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Obras inacabadas e acabando

Uma reforma e duas grandes obras iniciadas e suspensas no governo passado não têm data para serem retomadas

Campos
Por Thiago Gomes
15 de abril de 2018 - 0h01

Conclusão das obras do novo Shopping Popular Michel Haddad precisa de R$ 5 milhões (Foto: Silvana Rust)

Entre as heranças deixadas ao prefeito Rafael Diniz pelo governo de Rosinha Garotinho estão duas obras de grande porte paradas: o Shopping Popular Michel Haddad e o Palácio da Cultura. Um ano e quatro meses após o início da nova gestão, tais obras permanecem da mesma forma. Ambas estão estagnadas e sem previsão de retorno. Na lista de propostas inconclusas também consta um espaço provisório para acolher a feira livre do Mercado Municipal, que virou abrigo de pessoas em situação de rua, onde foi erguido até um barraco de madeira. A prefeitura alega que, além de recurso para custear o restante dos projetos, em tempos de crise, ainda é necessário quitar dívidas deixadas pela administração anterior com as empreiteiras. Só no caso do Shopping Popular, segundo a prefeitura, o débito chega a R$ 2 milhões.

A demolição das antigas estruturas do Shopping Popular, apelidado de Camelódromo, começou em 16 de março de 2014 e a mudança dos permissionários para o espaço provisório, montado no Parque Alberto Sampaio, foi concluída quatro dias antes. A fundação das estacas só começou em dezembro do mesmo ano. Na época de lançamento, o projeto foi apresentado com de 3.150,88m² de área, 447 boxes, vestiários, sanitários, fraldários, praça de alimentação, área para caixas eletrônicos, sala de primeiros socorros, sala de administração, sala de monitoramento e setor administrativo. O valor inicial era de R$ 9.985.938,34 com previsão de ser concluída em um ano e oito meses.

Atualmente, dois anos e quatro meses após expirado o prazo de inauguração, o Camelódromo precisa de mais R$ 3 milhões para ser concluído, além dos R$ 2 milhões de dívidas da obra, segundo dados da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana.

“Em função de grave crise financeira que o município atravessa e da grande dívida deixada pela gestão passada em relação às obras inacabadas, a prefeitura aguarda disponibilidade financeira para dar continuidade às intervenções. Todos os levantamentos já foram feitos e, se a obra do Shopping Popular fosse entregue, dentro do prazo inicial previsto, já estaria concluída e beneficiando os permissionários. A Companhia de Desenvolvimento do Município de Campos (Codemca) e a secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana vêm se reunindo e buscando alternativas, inclusive através de parcerias, para conclusão das intervenções no espaço”, informou o secretário da pasta, Cledson Bitencourt.

O presidente da Associação dos Vendedores Ambulantes do Shopping Popular (Avasp), Sandro da Silva Queiroz, disse que vem participando de reuniões com a Codemca (Foto: Silvana Rust)

Permissionários insatisfeitos

A instalação dos permissionários do Shopping Popular Michel Haddad no local montado no Parque Alberto Sampaio foi anunciada como provisória, mas já dura quatro anos. Fábio Pinheiro dos Santos, 36 anos, trabalha no Camelódromo há 18 anos e aponta dois principais problemas na instalação “provisória”: queda no movimento e alagamentos em dia de chuva.

Ele lembra que o Camelódromo atual está espremido entre as duas mãos da Avenida José Alves de Azevedo. “A localização é ruim e isso atrapalha muito o movimento. A travessia da avenida é difícil e muitos desistem de vir até aqui. Sem falar nos alagamentos, que nos causam perda de mercadoria”, comentou.

O presidente da Associação dos Vendedores Ambulantes do Shopping Popular (Avasp), Sandro da Silva Queiroz, disse que vem participando de reuniões com a Companhia de Desenvolvimento do Município de Campos (Codemca), na tentativa de resolver o impasse da obra parada. “No último encontro (realizada no dia 11), fomos informados de que há três propostas a serem feitas e que ainda estão analisando qual é a mais viável”, revelou.

No entanto, Sandro admite que o movimento de clientes caiu cerca de 70% após a mudança dos permissionários para o local. Ele também ressaltou que os dias chuvosos são complicados para quem trabalha no Shopping Popular. “A água da chuva aqui nas proximidades chega a bater na cintura. O alagamento acontece rapidamente e não dá tempo de retirar a mercadoria”, disse.

Reforma do Palácio da Cultura também não foi concluída (Foto: Silvana Rust)

Palácio da Cultura

O Palácio já não abriga mais Cultura há quatro anos. No local agora há lixo, mato alto e resquícios do que um dia foi uma obra. A desativação do prédio aconteceu em abril de 2014 para a reforma orçada em R$ 2.739.912,96. A previsão inicial, de acordo com a prefeitura, era de que o Palácio da Cultura fosse entregue à população em maio de 2015. Ainda no governo Rosinha o projeto foi interrompido pela primeira vez e retomado em abril de 2015. Logo depois foi a obra foi paralisada novamente e nunca mais retomada.

“A obra parou de vez logo depois que Rosinha perdeu a eleição”, lembra o guardador de carros Benedito Soares Nunes, 73 anos, em menção à derrota do ex-vice-prefeito Dr. Chicão, que, com apoio da ex-prefeita, disputou a última eleição com Rafael Diniz. Benedito atua em frente ao Palácio da Cultura há quatro anos e diz sentir saudade do movimento da área quando o prédio ainda estava ativado. “Era muito aluno, muita gente passando por aqui”.

O secretário municipal Cledson Bitencourt informou que, no início do ano passado, a empresa responsável pelas melhorias do Palácio da Cultura foi oficialmente notificada para retomar o andamento dos trabalhos, porém, ela protocolou defesa em relação à paralisação por não ter recebido o valor correspondente ao serviço que foi contratado em 2014. Ainda segundo o secretário, o município aguarda viabilidade financeira para dar continuidade à obra, que também terá adequações no projeto.

“O município vem buscando alternativas por meio de parcerias com a iniciativa privada, além de realizar readequações financeiras municipais, no sentido de viabilizar recursos para que possa dar prosseguimento a algumas intervenções paralisadas ainda na gestão anterior”, comentou.

Projeto — Na época do lançamento da obra, a prefeitura divulgou que as melhorias contemplariam a reforma do telhado, 2.800m²de pisos novos, a pintura do prédio, o reparo em toda a parte elétrica e hidráulica e colocação de manta asfáltica, além de novas janelas de alumínio e reforma total dos 14 banheiros. Também foi anunciada a reforma do palco, que fica na área em frente à Rua Barão de Miracema. O Pantheon dos Heróis Campistas também iria ganhar uma ampla reforma. O trabalho de urbanização e a troca de iluminação na parte exterior também estava previsto.

Biblioteca fechada — Uma consequência direta da paralisação do projeto do Palácio da Cultura foi a desativação da Biblioteca Municipal Nilo Peçanha, com acervo de 30 mil livros. Ela funcionava no prédio e foi deslocada pela gestão passada para que a obra fosse realizada. “Em virtude da necessidade de um local adequado para instalação da biblioteca, até que a reforma seja concluída, a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima está preservando o acervo para que, em breve, possa disponibilizá-lo à população”, disse o secretário de Infraestrutura e Mobilidade Urbana, Cledson Bitencourt.

Espaço provisório que seria destinado aos feirantes do Mercado Municipal agora é ocupado por moradores em situação de rua (Foto: Silvana Rust)

Feira livre “provisória”

Um espaço provisório para abrigar a feira livre do Mercado Municipal, que também começou a ser construído na gestão passada, não foi concluído. Atualmente está ocupado por pessoas em situação de rua. O ambiente conta até com um barraco de madeira erguido pelos novos ocupantes.

São 2.600 m², com mais de 570 bancas que nunca receberam os feirantes. Altino Souza Duarte, 53 anos, que vende legumes no Mercado Municipal há mais de 30 anos, disse que prefere ficar onde está. Seu receio é de que aconteça consigo o mesmo que ocorreu com os permissionários do Shopping Popular Michel Haddad: todos foram para outro local e não retornaram mais. “Esse lugar que construíram é muito isolado e tenho dúvida se caberá todo mundo”, argumentou.

Apesar do investimento com dinheiro público, o espaço é privado. Segundo nota da Superintendência de Comunicação da Prefeitura, o local foi herdado pela atual gestão com dívidas de aluguel referentes ao período anterior a 2017. “A Prefeitura, através da secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana, está em diálogo com o proprietário do terreno para entrega do imóvel o quanto antes, como prevê legislação.

O comando da Guarda Civil Municipal informou que realiza fiscalização diária no local, porém, em casos em que há a presença de pessoas em situação de rua, há condução à unidade de acolhimento, que faz o encaminhamento de equipe multidisciplinar. “A ação de orientação acontece através de equipe do Departamento de Proteção Social Especial (DPSE), que realiza abordagens não compulsórias semanais nos principais pontos da cidade, de acordo com mapeamento prévio”, disse o órgão em nota.