O Parque Estadual do Desengano, que abrange 22.400 hectares nos limites dos municípios de Campos, São Fidélis e Santa Maria Madalena, é um cartão postal ainda pouco conhecido e frequentado. A maior parte da área está em território campista. Ali, belas cachoeiras como Tombo d´Água, Mocotó e Maracanã deixaram de ser frequentadas por turistas nos últimos anos, devido a impedimentos por parte de alguns proprietários de terras que dificultavam o acesso em terreno particular. O problema está sendo resolvido com representantes da prefeitura, gestores do parque e com uma das proprietárias.
Encontros com moradores do Imbé, integrantes do Departamento de Turismo de Campos e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) têm acontecido desde maio para discussão sobre como reabrir o acesso ao parque na área que pertence a Campos, de maneira ordenada e ambientalmente equilibrada. Para o diretor de Turismo, Hans Muylaert, trata-se de um momento de retomada dos projetos turísticos para a região. Quem também se sente entusiasmado com a iniciativa é o ambientalista Admardo Peixoto, proprietário da área onde está a cachoeira Tombo d´Água. “Estou confiante que o turismo receberá investimentos”, diz.
Até 2016, o Imbé esteve na pauta do Campos Convention Bureau, órgão ligado ao desenvolvimento turístico do governo municipal que foi dirigido por Wilson Heidenfelder. Reabrir o acesso às cachoeiras campistas mostrou-se um fiasco, por conta da falta de entendimento com proprietários, à época. “O caso foi parar no Ministério Público, pois até ameaças de agressão física ocorreram. O governo passado não conseguiu a desapropriação. O turismo precisa ser controlado como em qualquer lugar do mundo. Não há infraestrutura local para receber visitantes, mas pode existir. É possível preservar e utilizar o espaço”, opina.
Para a turismóloga e guia turística, Sandra Rabello, o Parque do Desengano é um grande atrativo para a região de Campos e cidades vizinhas, porém, deve ser preservado o meio ambiente com premissas do desenvolvimento sustentável. “Deve ser feito o plano de manejo como existe em outros parques nacionais do Brasil, como o Parque Nacional do Iguaçu e o Parque Nacional da Tijuca, com controle de visitação”, considera.
De acordo com Sandra, o desenvolvimento de um produto turístico passa primeiramente pela conscientização da população local. “Estruturar o parque com informativos de preservação do meio-ambiente, ter guias ou condutores para acompanhar os grupos, ter horário para visitação e controle de entrada e saída, além de vídeos, folhetos, que devem ser entregues aos visitantes como orientação”, sugere.
Não se sabe quando, nem quanto tempo levará para a região do Imbé ganhar infraestrutra turística, apesar de todo o seu potencial. Para Carlos Dario, a conservação do Parque Estadual do Desengano é dever de todos: população local, visitantes e governos. Criado em 1970, a região do parque se mantém preservada, apesar das deficiências do estado, do número reduzido de guardas e guarnições. “Infelizmente, a falta de continuidade dos projetos desenvolvidos por gestões e governos passados atrapalha bastante em realizar melhorias. Entretanto, podemos manter o Desengano e usá-lo para realizar consciência ambiental e economia sustentável”, conclui.
A possibilidade de reabrir um dos acessos às cachoeiras do Imbé foi bem recebida pelo gestor Carlos Dario. Ele elogiou o empenho dos representantes do governo municipal e da proprietária do trecho da terra a ser desapropriado. Isto promoverá maior visitação e a chance de envolver os turistas com cuidado e preservação ambiental. O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) promove a “ciência cidadã” que utiliza o conhecimento popular de moradores e de cientistas sobre as espécies vegetais e animais nativos:
“Isto ajuda o morador a ser um fiscal do parque”. Futuramente, é possível planejar construir alguma estrutura com quiosque e banheiros públicos, mas por ora isto não vai acontecer. “Não é possível distribuir lixeiras dentro da área de preservação. Cada pessoa visitante deve recolher seu próprio lixo e deixar apenas em local indicado. Isto também é consciência ambiental apoiada por 90 guias e condutores treinados pela gestão para auxiliar o turista nas trilhas”, diz Dario.
O diretor de Turismo de Campos, Hans Muylaert, informa que a, partir da autorização da responsável legal da área e do sinal verde da gestão do Parque Estadual do Desengano (PED), serão iniciadas as etapas seguintes, que consistem em criação de um roteiro, mapeamento das trilhas, para que os interessados possam percorrê-las com segurança; capacitação de guias e condutores locais para fomentar a geração de emprego e renda de moradores da região, interessados em desenvolver a atividade:
“A gente entende que as cachoeiras estão dentro da área de preservação permanente. Todas as ações serão desenvolvidas através dos órgãos municipais e de parcerias da iniciativa privada, seguindo normativa do parque. Estamos pensando no turismo rural, ecológico, de aventura, histórico-cultural, esportivo e, também, pedagógico”, finalizou.
Aos 70 anos, Admardo Peixoto Filho diz que, desde os 18, sonha em tornar a região do Imbé, onde cresceu, um lugar conhecido nacionalmente pelo patrimônio natural e pelas possibilidades turísticas. Seu interesse é tanto que, não faz muito tempo, foi estudar Turismo e Gestão Ambiental. Viajou pelo país e foi aprender em Bonito (MS) e em Foz do Iguaçu (PR) como desenvolver ecoturismo sustentável. “Nós temos um parque lindo em Campos e poucos campistas o conhecem”, lamenta.
Para o ativista e turismólogo, o poder público precisa oferecer condições para o desenvolvimento do turismo local. “Estradas, pontes e escolas estão precárias há cerca de oito anos. O êxodo rural aqui é enorme. Há pessoas que possuem projetos de pousadas e hospedagens para receber visitantes, mas cadê a infraestrutura? O turismo tem como alavancar a economia e ajudar muitas famílias. É preciso fixá-las no campo. Estou muito esperançoso e confiante com a iniciativa do departamento municipal de Turismo atual”, comenta.
Além de otimizar o turismo sustentável, Admardo Filho vibra com a pesquisa científica no Imbé. “Consegui trazer pesquisadores de vários locais, inclusive estrangeiros. Também já promovi excursão guiada para estudantes de escolas do ensino fundamental e médio. Acho que ao conhecer bem esse ecossistema maravilhoso, o aprendizado e a pesquisa auxiliam na preservação ambiental. É um sonho simples, bonito e necessário para o Imbé e todo o planeta” conclui.