O governo Rafael Diniz (PPS) se aproxima de seu 11º mês lidando com consequências do passado enquanto tenta enxergar algum futuro. As dívidas deixadas e empréstimos contraídos pela gestão Rosinha Garotinho (PR) engessam ações, afundam programas e surgem em cada justificativa que a municipalidade é obrigada a dar toda vez que toma uma decisão impopular ou um serviço não é prestado à população como se espera. Se o carro segue adiante, o olho permanece no retrovisor. Mas, para diferentes setores da sociedade campista, a hora é de voltar a atenção à estrada, retomar o controle do
câmbio e desbravar dias melhores.
O que pode parecer roteiro de aventura em ritmo de road movie passa, na maioria das vezes, por optar pelas pessoas diante da Realpolitik, garantem os ouvidos por O Jornal Terceira Via. Manejar os recursos existentes para atender necessidades urgentes da Educação e da Saúde, valorizar os servidores públicos, enquanto adequa gastos em todas as áreas e ataca prioridades. Embora possam soar como desafios, as propostas não guardam grandes surpresas, já que parte delas reverbera compromissos de campanha escriturados nos 151.462 votos depositados nas urnas campistas em outubro do ano passado.
Apostas para reconectar o governo às necessidades de sua base eleitoral e do momento presente, ao mesmo tempo em que lança a fundação para a construção de políticas públicas que se pautem menos pelas contingências de gabinete.
A grande prioridade do governo na Educação deveria ser a escola em tempo integral, onde possamos pensar a formação de nossas crianças e adolescentes a partir de ações na sala de aula, mas também de um conjunto de outras iniciativas que promovam a construção intelectual, técnica e cidadã desse jovem. É necessário fortalecer a sala de aula, o esporte e a cultura. Preparar o aluno emocionalmente e para a convivência. Os desafios são grandes. Precisamos da sociedade envolvida, dos professores envolvidos, de um ambiente de trabalho mais adequado, de ter o profissional valorizado. Esse deveria ser o carro chefe, no meu entendimento. Uma escola em tempo integral visando à formação integral.
Como o momento é de crise, servidores capacitados poderiam ser aproveitados em cargos de confiança, o que geraria uma economia de 50% com os DAS. É, também, uma maneira de valorizar a experiência dos servidores, que atuam há anos em seus respectivos setores e conhecem as demandas da população. É certo que alguns cargos pedem pessoas com formação técnica específica e que gozem diretamente da confiança do prefeito. Mas, temos mais de 20 mil servidores, que atuam na base, na ponta, e tem noção real do que está acontecendo no município, com a população. Será dentro desse montante não há ninguém que atenda a esses requisitos? É só fazer uma avaliação.
Na Saúde, há duas frentes que o governo precisa atacar: a atenção básica e o setor da urgência e emergência. O doente não tem acesso no seu bairro ou distrito a atendimento. Ele vem para o posto 24h e superlota as unidades. O caminho é remodelar a gestão pensando nesses gargalos. O município tem profissionais e estrutura física compatíveis com seu grau de complexidade. Dá conta da demanda. Mas, é importante que o município defina o que comprar dos hospitais, para que não tenhamos atendimento pulverizado e sem eficiência. Tem que identificar qual hospital quer fazer determinado atendimento e direcionar os recursos para estas unidades específicas, para ficar bem otimizado.
O quadro de destruição encontrado pelo prefeito obriga a imposição de cortes profundos em todos os setores. Em relação aos programas sociais, a ruptura necessária é ainda mais traumática e impopular. Mas é uma ruptura corajosa e necessária, se o objetivo é construir um novo modo de gestão em Campos. É preciso abrir diálogo com o setor privado, trabalhar com instituições
buscando soluções alternativas. Quanto aos servidores, há que se discutir abertamente uma maneira de reduzir os gastos com pessoal, na forma da Lei, e motivá-los a tratar melhor os cidadãos, a respeitar a coletividade. A precariedade dos serviços públicos não pode ser atribuída apenas à falta de recursos.
Acredito que todos os segmentos da sociedade têm condições de contribuir com ideias e o empresariado tem feito isso ao longo deste quase primeiro ano do governo Rafael Diniz. Apesar de ter recebido algumas críticas, ele manteve um canal aberto com
nosso segmento e ouviu todas nossas reivindicações. O exemplo mais evidente disso é o processo de desenvolvimento do novo Código Tributário Municipal, recém-aprovado. Agora, trabalhamos junto ao governo na formação de um conselho composto pelas
entidades do setor produtivo para fazer frutificar essa relação com o poder público. O conselho será a grande ferramenta de contribuição da sociedade civil organizada para o governo a partir de 2018.
O governo tem que encontrar forma de ter prioridades claras, já que os recursos são escassos. Há um risco político-eleitoral ao eleger essas prioridades, pois o prefeito poderá ter que mexer em áreas que dizem respeito a relações que ele tem com o setor privado. Relações que existem por necessidades políticas e que são compreensíveis até. Mas, em uma situação de crise, em que se
tem que escolher o que sacrificar. Não se pode sacrificar aquilo que atinge mais diretamente a população. Governar é fazer escolhas. O desafio é como fazer de tudo isso um caminho político eleitoral viável mais adiante. Mas, quando a sociedade compra o projeto e se engaja, ela vai dar suporte a esse projeto e ele será imbatível.