Faltam ciclovias adequadas e planejadas
De acordo com Ernani Alves, presidente da Associação Norte Fluminense de Engenheiros e Arquitetos (Anfea), a cidade, por estar sediada numa planície, poderia tirar melhor partido dessa condição, privilegiando o modal ciclístico. “Mesmo tendo um bom número de pessoas usando a bike como meio de transporte, acho que se tivéssemos um projeto de ciclovias adequado, com certeza, esse número seria dobrado. A quantidade de ciclovias está aquém do que deveria ser. Falta planejamento dentro das vias urbanas”, afirma.
Ernani Alves acha positivo ter as ciclovias, mas elas precisam ter dimensões adequadas em largura para o trânsito. “Os sentidos de fluxo não determinados, culminando na falta de educação do ciclista, promovem a baderna no trânsito. As ciclofaixas também deveriam ser planejadas e definidas em função de um sistema de tráfego pertinente a elas. Um mau exemplo disso é ciclofaixa em vias arteriais que promove o estrangulamento do trânsito nos horários de pico. Mais projetos e mais educação no trânsito são necessários”, frisa.
Se o planejamento urbano é fundamental para criação de ciclovias, o assunto precisa ser discutido e inserido no próximo Plano Diretor. “É para ser executado e não ficar só no papel. Estamos preparando um documento que será apresentado aos gestores do município com as sugestões de projetos”, revela o presidente da Anfea.
Posição da Prefeitura
O Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) avalia que as ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas existentes foram desenvolvidas sem um Plano de Mobilidade Urbana. A atual gestão está atenta ao problema e afirma que um projeto está sendo estudado para tentar solucionar os problemas dessas vias que “parecem estar incompletas”. Em relação à manutenção e estrutura da ciclovia da Avenida 28 de Março, a Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana informou que realiza levantamento em vários pontos da cidade, inclusive na ciclovia, para ações de reparo, posteriormente. Um levantamento também será feito nas demais ciclovias.
Flávia Soares, a ciclista
Flávia Soares é defensora do uso de bicicletas para tudo (Foto: Divulgação)
Desde os três anos de idade, a analista judiciária Flávia Soares é adepta à bicicleta, juntamente com os dois irmãos. Na idade adulta, após concluir a faculdade, percebeu que devia pedalar diariamente para cuidar da saúde. Seus pais tinham problemas cardíacos severos e tendência ao diabetes. “Vi que era o melhor para mim. Pedalar faz muito sentido do ponto de vista econômico, façam as contas”, sugere.
Flávia Soares afirma que a bike é fonte de lazer ou estímulo a um exercício físico agradável. “As bicicletas são um instrumento eficaz em muitos casos. Em Campos, é meio de locomoção da maioria das pessoas, excluída do transporte coletivo, por não ter dinheiro para pagar ônibus. Muita gente resiste ao uso das bicicletas. Carros são ícones da classe média”, diz. Chegar suada ao trabalho é contornável, ela garante. “Evito o suor pedalando com calma. Saio mais cedo de casa. Quando saio do trabalho na hora do rush, passo incólume pelo engarrafamento”, comemora.
Além de proteção com capacete e bicicleta bem equipada, Flávia nunca pedala pela contramão por defender sua segurança e regras básicas de trânsito. “O que estamos fazendo uns com os outros? Em vez de conflitos entre pedestres, motoristas e ciclistas, podemos tornar nossas ruas mais aprazíveis, humanizar nossa cidade e conviver com nossas diferenças e necessidades”, conclui