POR THIAGO GOMES buy lioresal E TAYSA ASSIS
Nos grandes centros urbanos, o transporte em duas rodas é apontado como solução para a mobilidade urbana. Em Campos ele ainda é visto como problema, embora a situação tenha melhorado nos últimos anos. De ciclovias pequenas e ciclofaixas mal sinalizadas à falta de bicicletários, os desafios que os ciclistas enfrentam ainda estão longe de uma solução que possa consolidar este tipo de transporte. São cerca de 50 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas. Ainda assim, os perigos para quem se aventura pelas ruas são elevados. Só nos primeiros dois meses deste ano, o Hospital Ferreira Machado atendeu a 28 ciclistas que se acidentaram no trânsito. Em 2015 e 2016, a média de acidentes envolvendo este público foi de um a cada 3,5 dias. Mas estes dados também refletem a imprudência dos próprios condutores de bicicleta. Magrela, bike, camelo, o nome varia de acordo com a região do país ou o gosto do freguês, mas a funcionalidade deste tipo de transporte é o mesmo em qualquer lugar: ajuda a desafogar o trânsito, tornando-o mais fluido, conforme atestam os estudiosos. Isto sem falar na economia com passagem ou combustível e os benefícios para a saúde.
Falta de um plano cicloviário
Para a arquiteta e urbanista Lídia Martins, apesar de a cidade oferecer uma série de condicionantes para a consolidação da bicicleta como veículo de transporte, como ausência de morros e ladeiras, falta o principal: confiança do ciclista no sistema viário oferecido, que, na avaliação da especialista no assunto, apresenta falhas. “Falta sinalização vertical e horizontal, marcação nos cruzamentos, falta um plano cicloviário contendo as vias segregadas, compartilhadas, as ciclorrotas e a integração com o transporte coletivo; sem contar que poderia oferecer mais segurança”, diagnostica.
Lídia acredita que o número de ciclovias e ciclofaixas na cidade deve ser ampliado. Mas para que isso aconteça, segundo ela, será necessário um planejamento de trânsito e transporte sério, eficiente e eficaz, em todos os segmentos.“A bicicleta é um transporte rápido, saudável e sustentável, mas muitos ainda acham estranho trocar o carro pela bicicleta, principalmente quando a estrutura oferece pouca segurança e os traçados estão pouco conectados. A bicicleta ainda é vista com muito preconceito. Ou ela é para um esporte ou para a classe social menos favorecida”, observa.
Segundo informações coletadas no site da Prefeitura de Campos, na última década a extensão de ciclovias e ciclofaixas saltou de 10 quilômetros para 51 quilômetros. No entanto, na avaliação da urbanista Lídia Martins, ainda é pouco. O Instituto Municipal de Trânsito e Transportes (IMTT) prepara um levantamento mais detalhado sobre esta infraestrutura e pensa em expansão. “Já designamos uma equipe técnica para vistoriar e confrontar estes dados com a realidade, de modo a estabelecer o marco zero de planejamento, com vistas à possibilidade de melhorias, correções e a sua ampliação, uma vez que está inclusa no escopo do serviço a proposição de novas áreas para a malha cicloviária”, destaca o presidente do IMTT, Renato Siqueira.
Renato lembra que a população campista possui uma relação histórica com a bicicleta. No entanto, reconhece que, para consolidar seu uso amplo e com segurança, é preciso achar os espaços adequados para implantar a infraestrutura de mobilidade necessária. “Não houve preocupação nem planejamento urbano para reservar estes espaços na infraestrutura urbanística, pois as vias públicas são acanhadas e, em muitos casos, como na Rua Tenente Coronel Cardoso, não há meios de promover o alargamento necessário, por exemplo, para a implantação de uma ciclofaixa ou ciclovia”, pontua.
Alguns corredores viários – especialmente os de grande fluxo, chamados arteriais – estão no planejamento do IMTT para a implantação de parte da malha cicloviária. Dentre elas, estão a Avenida Alberto Torres e a Rua Barão de Miracema. “Pensamos, igualmente, na infraestrutura de mobilidade para que haja guarda destas bicicletas, como paraciclos e bicicletários – este precisa de maior espaço por conter elementos como sanitários. De toda forma, estes são alguns dos aspectos que representarão investimentos para os usuários de bicicletas”, explica Renato.
Um ciclista sofre acidente a cada 3,5 dias em Campos
Quando a imprudência e o desrespeito entram na pista, o resultado muitas vezes é catastrófico. Em se tratando de bicicletas, os números provam que nem sempre ciclistas, motoristas e pedestres se entendem. No ano passado, o Hospital Ferreira Machado atendeu 101 ciclistas que se acidentaram no trânsito da cidade, número que se repetiu em 2015 – o que dá a média de um acidente a cada 3,5 dias.
Um caso que ganhou repercussão nacional foi a morte do estudante de intercâmbio belga HadrienThys, 18 anos, na noite de 14 de março de 2012. Ele estava na cidade há cerca de nove meses e foi atropelado por um carro enquanto pedalava na Avenida Arthur Bernardes. Hadrien, que era de Bruxelas e cursava o terceiro ano do ensino médio, chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.
Em 2016, o ciclista Paollo Sales Barreto, 26 anos, morreu no dia 24 de outubro, 13 dias após ser atingido por um ônibus da empresa Campostur. Atleta de ciclismo, ele trafegava pela BR-356, na altura do trevo de Grussaí, no município de São João da Barra. Segundo informou a polícia na época, o atleta, que estava acompanhado de um amigo, tentava fazer o contorno no trevo, quando foi atingido pelo coletivo, que seguia em direção a São João da Barra. O amigo de Paollo não se feriu.
Pedalar pelas calçadas, ultrapassar sinais vermelhos e trafegar na contramão são as irregularidades mais comuns cometidas pelos ciclistas na cidade, segundo a Guarda Civil Municipal, e que contribuem para engrossar as estatísticas de acidentes. O comandante da Guarda, Wyllian Bolkau, explica que a corporação faz um trabalho de conscientização dos ciclistas, orientando-os, mas sem a aplicação de multa. “Quando um de nossos agentes vê um ciclista pedalando no Calçadão, por exemplo, pede para que a pessoa desça da bicicleta e siga empurrando-a. Nós realizamos este trabalho de conscientização”, explica.
Evolução em duas rodas order lioresal
Algumas bicicletas chegam a custar o equivalente a um carro, embora não sejam necessariamente feitas em ouro e cravejadas de diamantes. A fibra de carbono chegou ao mundo das bikes na década de 80. Mais leve que o aço e o alumínio, a fibra deixa o produto mais adequado para quem está em busca de aerodinâmica e desempenho. E mais caro também. O modelo mais simples custa em média R$ 2 mil. Mas um modelo de alta performance pode valer de R$ 30 mil a R$ 80 mil. Sua evolução pode ser vista de outra forma: a bicicleta é um meio de transporte ecologicamente correto, já que não emite gases poluentes. Mais moderno, impossível.
Apesar das vantagens para o meio ambiente e saúde, a substituição dos carros por bicicletas ainda enfrenta resistência dos brasileiros, conforme explica a urbanista Lídia Martins. “As pessoas reclamam muito da falta de tempo, reclamam da falta de saúde, mas não saem da zona de conforto, ou seja, o carro. O trânsito estressa cada vez mais. Com a bicicleta, podemos ganhar tempo, qualidade de vida e saúde. Mesmo se o deslocamento de bicicleta for pequeno, o fato de evitar o estresse com o carro já representa uma melhoria muito grande na qualidade de vida e na mobilidade urbana. Se observarmos quantos carros estão circulando somente com o motorista e pensarmos que essas pessoas poderiam estar numa bicicleta, tiraríamos menos carros da rua. Bom para o trânsito e o meio ambiente agradece”, argumenta Lídia.
O empresário Areno Parente Neto, 30 anos, começou a pedalar para perder peso. Nos três primeiros meses de pedal, eliminou 30 quilos. “Tudo começou com uma brincadeira. Um dia fui fazer uma trilha com uns amigos até uma cachoeira próxima da cidade. Na outra semana resolvi comprar uma bicicleta e levar a sério”, conta, dizendo que se sente melhor. Hoje com 90 quilos, o empresário pedala nos estilos MTB (bike de trilha) e speed (bike de asfalto) seis vezes por semana. Mas prefere pedalar fora da área central, por questões de segurança. “Procuramos estradas mais desertas, até com risco de sermos assaltados. O único lugar que temos para treinar em Campos é na Avenida Arthur Bernardes. Porém, corremos risco de acidentes. Além de a iluminação ser muito ruim, não há nenhuma pista bloqueada para os ciclistas”.
Há perigo também na ciclovia
Há perigo mesmo nas ciclovias, sobretudo quando o espa- ço é ocupado também pelos pedestres. A atleta de jiu-jitsu Estelina Mariana Fernandes Chamoschine, 18 anos, sofreu um acidente quando voltava para casa, na ciclovia da Avenida 28 de Março. Quando ia pedalando para o treino, bateu de frente com um pedestre que atravessou a ciclovia sem olhar para os lados. Quebrou o nariz e estará fora da próxima competição. “Minha sorte foi que estava devagar. No local, há árvores que atrapalham o campo de visão. Gostaria que as pessoas tivessem consciência de que o que falta é respeito entre os pedestres, motociclistas, ciclistas e motoristas. Eu raramente ando em ruas normais, no caminho que faço só pego ciclovias. As pessoas esquecem de fazer o básico que aprendemos desde criança: olhar para os dois lados antes de atravessar”.
Luiz Carlos Freitas Júnior é bancário e, pela oportunidade de praticar exercícios físicos e ter mais qualidade de vida, optou por deixar o carro em casa e ir de bicicleta para o trabalho – um trajeto que dura entre 15 e 20 minutos. “Ganho mais tempo e qualidade de vida. Assim pratico também exercícios físicos e acabo economizando na gasolina e na academia”, diz. A empresa onde trabalha, no Centro de Campos, oferece bicicletário – um estímulo a mais para o transporte sobre duas rodas. Júnior destaca que, ao escolher a bicicleta, também começou a observar a natureza e as paisagens que a cidade oferece, mas que passavam despercebidas quando o trajeto era feito de carro. Na bicicleta do bancário, há também uma garupeira, onde ele leva a filha. “Além de não poluir o ambiente, estarei com a saúde 100 %. Pedalo para viver melhor”.
Algumas dicas para pedalar em segurança
1 – Usar item de segurança. De acordo com o parágrafo VI do artigo 105 do Código de Trânsito Brasileiro, são itens obrigatórios para bicicletas: campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais, e espelho retrovisor do lado esquerdo;
2 – Usar sempre o capacete, apesar de não ser item obrigatório;
3 – Nunca trafegar na contramão;
4 – Respeitar a sinalização de trânsito;
5 – Para quem está começando com a bicicleta, o indicado é pedalar por bairros mais tranquilos, em curtas distâncias, somente para ir se acostumando à lógica dos carros e das ruas.
6 – Usar roupas claras ou chamativas, principalmente quando for pedalar à noite;
7 – Tomar cuidado com a abertura das portas dos carros estacionados;
8 – Procurar ouvir o trânsito, como a aproximação de ônibus e caminhões;
9 – Não pedalar escutando música em fone de ouvido. A audição isolada diminui a percepção do trânsito, que deve ser visto e ouvido;
10 – Não pedalar em zigue-zague, mas sempre em linha reta;
11 – Sempre sinalizar com o braço direito as direções que for tomar, principalmente em cruzamentos e esquinas;